Parábola das virgens! (Mt 25, 1-13)
1 de setembro de 2017“Venham, fiquemos de joelhos e adoremos o Senhor. Vamos nos ajoelhar diante do nosso Criador”.
3 de setembro de 2017“Naquele tempo, Jesus contou esta parábola a seus discípulos:
‘Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um;
a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou.
O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco.
Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois.
Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra,
e escondeu o dinheiro do seu patrão.
Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados.
O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: `Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O patrão lhe disse: `Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’
Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: `Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O patrão lhe disse: `Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco,
eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’
Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: `Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O patrão lhe respondeu: `Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo onde não semeei? Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence.’
Em seguida, o patrão ordenou: `Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil,
jogai-o lá fora, na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes!’”
Na oração de hoje, peçamos ao Pai a graça de viver os dons e talentos que Ele nos deu, com a força do Espírito.
Jesus conta a seus discípulos uma parábola. Como discípulo(a), sentar a seus pés e escutar com o coração. Ler a parábola toda mais de uma vez e deixar que ressoe. Perceber os pontos que mais nos tocam.
Outra tradução diz que o homem chamou seus empregados para “tomarem conta da sua propriedade”. Santo Inácio orava ao Pai: “Tudo é vosso. Disponde pela vossa vontade; dai-me apenas, Senhor, o vosso amor e graça que isso me basta!” Por outro lado, quantas vezes ouvimos e até falamos a frase: “A vida é minha e eu faço dela o que eu quiser!”
– Com qual das duas nos identificamos mais no nosso modo de pensar, sentir e viver, no nosso dia a dia?
– Vivemos com a consciência de que tudo é de Deus, tudo nos foi dado em administração?
“A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade.” Quantas vezes nos julgamos incapazes! Incapazes para os desafios que a vida nos apresenta; incapazes para o serviço da Igreja ou da sociedade em algo ao qual somos chamados; às vezes incapazes até para a felicidade. Quantas vezes não reconhecemos nossos dons e talentos, nem vemos em nós a capacidade para vivê-los, já que nos foram dados de acordo, e ninguém nos conhece tanto como Deus. Comparamo-nos com os demais, achamos que eles têm e nós não, queríamos o talento do outro e não vemos valor no nosso e deixamos passar oportunidades de nos realizar, vivenciando, cultivando, entregando o que temos e somos.
– Reconheço minha vida e o que sou como um bem? (e bem divino)
– Que talentos me foram dados?
– O que faço com eles?
– Como Santo Inácio, tenho a experiência de dizer ao Senhor “Tudo é vosso, disponde pela vossa vontade”? Como me senti nesses momentos? O que impede que eles sejam mais frequentes? Será que me falta, como ele também, pedir e beber mais do amor e da graça de Deus?
Os empregados que receberam cinco e dois talentos trabalharam com eles e os dobraram, lucraram. O que recebeu um só “saiu, cavou um buraco na terra,
e escondeu o dinheiro do seu patrão.” Depois disso vem toda a cena do acerto de contas com o patrão, que costuma nos desconcertar, por isso ler mais de uma vez e deixar-nos tocar, perceber como nos sentimos.
Alguns detalhes são cruciais para nossa compreensão, que só pode ser existencial. Primeiro é reconhecer em nossa própria vida: recordar momentos em que vivemos nossos dons e talentos, os empregamos. São momentos de crescimento para nós, que nos podem fazer compreender que “a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância”. Reconhecer que a alegria que sentimos nesses momentos é participação na alegria do Senhor. É nele que podemos viver isso, com a graça do Espírito, quer O tenhamos percebido na hora, quer não. Mas agora temos a oportunidade.
Provavelmente já vivenciamos também situações nas quais, por diferentes motivos – preguiça, má vontade, medo –, escondemos o talento no chão. Como nos sentimos nessas situações? O que parece um castigo nessa parábola nada mais é do que a descrição de um estado existencial que acontece quando enterramos continuamente nossos talentos (e experimentamos um pouco a cada vez que o fazemos) – “fora, na escuridão; choro e ranger de dentes”.
Só nos realizamos sendo quem nós somos; e o que somos expressa-se em nossos dons e talentos. Assim, só quando os vivenciamos, os entregamos é que podemos ser felizes, na vida iluminada, alegre e em crescimentos que tanto desejamos. Não é de fora que ela nos virá, não é das coisas, nem dos aplausos ou likes, mas dessa vivência. E geralmente descobrimos os dons e talentos que temos quando a necessidade de alguém ou de uma situação nos faz empregar algo que nem sabíamos que tínhamos. Por isso, uma vida fechada em si mesmo dificilmente chegará em seu máximo potencial.
O empregado da parábola expressou a imagem que tinha do patrão – “homem severo” – e seus sentimentos por causa dela – “fiquei com medo”. A raposa de Exupery disse ao Pequeno Príncipe que, se ele a cativasse: “Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.” Pedir ao Pai a graça de que nossa oração diária seja um processo de amizade, de deixar-nos cativar por Jesus, para que a sua voz, na vida, nos faça sair de nós mesmos e entregar os dons e talentos, mesmo que as situações nos pareçam difíceis. Que a oração purifique nossas falsas imagens de Deus que nos provocam medo.
O patrão atribuiu ao empregado a preguiça. Em algumas situações ela nos pega. Em outras, não a reconhecemos, afinal, trabalhamos tanto, temos tantos afazeres, nem nos sobra tempo… no entanto, a grande tarefa da vida, a que realmente importa, é realizar o que somos. Será que nela não deixamos a desejar e acabamos no buraco?
Pedir a graça de ter luz na oração:
– O que me ajuda a viver meus dons e talentos? Quais são as oportunidades que tenho agora para isso? Ou quais preciso criar e como? Que escolhas fazer?
– Quais são os meus impedimentos? O que pode me ajudar a vencê-los?
Olhando da perspectiva do fim da nossa vida, como gostaríamos de ter vivido? O que gostaríamos de ter realizado?
Senhor, “dai-me somente o teu amor e graça, e isso me basta”. Aumenta a minha fé para reconhecer que reconhecer que Você já colocou tudo nas minhas mãos e o amor e graça que me dá a cada dia são suficientes para começar já a fazer render meus dons e talentos vivenciando-os, entregando-os ao serviço.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei