Mulher, estás livre da tua doença.
26 de outubro de 2015O poder da oração (Lc 6,12-19)
28 de outubro de 2015Jesus disse:
— Com o que o Reino de Deus é parecido? Que comparação posso usar? Ele é como uma semente de mostarda que um homem pega e planta na sua horta. A planta cresce e fica uma árvore, e os passarinhos fazem ninhos nos seus ramos.
Jesus continuou:
— Que comparação poderei usar para o Reino de Deus? Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura em três medidas de farinha, até que ele se espalhe por toda a massa.
No final do mês de maio deste ano, plantei oito sementes de pinha em quatro vasinhos, duas em cada um. Eram sementes das pinhas que saboreio, com enorme prazer, na casa de minha mãe.
Ao contá-la que as havia plantado, ela desconfiou da possibilidade de as sementes vingarem e me disse que minha irmã também havia plantado, mas as sementes não brotaram.
Continuei cuidando das sementes nos vasinhos. Viajei durante o mês de julho e deixei quem cuidasse delas, aguando sempre. Voltei da viagem no início de agosto, fui olhá-las e nada de brotarem! O tempo foi passando e nada acontecia. Eu começava a pensar que aquelas sementes, como desconfiava minha mãe, não iriam vingar. Renovei minha esperança e disse pra mim: vou esperar, pelo menos, até o final do ano. Mas que alegria, quando, no início de outubro, em três dos quatro vasos, surgiram os brotos tão esperados. Em um deles, surgiram dois brotos, ou seja, as duas sementes brotaram! Foram necessários quatro meses de espera. Nunca havia esperado tanto tempo para que uma semente brotasse.
O trecho do evangelho de hoje me fez lembrar dessa minha experiência recente, porque Jesus propõe a experiência do plantio de uma semente de mostarda que se transforma em uma árvore, para nos ajudar a compreender a experiência do Reino de Deus.
Orando com estas palavras de Jesus e lembrando da minha experiência, posso compreender de uma forma muito concreta e palpável, que Deus reina em um mundo “escondido”, um mundo com o qual somente temos contato quando nos permitimos aprofundar em nós mesmos e perceber em nosso coração o lugar do reinado de Deus.
Jesus, ao ser inquirido por Pilatos, diz-lhe: “O meu Reino não é deste mundo! Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus seguidores lutariam para não deixar que eu fosse entregue aos líderes judeus. Mas o fato é que o meu Reino não é deste mundo!” (Jo 18, 36).
Assim, percebo que de fato Deus toca este mundo pelas nossas mãos, pelas nossas ações, quando elas encarnam o fruto da semente de amor, cuidada por Ele.
Neste ponto, podemos parar um pouco e, no silêncio, lembrarmo-nos das sementes que já brotaram em nosso coração e que sabemos terem sido fecundadas e trabalhadas por Deus. Agradecer por estas sementes que floresceram e que, muitas vezes, assim como aconteceu com as sementes de pinha que plantei, demoraram, quase nos fizeram desanimar, mas, por fim, deram frutos.
Continuando na oração, percebo também que seguir Jesus, seus exemplos e ensinamentos, é viver plantando sementes de amor, tanto em nosso coração, como no coração de todos que nos rodeiam. Todos os dias, aguar com muita oração e confiar que Deus está trabalhando, assim como a natureza trabalhou: a terra, a água e as sementes que brotaram.
Jesus certa vez disse que, assim como Seu pai, Ele também trabalha sempre (Jo 5,17). Ora, precisamos aumentar nossa sensibilidade para perceber este trabalho contínuo de Deus. Creio que esta percepção é muito importante para não deixarmos nossa fé se abalar quando atravessarmos noites escuras. Saber que, mesmo que se passe muito tempo, os longos quatro meses para a semente da pinha, mesmo que não consigamos perceber nada, como eu não percebia o que acontecia sob a terra, Deus está trabalhando e, em algum momento, perceberemos o florescer das sementes plantadas.
Por último, a oração de hoje também me faz contemplar como Deus busca o que é mais frágil aos nossos olhos para mostrar todo seu poder, toda a sua força. Quando comparamos a árvore da mostarda com a pequena e frágil semente que lhe deu origem, podemos compreender todo o poder de criação e transformação do Reino de Deus.
Jesus quer nos dar a dimensão de como o Reino de Deus multiplica tudo o que é colocado sob seu cuidado.
Às vezes, é muito difícil para nós acreditarmos que nossas pequenas e frágeis ações de cada dia possam vir a transformar situações de injustiça, de ódio e de discriminação, dentre outras tão intensas que costumamos encontrar à nossa volta. Porém, é com pequenas sementes de amor que plantamos nesses terrenos que possibilitamos o trabalho de Deus.
Há poucos dias, li um artigo que me impactou profundamente e que nos pode ajudar na oração de hoje. O artigo conta um pouco da biografia de Arno Michaelis, um skinhead americano que, em sua juventude, feriu gravemente pessoas inocentes. Tudo por questões de ódio às minorias étnicas. Com o tempo, esse ódio se estendeu também a todos os brancos que não agiam como ele. Hoje, ele é um convertido e lidera uma ONG que atua também no Brasil para melhorar as relações entre as raças. Para mim, foi impactante ler sua afirmação de que a bondade das pessoas que ele odiava é que o levou a mudar. Um dos casos, contados por ele, que mais me chamou a atenção, foi o de um judeu que lhe deu emprego, dono de uma estamparia de camisetas, narrado assim: “Apesar de eu estar portando uma suástica dentro da fábrica dele (Arno tinha a suástica tatuada no corpo), e apesar de eu tentar recrutar todos os brancos que trabalhavam comigo, (o chefe) se recusava a me demitir e insistia que eu era um menino bom e só precisava de uma chance.”
Pois bem, é assim, com as pequenas sementes de amor plantadas e regadas de oração, que Deus trabalha em seu Reino e vai transformando a face da terra.
Mãezinha querida, ajude-nos também a dizer sim para, na fragilidade de nossas vidas, abraçarmos a vontade de Deus e nos transformarmos em semeadores de Seu Reino. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte