³³Pilatos tornou a entrar no palácio, chamou Jesus e perguntou:

— Você é o rei dos judeus?

³⁴Jesus respondeu:

— Esta pergunta é do senhor mesmo ou foram outras pessoas que lhe disseram isso a meu respeito?

³⁵— Por acaso eu sou judeu? — disse Pilatos. — A sua própria gente e os chefes dos sacerdotes é que o entregaram a mim. O que foi que você fez?

³⁶Jesus respondeu:

— O meu Reino não é deste mundo! Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus seguidores lutariam para não deixar que eu fosse entregue aos líderes judeus. Mas o fato é que o meu Reino não é deste mundo!

³⁷— Então você é rei? — perguntou Pilatos.

— É o senhor que está dizendo que eu sou rei! — respondeu Jesus. — Foi para falar da verdade que eu nasci e vim ao mundo. Quem está do lado da verdade ouve a minha voz.

   Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…

Quem enfrentou Jesus com perguntas? Como seria o reino de Jesus, caso fosse deste mundo? Quando Pilatos pergunta a Jesus: “Então você é Rei?” O que Jesus responde? Quem são aqueles que o escutam?

Algumas pistas para compreender o texto:

Celebrando, hoje, a solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, lemos uma parte breve do relato da paixão segundo são João. Nesta narrativa, Jesus mostra-se sempre como quem tem o controle da situação, como um homem plenamente livre e veraz. A partir do momento em que chegam ao horto por causa dele, antecipa-se com a pergunta: “Quem é que vocês estão procurando?”, e em seguida responde: “Sou eu” (Jo 18.4-5).

Aqui, no interrogatório diante de Pilatos, Jesus mostra-se seguro de si, responde com toda clareza e também interroga. A pergunta repetida de Pilatos é que motiva uma resposta clara de Jesus sobre si mesmo: “É o senhor que está dizendo que eu sou rei!” (v. 37). Contudo, explica em que sentido o é: “Foi para falar da verdade que eu nasci e vim ao mundo”. Jesus não aceita a acusação de pretensões políticas, ainda que seu modo de agir tenha tais consequências; ele realiza sinais de vida, e se entrega a si mesmo fazendo o bem aos outros.

Jesus, que existe desde sempre e que se encarnou, tem por missão dar testemunho do Pai: “Ele fala daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita a sua mensagem” (João 3.32; cf. Jo 8.26). A missão de Jesus é dar a conhecer que Deus é Pai, que nos ama e que quer a salvação de todos: “Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Jesus dá testemunho do Pai, vive para servi-lo e entregar a vida para o cumprimento de sua vontade.

Somos chamados a tomar uma decisão diante do testemunho de Jesus a respeito da verdade do Pai. Ou cremos ou não cremos em Jesus e também naquele que o enviou. Pilatos, aqui, tal como os judeus do capítulo 8, não crê que Jesus “seja” a verdade, não o escuta, não o entende.

Jesus termina afirmando: “Quem está do lado da verdade ouve a minha voz” (v. 37). Este versículo evoca a parábola do bom pastor do capítulo 10, onde se diz que suas ovelhas escutam sua voz e o seguem. Os discípulos somos chamados a escutar a voz do mestre. Seguido a mesma linguagem simbólica de João 10: somos ovelhas que temos de escutar o Bom Pastor.

Vivamos o evangelho deste domingo respondendo ao chamado que recebemos para viver o Reino de Deus, o qual, mesmo que não se identifique com os poderes deste mundo, começa, sim, desde agora, na prática diária das boas obras. É oportuno que repitamos as palavras de Jesus e as façamos nossas: “Foi para falar da verdade que eu nasci e vim ao mundo”. Viver sempre com a verdade é um desafio grande para nós, pois são muitas as oportunidades que temos para enganar as pessoas que nos rodeiam, apenas com a intenção de desfrutarmos algo passageiro que, possivelmente, nos trará problemas. Viver o Reino com Jesus e como Jesus é caminhar sempre com a cabeça erguida e felizes por sermos pessoas honestas e verdadeiras.

São João Paulo II fala do reinado de Cristo durante a IV JMJ (1989):“Convido vocês, queridos amigos, a descobrir sua vocação real para colaborar na difusão deste Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz. Se verdadeiramente desejam servir a seus irmãos, deixem que Cristo reine em seus corações, que os ajude a discernir e a crescer no domínio de si mesmos, que os fortaleça nas virtudes, que os encha principalmente de caridade, que os leve pelo caminho que conduz à ‘condição do homem perfeito’! Não tenham medo de ser santos! Esta é a liberdade com que Cristo nos libertou (cf. Gl 5.1).

…

Por isso, peço ao Senhor que os ajude a crescer nessa ‘liberdade real’ como critério básico e iluminador de discernimento e de escolha da vida. Esta mesma liberdade orientará o compromisso moral de vocês na verdade e na caridade. Vai ajudá-los a descobrir o amor autêntico, não deteriorado por um permissivismo alienante e nefasto. Fará de vocês pessoas abertas para um eventual chamado à doação total no sacerdócio ou na vida consagrada. Vai fazê-los crescer em humanidade mediante o estudo e o trabalho. Animará suas obras de solidariedade e seu serviço aos necessitados no corpo e na alma. Vai torná-los ‘senhores’ para servir melhor e não ser ‘escravos’, vítimas e seguidores dos modelos dominantes nas atitudes e formas de comportamento”.

Continuemos nossa meditação com estas perguntas:

Como considero que seja o Reino de Deus hoje? Sou uma pessoa que difunde, dia após dia, o amor de Jesus e seu reino? Tenho palavras e ações de verdade em minha vida?

Senhor, sê Rei não apenas dos filhos fiéis, que jamais se afastaram de Ti,

mas também dos pródigos, que Te abandonaram;

faze com que voltem logo para a casa paterna,

para que não morram de fome e na miséria.

Sê Rei daqueles que, por sedução do erro ou por espírito de discórdia,

vivem separados de Ti; devolve-os ao porto da verdade e à unidade da fé,

para que em breve se forme um só rebanho e só Pastor.

Reina, Senhor, em minha vida com tua verdade!

Na Eucaristia do Domingo, reconhecerei Jesus como o Rei de minha vida, e durante esta semana, a cada dia revisarei se ajo conforme sua vontade.

“Neste palácio pequenino de minha alma cabe tão grande Rei!

Não o deixarei tantas vezes sozinho”.

Santa Teresa de Jesus