Conexão uterina (Lucas 11, 27-28)
8 de outubro de 2016Nosso sinal é Jesus
10 de outubro de 2016“Cantem uma nova canção a Deus, o Senhor,
pois ele tem feito coisas maravilhosas”.
Sl 98.1
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vinde, Espírito Criador,
visitai as almas dos vossos fiéis
e enchei da graça divina
os corações que criastes!
Vós sois o nosso Consolador,
dom do Deus Altíssimo,
fonte viva, fogo, caridade,
e unção espiritual.
Vós derramais sobre nós os sete dons,
Vós, o dedo da mão de Deus,
Vós o prometido do Pai,
Vós que pondes nos nossos lábios o tesouro da vossa palavra.
Acendei com a vossa luz a nossa inteligência,
infundi o vosso amor nos nossos corações,
e com o vosso perpétuo auxílio,
fortalecei a nossa débil carne.
Afastai de nós o inimigo,
dai-nos prontamente a paz,
sede vós próprio o guia,
e seguindo vossos caminhos,
evitaremos todo o mal.[1]
TEXTO BÍBLICO: Lucas 17.11-19
Jesus cura dez leprosos
11Jesus continuava viajando para Jerusalém e passou entre as regiões da Samaria e da Galileia. 12Quando estava entrando num povoado, dez leprosos foram se encontrar com ele. Eles pararam de longe 13e gritaram:
— Jesus, Mestre, tenha pena de nós!
14Jesus os viu e disse:
— Vão e peçam aos sacerdotes que examinem vocês.
Quando iam pelo caminho, eles foram curados. 15E, quando um deles, que era samaritano, viu que estava curado, voltou louvando a Deus em voz alta. 16Ajoelhou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. 17Jesus disse:
— Os homens que foram curados eram dez. Onde estão os outros nove? 18Por que somente este estrangeiro voltou para louvar a Deus?
19E Jesus disse a ele:
– Levante-se e vá. Você está curado porque teve fé.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Pe. Daniel Kerber [2]
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Aonde ia Jesus? Por quais regiões ele passou? Quantos homens saíram da aldeia? Que doença tinham? O que gritavam para Jesus? Que ordem lhes deu Jesus? O que aconteceu enquanto iam pelo caminho? O que fez o homem da Samaria, o qual fazia parte dos dez? O que Jesus pergunta e o que lhe diz esse homem?
Algumas pistas para compreender o texto:
Jesus continua seu caminho para Jerusalém, viagem que teve início em Lc 9.51; nesta passagem, saem ao seu encontro dez homens doentes, com lepra. O texto tem uma introdução, que apresenta a circunstância, o lugar e as personagens (vv. 11-12). De longe, os homens leprosos pedem a Jesus que tenha pena deles. Em seguida, temos a intervenção de Jesus, que os envia aos sacerdotes; enquanto iam pelo caminho, ficaram curados (vv. 13-14). Um deles retorna louvando e bendizendo a Deus, e Jesus surpreende-se de que seja somente este a voltar, e o despede em paz (vv. 15-19).
No tempo de Jesus, a lepra era toda doença visível da pele (cf. Levítico 13), e o pior não era a enfermidade física, mas a conotação social, pois o leproso devia abandonar a comunidade e não podia entrar nas cidades: “Uma pessoa que sofrer de uma doença contagiosa da pele deverá vestir roupas rasgadas, deixar os cabelos sem pentear, cobrir o rosto da boca para baixo e gritar: ‘Impuro, impuro!’” (Lv 13.45). O ser expulso da comunidade era uma das dimensões mais dolorosas desta enfermidade. Por isso, os doentes do relato ficaram longe, porque não podiam aproximar-se das pessoas sadias. De longe, gritam para que Jesus tenha pena deles.
Jesus responde-lhes que vão apresentar-se aos sacerdotes. Isto significava que estavam curados, pois os sacerdotes é que podiam declarar se tinham ou não lepra (cf. Lv 13.2ss).
Enquanto iam pelo caminho, todos ficam curados, mas somente um deles, um samaritano, volta louvando a Deus e se prostra diante de Jesus para dar-lhe graças. O fato de que fosse um samaritano tampouco é casual. Samaria, região que constituía a passagem entre a Galileia e a Judeia, era considerada como terra hostil pelos judeus, que tinham os samaritanos na conta de hereges, pois não seguiam todas as tradições judaicas. Também em Lc 10.25-37, Jesus vai contrapor a atitude de um sacerdote e de um levita à do “bom samaritano”.
