A cura, o serviço e a oração (Mc 1,29-39)
14 de janeiro de 2015Fé: olhos para o invisível (Mc 2,1-12)
16 de janeiro de 2015Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado.
Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
Na época de Jesus, a lepra era uma doença horrível, pois, para além dos males físicos que ela causava, também obrigava a pessoa a viver afastada do convívio social. Uma segregação que aumentava a dor.
A oração nos convida a perceber, principalmente à nossa volta, tudo aquilo que afasta as pessoas do convívio social.
Como exemplo, imagino a cena de uma criança na escola, sofrendo bullying de outras crianças. Atos de agressão física ou psicológica, praticados dia após dia, até que a criança se isola, já não convive com os outros colegas.
Uma situação extrema, mas que acontece com frequência e nos atinge, em maior ou menor grau.
Ao prefigurar uma situação de afastamento, de isolamento social, com situações concretas que conhecemos, podemos contemplar com mais intensidade a cena de Jesus que se segue ao pedido do leproso: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’ “.
Jesus é a expressão humana de um Deus compassivo, que se importa com a dor de seus filhos e quer, de todas as formas, resgatá-los para uma vida plena. Jesus não precisava tocar o leproso para curá-lo. Poderia apenas ordenar, e o homem ficaria limpo, mas Jesus, antes de curá-lo, toca-o, como que para nos ensinar que a dor mais profunda de alguém é a dor do isolamento, de não se sentir acolhido, de não poder sentir o calor de um abraço amigo, de um carinho. Jesus diz, com seu gesto, que o homem é querido por Deus, independentemente de sua situação.
Penso que, em profunda atitude orante, podemos fazer um pouco de silêncio interior e apenas sentir o toque de Deus em nós. Deixar que esse toque nos limpe de tudo que precisamos ser limpos. Deixar que Deus restaure em nós toda a dignidade que, por acaso, tenha-nos sido tirada. Sentir a mão do Senhor a nos tocar e a nos dizer “Eu quero: fica curado!”.
Após sentir o toque do Senhor nos curando de nossas feridas, principalmente daquelas que nos afastam dos outros, deixemo-nos contaminar pela alegria do leproso, que não se conteve e, contrariando o pedido de Jesus, passou a contar e divulgar o fato. Contaminados por essa alegria, podemos passar à ação. Jesus, não estando fisicamente entre nós, conta com nossas mãos e nossos braços, para tocar as pessoas que estão marginalizadas e precisam ser incluídas. Olhemos em volta, sejamos atentos e busquemos trazer para o convívio aqueles que estão afastados.
A lei impedia alguém sadio de tocar num leproso. Jesus contraria essa lei, toca no leproso e cura-o. O homem curado da lepra “começou a contar e a divulgar muito o fato”, e isso fez com que Jesus não pudesse mais entrar nas cidades: “por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade”.
O fato de ficar fora das cidades não impediu Jesus de continuar sua obra, pois “de toda parte vinham procurá-lo”.
O ensinamento dado com autoridade por Jesus atraía milhares de pessoas. Elas eram capazes de superar os obstáculos e o afastamento de Jesus, para ir ao encontro dele.
Penso que a atitude de Jesus, de realizar a aproximação, mesmo contrariando a lei, deve nos levar a refletir sobre nossas dificuldades de aproximação daqueles que estão à margem.
Muitas vezes, não nos aproximamos dessas pessoas por receio de contrariar alguma norma ou algum código de conduta, que nos afastariam dos grupos de nosso convívio. Neste momento, perdemos nossa autoridade, que nos foi conferida por Deus e que nada mais é do que a autoridade do exercício pleno do amor.
Busquemos, nesta oração, que o Espírito Santo nos ilumine, de tal forma, que saibamos exercer a autoridade de amar sem medo e sem limites. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG