Vida realizada ou vida no buraco? (Mateus 25, 14-30)
2 de setembro de 2017“Quero ver-te no Templo; quero ver como és poderoso e glorioso”.
3 de setembro de 2017PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito de Jesus, Espírito Santo de Deus,
força de vida nova, encoraja-nos,
dá-nos esperança,
constrói um coração novo em cada um,
para que façamos juntos a grande fraternidade
sonhada, vivida, oferecida pela entrega de Jesus
e confirmada pelo Pai na Ressurreição.
Vem a nós, para que aprendamos a ser comunidade,
para que mudemos de vida, para que sigamos Jesus.
Vem, Espírito, vem!
TEXTO BÍBLICO: Mt 18.15-20
O irmão que peca
15 — Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre-lhe o seu erro. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois. Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão. 16Mas, se não ouvir, leve com você uma ou duas pessoas, para fazer o que mandam as Escrituras Sagradas. Elas dizem: “Qualquer acusação precisa ser confirmada pela palavra de pelo menos duas testemunhas.” 17Mas, se a pessoa que pecou não ouvir essas pessoas, então conte tudo à igreja. E, se ela não ouvir a igreja, trate-a como um pagão ou como um cobrador de impostos.
O poder de permitir e de proibir
18 — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o que vocês proibirem na terra será proibido no céu, e o que permitirem na terra será permitido no céu.
19 — E afirmo a vocês que isto também é verdade: todas as vezes que dois de vocês que estão na terra pedirem a mesma coisa em oração, isso será feito pelo meu Pai, que está no céu. 20Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com eles.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
O que se deve fazer se um irmão pecar? E se continua a pecar? Por que deveria ser tratado como um pagão? O que acontece com o que é permitido e com o que é proibido? Quantos devem juntar-se para pedir a mesma coisa? E onde está Jesus?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
A passagem bíblica da correção fraterna é composta por duas partes. Na primeira (vv. 15-17), apresenta-se um procedimento pastoral para converter o irmão que peca, ao passo que na segunda parte (vv. 18-20), indicam-se as motivações teológicas de tal prática.
O texto começa indicando os passos concretos que se devem dar na comunidade quando um “irmão peca”. Jesus parte da possibilidade real do pecado de um “irmão”, ou seja, de um cristão membro da comunidade. O conceito de pecado, aqui, assemelha-se ao do Antigo Testamento, onde está claro que todo pecado, toda ofensa à Lei de Deus, afeta toda a comunidade dos que creem e merece ser corrigida. Por exemplo, em Levítico 1917, lemos: “Não guarde ódio no coração contra outro israelita, mas corrija-o com franqueza para que você não acabe cometendo um pecado por causa dele”.
Então, o primeiro passo que deve dar aquele que percebeu o pecado de um irmão é ir até ele e repreendê-lo em “particular” (o texto grego diz literalmente “entre ti e ele apenas”). Esta repreensão outra coisa não é senão mostrar ao irmão o seu erro. Se o irmão aceita seu pecado, ou seja, se escuta a repreensão, aquele que o repreendeu terá ganhado um irmão para si e para a comunidade. Esta primeira instância está marcada pela relação irmão-irmão, o que demonstra a responsabilidade de uns para com os outros: ninguém deve sentir-se alheio ao outro. Em seguida, Jesus considera a possibilidade de que o irmão não reconheça seu pecado e, por conseguinte, não escute/aceite a repreensão feita privadamente pelo irmão. Neste caso, o irmão que advertiu do pecado deve buscar outros dois ou três da comunidade, como testemunhas da correção fraterna. As sucessivas admoestações que devem ser feitas, incialmente a sós e, em seguida, na presença de duas testemunhas, inserem-se nas regras atestadas no Antigo Testamento (cf. Deuteronômio
19,15: “Quando alguém for acusado de ter cometido um crime, seja qual for, uma testemunha não basta; é preciso ter pelo menos duas testemunhas para confirmar uma acusação”.
Se o irmão que pecou continua sem reconhecer sua falta, sem escutar, então recorre-se à terceira instância: a comunitária ou eclesial (ekklesía – diz o texto grego). Caso ele ignore a correção da igreja-comunidade, segue-se, pois, a sanção. Ou seja, se o pecador nega seu pecado diante da evidência de toda uma comunidade, esta deve tratá-lo como a alguém que desconhece a Deus em sua vida e não pertence à comunidade: um pagão ou um publicano.
Esta maneira de tratar o irmão pecador e sua relação com seu próprio pecado é uma clara demonstração da paciência que a comunidade deve exercer com tal irmão. O princípio é esgotar todas as instâncias possíveis de correção antes de tomar uma medida extrema.
A finalidade desta passagem de pastoral fraterna não é a crítica ou a acusação. Trata-se de ganhar o irmão para a comunidade, ou seja, ganhá-lo de novo como irmão, como filho de Deus e membro da comunidade. O poder de “proibir e permitir” que aqui se outorga aparentemente a toda a comunidade ou “ekklesía” em seu conjunto é praticamente a mesma que se concedeu a Simão Pedro. Este fato confere um peso enorme e um alcance transcendente à decisão que a comunidade toma seguindo os conselhos de Jesus.
Nos últimos versículos, encontramos uma declaração solene que faz referência à “força” da comunidade ou irmandade. De fato, primeiro se ensina que se duas pessoas se juntam no que querem pedir em oração, alcançarão do Pai o que pedem. Ou seja, o Pai leva muito em conta o caráter “fraterno” ou “comunitário da oração. E ainda mais, Jesus promete estar presente onde houver dois ou três reunidos em seu nome. Estes versículos, de certo modo, explicam o poder da comunidade de proibir e de permitir. Não se trata de um capricho nem de uma arbitrariedade, mas sim fruto de uma comunidade que reza em harmonia e que goza da presença do Senhor em seu meio.
O que o Senhor me diz no texto?
O Papa Bento XVI convidou-nos a recuperar esta prática tão evangélica da correção fraterna e a fazê-la segundo o mesmo espírito do evangelho.
“O fato de ‘prestar atenção’ ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa ao bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: ‘Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber (Pr 9.8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18.15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5.11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de ‘corrigir os que erram’. É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo
Paulo: ‘Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado’ (Gl 6.1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que ‘sete vezes cai o justo’ (Pr 24.16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1.8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22.61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Como devo agir quando vir um irmão pecar? Alguém já me corrigiu fraternalmente? Já o fiz? Fui testemunha de que a oração mais eficaz é aquela feita em comunidade? Sei pedir a outros que rezem por minhas necessidades? Oro pelas necessidades de meus irmãos ou quando alguém me pede que o faça por algo especial?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Meus amigos me quem bem, Senhor…
No crisol do amor tornado gesto e palavra,
meus amigos me corrigem, Senhor, me ajudam a melhorar,
me mostram meus lados obscuros, me ensinam a mudar.
Porque me querem bem, comentam comigo meus erros,
me levantam de minhas quedas, me ajudam a superar
conflitos e dificuldades. Com eles, conto sempre
e por isso te dou graças.
Ele me lembram tua presença, Bom Pai, Deus da Vida.
Tua presença cheia de luz para minha vida,
que me revela minha própria identidade,
que me mostra novas possibilidades e caminhos por percorrer.
Luz que me ajuda a discernir, a conhecer minhas fraquezas,
e a buscar melhorar no crisol da confiança
e da correção fraterna.
Agradeço-te, Senhor,
por meus amigos.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Senhor, que nossa oração comum nos fortaleça no caminho da correção fraterna“.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Busco um amigo e lhe peço que me ajude a corrigir um erro que ele tenha percebido em mim. De igual modo, com caridade e prudência, pratico a correção fraterna com algum irmão que se tenha afastado ou esteja a afastar-se do caminho do Senhor.
“Depois de ter cometido tantos pecados,
à alma infeliz não resta outro remédio senão a confissão.” Santo Antônio de Pádua