A reação de Jesus tem um claro colorido didático. Jesus sabia que os dez tinham sido curados, por isso se surpreende que apenas um tenha voltado para reconhecer, agradecido, sua cura. Não é que Jesus precise do agradecimento, mas o dar graças faz bem também a quem agradece, e Lucas quer ensinar a seus leitores a importância do agradecimento. De fato, o texto tem um detalhe que pode não ser percebido na tradução.
No v. 14, diz-se que os homens leprosos “ficaram curados” enquanto iam pelo caminho, e no v. 17, repete-se a mesma expressão; no entanto, quando Jesus responde ao agradecimento do samaritano, utiliza outra expressão, e lhe diz literalmente: “Você está curado porque teve fé”. Isto aprofunda totalmente a cura realizada. Todos ficaram curados de sua enfermidade, mas este que reconheceu o poder de Deus e voltou louvando-o e dando graças a Jesus, experimentou não somente a cura física, mas também alcançou a salvação pelo reconhecimento e pela gratidão.
O que o Senhor me diz no texto?
Não resta dúvida de que quando oramos com fé, Deus atende misericordiosamente nossos desejos, e se é para nosso bem e de acordo com sua vontade, certamente veremos nossos anseios se tornarem realidade. No entanto, Deus ensina-nos a fazer as coisas bem feitas. Em primeiro lugar, é preciso saber pedir e, em segundo, é preciso saber agradecer. A fé e o agradecimento são decisivos em nossa relação com Deus, nosso Pai, e com nossos irmãos. Cumpre enfatizar que o agradecimento é crucial para se alcançar a salvação.
Partilhemos a seguinte reflexão, feita pelo Papa Bento XVI: “O Evangelho deste domingo apresenta Jesus que cura dez leprosos, dos quais só um, samaritano e portanto estrangeiro, volta para lhe agradecer (cf. Lc 17.11-19). A ele o Senhor diz: ’Levanta-te e vai. Salvou-te a tua fé’ (Lc 17.19). Esta página evangélica convida-nos a uma dupla reflexão.
“Antes de tudo faz pensar em duas grandes curas: uma mais superficial, refere-se ao corpo; a outro, mais profunda, toca o íntimo da pessoa, o que a Bíblia chama ‘coração’, e dali irradia-se a toda a existência. A cura completa e radical é a ‘salvação’. A mesma linguagem comum, distinguindo entre ‘saúde’ e ‘salvação’, ajuda-nos a compreender que a salvação é muito mais que a saúde: de facto, é uma vida nova, plena, definitiva. Além disso, aqui Jesus, como noutras ocasiões, pronuncia a expressão: ‘Salvou-te a tua fé’. É a fé que salva o homem, restabelecendo-o na sua relação profunda com Deus, consigo mesmo e com os outros; e a fé expressa-se no reconhecimento.
Quem, como o samaritano curado, sabe agradecer, demonstra que não considera tudo como um direito, mas como um dom que, também quando chega através dos homens ou da natureza, provém ultimamente de Deus. Portanto a fé exige que o homem se abra à graça do Senhor; reconheça que tudo é dom, tudo é graça. Que tesouro se esconde numa pequena palavra: ‘obrigado!’”.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Lembro-me dos pedidos que fiz ao Senhor? Todos tiveram resposta ou penso que alguns não foram ouvidos? O que sinto quando isto acontece? Tenho facilidade em agradecer? E quando me acontece o que não pedi, agradeço também?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
O que quiseres, Senhor,
seja o que quiseres.
Se quiseres que, entre as rosas, eu ria
até os resplendores matinais da aurora,
seja o que quiseres.
Se quiseres que, entre os espinhos, eu sangre,
até às insondáveis sombras da noite eterna,
seja o que quiseres.
Obrigado, se quiseres que veja,
obrigado se quiseres cegar-me,
obrigado por tudo e por nada.
O que quiseres, Senhor,
seja o que quiseres.[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Obrigado, Senhor, por curar-me e salvar-me!
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Em um momento em família – pode ser uma refeição –, convido a todos a fazer uma oração de ação de graças pelos alimentos e porque, como família, temos saído, juntos, de situações difíceis nas quais Deus nos deu seu amparo; do mesmo modo, agradeço pelas situações que ainda precisamos resolver, pois são elas que nos aproximam de Deus.
“Para mim, a oração é um impulso do coração, um simples olhar para o céu, um grito de agradecimento e de amor tanto nas dores quanto nas alegrias.”
Santa Madre Teresa de Calcultá
[1] Oração diária de são João Paulo II (http://www.acidigital.com/noticias/o-espirito-santo-ajudou-sao-joao-paulo-ii-com-matematica-e-comecou-grande-devocao-14125/).
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Papa Bento XVI, Angelus, 14 de outubro de 2007 (http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2007/documents/hf_ben-xvi_ang_20071014.html)