Só Ele basta (Lc 11, 29-32)
16 de outubro de 2017A experiência do Reino na missão
18 de outubro de 2017Leitura: Lucas 11, 37-41
Quando Jesus acabou de falar, um fariseu o convidou para jantar na casa dele. Jesus foi e sentou-se à mesa. O fariseu ficou admirado quando viu que Jesus não tinha se lavado antes de comer. Então o Senhor disse a ele:
— Vocês, fariseus, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro vocês estão cheios de violência e de maldade. Seus tolos! Quem fez o lado de fora não é o mesmo que fez o lado de dentro? Portanto, deem aos pobres o que está dentro dos seus copos e pratos, e assim tudo ficará limpo para vocês.
Oração:
Nossa oração de hoje começa com a cena de um encontro, uma refeição. Jesus está na casa de um fariseu, que o convidou para jantar. Os fariseus eram judeus que viviam, ao menos no discurso, uma religiosidade bastante severa; tinham formulado e seguiam inúmeras normas de conduta. Jesus provavelmente conhecia as normas, a “etiqueta” dos fariseus, mas comete um “deslize” e senta-se à mesa sem se lavar. Aquele fariseu, que tinha visto Jesus nas ruas e o convidara porque tinha curiosidade sobre ele, fica surpreso… então Jesus não se lava e não cumpre a regra?!
Jesus percebe a surpresa e, mesmo sem ter sido interpelado, adverte: “Vocês, fariseus, lavam o copo e o prato por fora, mas pode dentro vocês estão cheios de violência e de maldade. Seus tolos!”
Talvez pensemos: “Que hipócritas esses fariseus!” Mas, na oração, devemos rever nossa vida. Talvez, se revisarmos bem, se olharmos com cuidado, chegaremos, ao fim desse exame, a dizer: “Que hipócrita eu sou!” Sim, eu também posso ser como o fariseu. Talvez eu esteja preocupado em cumprir rituais, seguir as regras exteriores, fazer como se manda, “dançar conforme a música” que melhor imagem faça de mim para os outros. Talvez eu faça isso e descuide do que levo por dentro: pago o dízimo e destruo o Reino; falo do amor e não me esforço para ter um coração que perdoa; quero seguir Jesus e, ao mesmo tempo, não perco uma chance de perseguir meu próximo; quero ver Deus, mas não quero ver os pobres; quero construir o Reino, mas vivo para discriminar com base em meus preconceitos… há, dentro de mim, muita contradição. Há, dentro de cada cristão, um fariseu que precisa diminuir…
Depois de rever minha vida e perceber o tamanho do fariseu que levo por dentro, tenho de ouvir o resto que Jesus diz. Ele não recrimina e se retira da casa do fariseu. Ele está disposto a continuar a refeição, a conversa. Assim é também conosco. Jesus não denuncia somente; maior que todos os profetas, também anuncia: “Deem aos pobres o que está dentro dos seus copos e pratos, e assim tudo ficará limpo para vocês”. Essa é a receita de Jesus para fazer diminuir o fariseu que temos por dentro. Qual a receita? A partilha. O combate do egoísmo, da vaidade, do acúmulo, do consumismo, da desigualdade, da vida indigna… Parece que, para Jesus, a pureza, a possibilidade de viver em amizade com Deus, não se atinge pelo cumprimento de regras relacionadas a coisas… à pureza se chega quando se percebe que somos irmãos, iguais, filho(a)s do mesmo Pai. Quem partilha, quem vê no(a) outro(a) alguém… esse está puro. Quem doa a vida à Vida, enxerga que o Amor ama a todo(a)s… esse está puro. Não se purifica de fora para dentro. É possível uma higiene que nos mantém lustrosos por fora e imundos por dentro. Purifica-se, sim, de dentro pra fora, pois o coração é o primeiro local da reforma que precisamos fazer… a mente, o primeiro lugar da faxina.
Peçamos ao Espírito a possibilidade de, na oração, ouvirmos a voz da Trindade, que nos fala como se estivéssemos com Eles sentados ao redor de uma mesa para uma refeição. Peçamos a graça de enxergar nossas impurezas, o fariseu que somos, e a força para começar, todos os dias, a reforma que nos leva à pureza querida por Deus, que começa pelo coração e se expressa em pés que se aproximam, mãos que acolhem e palavras que animam.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte