“E assim tudo ficará limpo para vocês”
17 de outubro de 2017Ai de nós!
19 de outubro de 2017Evangelho: Lucas 10, 1-9
“Depois disso o Senhor escolheu mais setenta e dois dos seus seguidores e os enviou de dois em dois a fim de que fossem adiante dele para cada cidade e lugar aonde ele tinha de ir. Antes de os enviar, ele disse:
— A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao dono da plantação que mande trabalhadores para fazerem a colheita. Vão! Eu estou mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias. E não parem no caminho para cumprimentar ninguém. Quando entrarem numa casa, façam primeiro esta saudação: “Que a paz esteja nesta casa!” Se um homem de paz morar ali, deixem a saudação com ele; mas, se o homem não for de paz, retirem a saudação. Fiquem na mesma casa e comam e bebam o que lhes oferecerem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de uma casa para outra.
— Quando entrarem numa cidade e forem bem-recebidos, comam a comida que derem a vocês. Curem os doentes daquela cidade e digam ao povo dali: ‘O Reino de Deus chegou até vocês.’”
Reflexão:
Hoje é a festa de São Lucas, evangelista. É o santo padroeiro dos pintores, médicos, genealogistas e curandeiros. Elevemos nossas orações àqueles que se dedicam à saúde das pessoas, para que possam enxergá-las integralmente, de corpo, psique e espírito, e também assim, por inteiro, dedicar-se a elas.
O Evangelho de hoje começa assim: “Depois disso o Senhor escolheu mais setenta e dois dos seus seguidores e os enviou de dois em dois a fim de que fossem adiante dele para cada cidade e lugar aonde ele tinha de ir.” Agradecer ao Senhor a sua confiança, por nos enviar aonde Ele deve chegar. Pedir que a oração toque nosso coração com esta consciência de ser presença do Senhor onde estamos; e de quem são esses companheiros com os quais Ele nos envia.
Enviando, o Senhor dá instruções. A primeira é o reconhecimento do tamanho da obra e dela ser do Pai e não nossa. “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao dono da plantação que mande trabalhadores para fazerem a colheita.” Pedir ao dono que toque o coração de mais pessoas para trabalharem pelo Reino.
“Vão! Eu estou mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos.” Essa é outra tomada de consciência que se torna experiência, pois muitas vezes nos sentimos assim, nos ambientes em que a vida nos coloca. Fazer memória dessas experiências. Provavelmente, lembramos dos ambientes exteriores. No entanto, o ambiente interior também é assim, com a presença de ovelhas e lobos, de contrapontos. A mensagem do Senhor quer tocar-nos na integralidade do que somos – tocas nossas ovelhas e nossos lobos. Existe uma lenda muito bonita de como São Francisco domesticou um lobo muito feroz que aterrorizava a cidade de Gúbio. Ele fez a paz entre o lobo e as pessoas da cidade, tendo compaixão de ambos (https://contoselendasmedievais.blogspot.com.br/2010/01/como-sao-francisco-domesticou-o.html) Será que não lutamos, nos armamos e estabelecemos polaridades, quando o caminho talvez seja outro, interna e externamente? Há muitos grupos conservadores dentro da própria Igreja Católica que simplesmente estabelecem uma separação de quem consideram os lobos ou mundanos, separação esta que se concretiza em vários pontos (não ouvir música “profana”, não frequentar lugares fora os do grupo religioso, etc.) No entanto, a separação “sagrado-profano” é coisa do Antigo Testamento. Ao assumir nossa humanidade, Cristo se misturou conosco. Sua forma concreta de vida não foi separado, mas misturado ao povo e participando de todos os seus momentos. E o envio que faz aos apóstolos – hoje a nós – é para o meio do povo.
Ele nos dá dicas de como ir. “Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias. E não parem no caminho para cumprimentar ninguém.” Não levar pelo caminho da vida o que chama à acumulação de bens, uma das grandes pedras de tropeço para os nossos lobos. E não nos enredar, ser ágeis na relação para chegar ao que realmente importa. O que em mim aciona a dimensão do apego ou da acumulação e que sou convidada a deixar de lado? Como têm sido minhas relações, formais e sociais ou mais profundas e de essência?
Sobre a saudação da paz, há uma outra tradução que deixa mais claro este trecho. “Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós.” Não perder a paz quando a nossa paz e bons desejos para o outro não são acolhidos.
Existe uma troca, um intercâmbio de bens entre os evangelizadores e os evangelizados. Quantas vezes vamos em missão e de fato sentimos que recebemos mais do que damos! Quantas vezes vivemos o nosso trabalho como missão, sejamos profissionais da saúde ou de qualquer área, e sentimos que recebemos muito dos nossos clientes, alunos, atendidos, etc! Essa é a postura do enviado do Senhor. Não ir como quem é mais que o outro e não tem o que receber dele. Mas ir como alguém que encontrou um tesouro que precisa compartilhar, e deseja encontrar esse tesouro também no outro, pois sabe que habita nele, e daí recebe de sua generosidade, acolhida, bondade, de seus bens compartilhados. É isso que cura – a nós e aos outros – e tem sabor de Reino. Nesta experiência, é que podemos anunciar: “O Reino de Deus chegou até vocês.”
Peçamos ao Senhor que o Seu Espírito nos conduza na missão do dia a dia, despertando a nossa consciência de ser enviados, presença do Senhor onde estamos, e ajudando-nos a viver com as atitudes que o Senhor nos ensina para fazer e gerar a experiência do Reino.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei