“— Ainda tenho muitas coisas para lhes dizer, mas vocês não poderiam suportar isso agora. Porém, quando o Espírito da verdade vier, ele ensinará toda a verdade a vocês. O Espírito não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que ouviu e anunciará a vocês as coisas que estão para acontecer. Ele vai ficar sabendo o que tenho para dizer, e dirá a vocês, e assim ele trará glória para mim. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso eu disse que o Espírito vai ficar sabendo o que eu lhe disser e vai anunciar a vocês.”

Na cultura imediatista em que nos encontramos e da qual estamos imbuídos, queremos tudo de uma vez. Pra ontem, de preferência! É assim com a comida, com os bens de consumo e até com a carreira. A paciência dos nossos pais de perseverar num trabalho e conquista a confiança pela fidelidade, passo a passo, dia a dia, já não acompanha a geração atual. Entramos com esse nosso espírito na vivência da fé. Queremos tudo de uma vez, e às vezes nos são oferecidas experiências na qual chegamos a um estado elevado (não seria alterado?) em 5 minutos. Podemos desconfiar delas.

A fé é um processo, tal como a vida – se a olharmos de forma real e não ilusória – e a humanização. Fazemo-nos humanos a cada gesto, a cada escolha, a cada interação com o outro. Acolhemos o dom da fé e vivenciamos a relação de confiança e intimidade com Deus que nos leva à entrega também gradualmente.

De uma vez, como o próprio Jesus diz neste Evangelho, não poderíamos suportar. Mas não precisamos ter pressa. Foi-nos dado um companheiro de caminho, o “Espírito da verdade”, que nos conduz a cada passo. Nos conduz a dar ouvidos à Palavra do Pai, para a glória de Jesus, que é a vida plena do ser humano – nossa e de cada pessoa. A luz que o Espírito nos dá é para promover a vida.

– Que experiência tenho dessa luz no meu dia a dia?

– Como ela me conduz nas opções do trabalho, dos estudos, da família, para a vida verdadeira?

José Antonio Pagola, em seu livro “O caminho aberto por Jesus”, nos ensina que “a conversão de que nós cristãos mais necessitamos hoje é ir passando de uma adesão verbal, rotineira e pouco real a Jesus para a experiência de viver arraigados em seu ‘Espírito da verdade’.” Estamos dispostos a ouvir a verdade do Evangelho?

Jesus “busca a verdade de Deus. Só crê nessa verdade, a única que pode humanizar-nos. Vai ao fundo das coisas. Não fica nas aparências. Vê as pessoas como Deus as vê. Capta seus medos, sofrimentos e aspirações como Deus os capta. Busca o Reino de Deus e a sua justiça. É nisto que consiste para Ele a verdade.” Como essa vivência de Jesus me toca? Em que ela inspira a minha?

“Precisamos de alguém que nos faça lembrar a verdade de Jesus. Se a esquecemos, não saberemos quem somos nem o que estamos chamados a ser.” Que experiências tenho de confundir o caminho do chamado? E que experiências tenho do Espírito, tocando-me interiormente, trazer-me de volta a ele?

“O que o Espírito do Ressuscitado faz conosco é abrir nosso coração ao encontro pessoal com Jesus como alguém vivo. Só esta relação afetiva e cordial com Jesus Cristo é capaz de transformar-nos e gerar em nós uma maneira nova de ser e de viver.” Vamos pedir ao Espírito que nos introduza de forma vivificada nessa relação, e nos dê a graça da verdade que liberta e humaniza. Amém.

Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei