“Quem quiser ser importante, que sirva os outros”
25 de julho de 2017Mateus 13,10-17
27 de julho de 2017“Jesus continuou, dizendo:
— Mas vocês, como são felizes! Pois os seus olhos veem, e os seus ouvidos ouvem. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: muitos profetas e muitas outras pessoas do povo de Deus gostariam de ver o que vocês estão vendo, mas não puderam; e gostariam de ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram.”
Hoje a Igreja celebra a memória de São Joaquim e Sant´Ana, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus. Acolhamos o convite que a primeira leitura (Eclo 44, 1.10-15) nos faz: “Vamos fazer o elogio dos nossos antepassados através das gerações. São homens de misericórdia, seus gestos de bondade não serão esquecidos.”
Não encontramos nada nos Evangelhos sobre os pais de Nossa Senhora, lembrados, no entanto, por nossa Tradição. Quase não se diz nada da vida oculta de Jesus, como um todo, vivida na simplicidade de Nazaré. O pouco que se diz, no entanto, inspira: pessoas que viveram com sentido profundo a sua religião, a sua profissão e a relação entre si e com Deus. Pessoas do povo, da comunidade e de Deus. Pessoas da obediência, ou seja, da escuta, que cresciam e faziam crescer. Jesus bebeu da tradição de um povo, primeiramente por seus pais, e – podemos imaginar também – por seus avós. Há algo que vem de geração em geração, de um passado imemorial, e que sustenta o melhor em nós.
Esse é o elogio que a leitura nos convida a fazer. Reverenciar com gratidão a nossa história e o que recebemos de melhor de nossos antepassados. “A descendência deles mantém-se fiel às alianças (…). Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembleia vai celebrar o seu louvor.” O que vemos e reconhecemos não é a milésima parte do que foi semeado ao longo de gerações. Uma entrega oculta, silenciosa, sem glamour, sem fama, mas que manteve a fidelidade e a perseverança nos valores. Se hoje chegam até nós, é porque foram vivenciados e ensinados por muita gente, cujos nomes não são falados, cujos méritos não são atribuídos na maior parte do tempo, mas que agiram com misericórdia e sabedoria, transmitindo vida, mesmo em meio às suas fraquezas e até ambiguidades.
No fundo, no fundo, na essência, o que chega até nós é a “receita” da verdadeira felicidade de que Jesus fala no Evangelho. “Vocês, como são felizes! Pois os seus olhos veem, e os seus ouvidos ouvem.” Vemos e ouvimos o que? O próprio Evangelho! A Boa Nova trazida por Jesus. Estamos em contato com ela neste exato momento. É-nos dada a oportunidade de experimentar seus efeitos, oportunidade que muitos – até melhores que nós, até mais justos que nós – quiseram ter e, por diferentes razões, não tiveram.
Quanta busca de felicidade no nosso mundo! É a busca de todas as pessoas e a venda de todas as propagandas. No entanto, cada época carrega suas próprias ilusões quanto às ofertas de felicidade. No momento atual, a mais típica é a que oferece tudo pronto, na mão e sem esforço. Pessoas que enriqueceram com menos de vinte anos de idade porque tiveram a “sorte estratégica” de publicar algo que viralizou em redes sociais. E aí compram o que querem – quando não lhes é dado por merchandising – e quem querem – muitos, pelo menos, que se põem à venda para disfrutar um pouco dos frutos dessa fama. Que felicidade é essa? Será verdadeiramente felicidade? O que ela traz pra vida? Quanto edifica? Humaniza? Gera vida plena para quem a tem e ao seu redor? Isso é vida? Quanto essa vida dá sustento e fortaleza à vida real, com suas luzes e sombras? E quanto dura? Não responder rapidamente a essas perguntas, de forma politicamente – ou religiosamente – correta. No fundo, muitas vezes essa felicidade é a que desejamos pra nós. Então, deixar que tanto o desejo quanto os questionamentos reverberem no mais profundo.
Olhar também para a vida de Jesus e para a vida das gerações que O seguiram, fazendo sua Proposta, sua Boa Nova chegar até nós. Que vida é essa? O que ela reverberou ao longo do tempo e chega até hoje? E que felicidade tão fora dos padrões foi experimentada por eles e continuada nos sendo ofertada pelo Evangelho? O que significa para mim hoje abraçá-la?
Pedir ao Espírito que conduza nossa oração e faça com que nos experimentemos parte de um grande fluxo de vida, que nos oferta dons e nos provoca escolhas.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei