“Levante-se, pegue a sua cama e ande!”
28 de março de 2017O amor nos leva à vida (Jo 5,31-47)
30 de março de 2017“Então Jesus disse a eles:
— O meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho.
E, porque ele disse isso, os líderes judeus ficaram ainda com mais vontade de matá-lo. Pois, além de não obedecer à lei do sábado, ele afirmava que Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus.
Então Jesus disse a eles:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o Filho não pode fazer nada por sua própria conta, pois ele só faz o que vê o Pai fazer. Tudo o que o Pai faz o Filho faz também.”
Na oração de hoje, vamos pedir ao Pai a graça da abertura de espírito.
Este trecho do Evangelho de João segue-se à cura do homem que estava paralítico há 38 anos na piscina de Betesda, em Jerusalém, e Jesus curou em dia de sábado, provocando uma perseguição dos judeus a ele. Pela lei judaica, era proibido fazer qualquer trabalho no sábado.
O trecho de hoje inicia-se com esta afirmação de Jesus: “O meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho.” Aqui, o evangelista João leva a polêmica ao máximo. Estamos caminhando para a Páscoa e vamos acompanhando Jesus em sua vida que o levou à morte. “Porque ele disse isso, os líderes judeus ficaram ainda com mais vontade de matá-lo. Pois, além de não obedecer à lei do sábado, ele afirmava que Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus.”
O sábado foi instituído com um olhar na criação. O sábado, o sétimo dia, foi o dia em que o Senhor descansou de toda a sua obra criadora, que teve seu auge no sexto dia com a criação do ser humano. O sábado é o dia do ser humano, representando toda a criação, louvar o seu Criador, reconhecendo que só vive plenamente na relação com Ele. Neste dia ele se abastece espiritualmente, reconhecendo a Sua Fonte, de onde vêm todas as suas potencialidades, inclusive a de continuar a obra criadora de Deus através do trabalho. Este é o sentido profundo do sábado.
Ora, a glória de Deus é que o ser humano viva e isto é o que Jesus vem fazer. Quando ele afronta a lei, na verdade está questionando a maneira literal e legalista que a estavam vivendo, perdendo-se do seu sentido profundo e, na verdade, por isso mesmo, esvaziando-a. As pessoas eram capazes de “cumprir” o seu culto passando direto, ao largo, dos irmãos necessitados. Que contradição! Será que não a vemos – e, às vezes, vivemos – hoje?
Jesus, numa relação profunda com Deus a quem chama de Pai, reconhece que a vontade deste Deus, expressa em Sua obra, é a vida plena. E vem fazer o que o Pai faz: promover a vida. De onde tira isso? Da própria relação com Deus. “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o Filho não pode fazer nada por sua própria conta, pois ele só faz o que vê o Pai fazer. Tudo o que o Pai faz o Filho faz também.”
Vivemos numa sociedade em que parece que tudo pode. Tudo para o ego. Este ego inflado coloca limites e barreiras cada vez maiores para o outro, para a vida. As religiões continuam muitas vezes no caminho do formalismo e legalismo pouco acolhedores. Em tantas situações nossas comunidades colocam muros que impedem a entrada de quem deseja buscar a Deus, buscar o caminho da Vida. E o pior é que nem enxergamos isso. Precisaríamos fazer o exercício do olhar empático e nos colocar no lugar do outro para ver, pois só quem está de fora e tenta entrar é que se depara com estes muros. Na política também criamos não mais posicionamentos legítimos e fundados, mas barreiras preconceituosas em que dividimos todos entre “coxinhas” e “petralhas” e nos incapacitamos para criar projetos que promovam a vida dos mais necessitados. E assim vamos na vida social como um todo, gerando guetos fechados onde se mata o diferente, em vez de portais que possibilitam a expressão de quem não tem voz e geração de espaços de vida a quem não os têm, o que supõe mais conflito que confronto.
Tendo em vista este contexto mais amplo, eclesial, nacional e até mundial, e o meu contexto próprio, colocar-me em diálogo com Jesus e diante da Vida dele:
– Senhor, no meu dia a dia, eu faço o que o Pai faz e é revelado na Sua vida?
– Consigo ir além das barreiras e limites – pessoais, sociais, institucionais, religiosos – por causa da Vida?
– A que Você, no Evangelho de hoje, me inspira na minha forma de agir e trabalhar?
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei