PREPARAÇÃO ESPIRITUAL

Senhor, aqui estou,

sentado à porta de minha tenda,

descansando do trabalho duro,

tentando sentir tua brisa,

acalmando meu corpo e meu espírito,

lembrando tantas idas e vindas…

Acolherei tua Palavra,

como palavra geradora de vida,

mesmo que outros zombem dela

e de tuas promessas.

Aqui estou, Senhor…

Não passes ao largo, sem deter-te.[1]

Maria visita Isabel

³⁹Alguns dias depois, Maria se aprontou e foi depressa para uma cidade que ficava na região montanhosa da Judeia. ⁴⁰Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. ⁴¹Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se mexeu na barriga dela. Então, cheia do poder do Espírito Santo, ⁴²Isabel disse bem alto:

— Você é a mais abençoada de todas as mulheres, e a criança que você vai ter é abençoada também! ⁴³Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?! ⁴⁴Quando ouvi você me cumprimentar, a criança ficou alegre e se mexeu dentro da minha barriga. ⁴⁵Você é abençoada, pois acredita que vai acontecer o que o Senhor lhe disse.

Pe. Daniel Kerber[2]

ü  Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…

Aonde foi Maria? De quem era a casa em que entrou e a quem cumprimentou? Quem se mexeu dentro da barriga da mãe? O que disse Isabel bem alto? Por que Maria é a mais abençoada?

Algumas pistas para compreender o texto:

Depois de anunciar a segunda vinda de Jesus (primeiro domingo) e de escutar João a anunciar a chegada de Jesus (segundo e terceiro domingos), hoje a liturgia aponta para o nascimento, e apresenta-nos Maria, grávida de Jesus, em visita à sua prima Isabel.

O texto continua imediatamente após o anúncio do anjo a Maria e a encarnação do Verbo. No anúncio, o anjo dissera a Maria que Isabel já estava grávida havia seis meses (1.36). Podemos distinguir duas partes no texto: na primeira (vv. 39-41), narra-se a visita de Maria e a reação de Isabel e de seu bebê; na segunda (vv. 42-45), encontram-se as palavras de Isabel a Maria.

Depois de escutar que o anjo lhe anuncia a gravidez de Isabel, Maria vai depressa ver sua prima. Quando lemos estas palavras e sabemos que Isabel é idosa (1.36), podemos entender que Maria vai ajudar sua parente; de fato, permanece com ela até que dê à luz (cf. 1.56: “Maria ficou mais ou menos três meses com Isabel e depois voltou para casa”). Contudo, qual é a ajuda, qual é o serviço que Maria presta a Isabel? Certamente a terá ajudado com as coisas da casa, principalmente por causa a gravidez avançada de Isabel. No entanto, a reação de Isabel à saudação de Maria e suas próprias palavras nos indicam outra maneira de entender o serviço que Maria lhe dispensa.

A primeira coisa que se diz é que quando Isabel ouviu a saudação de Maria, “a criança se mexeu na barriga dela. Então, cheia do poder do Espírito Santo…” (v. 41). De algum modo, ali se mostra a relação entre o precursor, João Batista, que pula de alegria no ventre de sua mãe, e Jesus, seu primo, que está oculto no seio de Maria. João está “reconhecendo” Aquele a quem ele vai anunciar.

Isabel fica cheia do Espírito Santo. De fato, a imagem de estar “cheio do Espírito Santo” vai-se repetir várias vezes no início do evangelho, como tema preferido de Lucas (João Batista, 1.15; Maria, 1.35; Zacarias, 1.67; Simeão, 2.25), e o mesmo vai acontecer no início dos Atos dos Apóstolos, a segunda obra de Lucas (2.4). É esse mesmo Espírito que nos permite reconhecer na Palavra o próprio Deus que nos fala e nos comunica sua mensagem de salvação.

Em seguida, nas palavras de Isabel, vê-se que o maior serviço que Maria presta à sua prima é “levar-lhe Jesus” em seu seio. Não se diz que Maria tenha avisado de algum modo a Isabel; no entanto, ela “reconhece” o salvador no seio de Maria: “Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?!” (v. 43). Todo o texto culmina com uma exultação de alegria: Isabel alegra-se, a criança salta de alegria em seu seio e a própria Maria é declarada feliz.

No início do Evangelho, já se anuncia a feliz notícia da vinda do Salvador; com efeito, o texto conclui-se com Maria cantando os louvores do Senhor: “A minha alma anuncia a grandeza do Senhor. O meu espírito está alegre por causa de Deus, o meu Salvador” (1.47ss).

Com a escuta deste evangelho, a liturgia apresenta-nos a oportunidade de contemplar um gesto terno e carregado de misericórdia de Maria. Ela vai acompanhar sua prima no período final de sua gravidez e, com isso, constatar a obra misericordiosa de Deus. Não é fácil fazer um gesto de misericórdia para nossos irmãos, pois nos faltam ideias e recursos; é preciso esforçar-nos para deixar de lado o que nos limita e dar a alguém o de que ele necessita, como diz São Francisco em sua oração: “Fazei que eu procure mais amar do que ser amado”. Recordemos que começamos o Ano Santo da Misericórdia, e Maria é seu grande exemplo.

O Papa Francisco também nos apresenta o gesto de Maria como convite para a vida missionária:

“Maria nos ensina, com a sua existência, o que significa ser discípulo missionário. Cada vez que rezamos o Ângelus, recordamos o acontecimento que mudou para sempre a história dos homens. Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria que se tornaria a Mãe de Jesus, do Salvador, Ela – mesmo sem compreender todo o significado daquele chamado – confiou em Deus e respondeu: ‘Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1.38). Mas, o que fez Maria logo em seguida? Após ter recebido a graça de ser a Mãe do Verbo encarnado, não guardou para si aquele presente; sentiu-se responsável e partiu, saiu da sua casa e foi, apressadamente, visitar a sua parente Isabel que precisava de ajuda (cf. Lc 1.38-39); cumpriu um gesto de amor, de caridade e de serviço concreto, levando Jesus que trazia no ventre. E se apressou a fazer este gesto!

“Eis aqui, queridos amigos o nosso modelo. Aquela que recebeu o dom mais precioso de Deus, como primeiro gesto de resposta, põe-se a caminho para servir e levar Jesus. Peçamos a Nossa Senhora que também nos ajude a transmitir a alegria de Cristo aos nossos familiares, aos nossos companheiros, aos nossos amigos, a todas as pessoas. Nunca tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! Sair e ir com coragem e generosidade, para que cada homem e cada mulher possa encontrar o Senhor.”[3]

Continuemos nossa meditação com estas perguntas:

Tenho uma intenção especial para realizar neste Ano da Misericórdia? Estou atento às necessidades das pessoas mais próximas? Quero partilhar o que Deus me deu? Poderia alguém encontrar-se com Cristo por meio de mim e do que faço?

Ó Deus, todo-poderoso,

que inspirastes à virgem Maria sua visita a Isabel,

levando no seio o vosso Filho,

fazei-nos dóceis ao Espírito Santo,

para cantar com ela o vosso louvor.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo,

Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém[4]

Senhor, tal como tua Mãe Maria, quero viver a misericórdia com os que dela precisarem.

Irei visitar um parente enfermo, demonstrar-lhe-ei, com meus cuidados,

a presença de Jesus em minha vida.

“Mãe minha, com a prática fiel das virtudes mais humildes e simples,

tornaste visível a todos o caminho reto do Céu”

Santa Teresa de Lisieux