Do que está cheio o coração? (Lc 6, 43-49)
10 de setembro de 2016Permanecer na fé
12 de setembro de 2016PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo,
ensina-nos,
orienta nossas comunidades
a viver de acordo com os passos de Jesus.
Mostra-nos
como tornar presentes hoje
os valores e as opções
do Reino de Jesus.
Espírito Santo,
Espírito de Jesus,
mostra-nos o rosto do Pai,
a fim de que,
voltados para Ele,
busquemos servir
a seu projeto
na justiça
e na vida para todos.[1]
TEXTO BÍBLICO: Lucas 15.1-32
A ovelha perdida
Mateus 18.10-14
1Certa ocasião, muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama chegaram perto de Jesus para o ouvir. 2Os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus, dizendo:
— Este homem se mistura com gente de má fama e toma refeições com eles.
3Então Jesus contou esta parábola:
4 — Se algum de vocês tem cem ovelhas e perde uma, por acaso não vai procurá-la? Assim, deixa no campo as outras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida até achá-la. 5Quando a encontra, fica muito contente e volta com ela nos ombros. 6Chegando à sua casa, chama os amigos e vizinhos e diz: “Alegrem-se comigo porque achei a minha ovelha perdida.”
7— Pois eu lhes digo que assim também vai haver mais alegria no céu por um pecador que se arrepende dos seus pecados do que por noventa e nove pessoas boas que não precisam se arrepender.
A moeda perdida
8Jesus continuou:
— Se uma mulher que tem dez moedas de prata perder uma, vai procurá-la, não é? Ela acende uma lamparina, varre a casa e procura com muito cuidado até achá-la. 9E, quando a encontra, convida as amigas e vizinhas e diz: “Alegrem-se comigo porque achei a minha moeda perdida.”
10 — Pois eu digo a vocês que assim também os anjos de Deus se alegrarão por causa de um pecador que se arrepende dos seus pecados.
A parábola do filho perdido
11E Jesus disse ainda:
— Um homem tinha dois filhos. 12Certo dia o mais moço disse ao pai: “Pai, quero que o senhor me dê agora a minha parte da herança.”
— E o pai repartiu os bens entre os dois. `13Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntou tudo o que era seu e partiu para um país que ficava muito longe. Ali viveu uma vida cheia de pecado e desperdiçou tudo o que tinha.
14 — O rapaz já havia gastado tudo, quando houve uma grande fome naquele país, e ele começou a passar necessidade. 15Então procurou um dos moradores daquela terra e pediu ajuda. Este o mandou para a sua fazenda a fim de tratar dos porcos. 16Ali, com fome, ele tinha vontade de comer o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. 17Caindo em si, ele pensou: “Quantos trabalhadores do meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui morrendo de fome! 18Vou voltar para a casa do meu pai e dizer: ‘Pai, pequei contra Deus e contra o senhor 19e não mereço mais ser chamado de seu filho. Me aceite como um dos seus trabalhadores.’ ” 20Então saiu dali e voltou para a casa do pai.
— Quando o rapaz ainda estava longe de casa, o pai o avistou. E, com muita pena do filho, correu, e o abraçou, e beijou. 21E o filho disse: “Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!”
22 — Mas o pai ordenou aos empregados: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Ponham um anel no dedo dele e sandálias nos seus pés. 23Também tragam e matem o bezerro gordo. Vamos começar a festejar 24porque este meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado.”
— E começaram a festa.
25 — Enquanto isso, o filho mais velho estava no campo. Quando ele voltou e chegou perto da casa, ouviu a música e o barulho da dança. 26Então chamou um empregado e perguntou: “O que é que está acontecendo?”
27 — O empregado respondeu: “O seu irmão voltou para casa vivo e com saúde. Por isso o seu pai mandou matar o bezerro gordo.”
28 — O filho mais velho ficou zangado e não quis entrar. Então o pai veio para fora e insistiu com ele para que entrasse. 29Mas ele respondeu: “Faz tantos anos que trabalho como um escravo para o senhor e nunca desobedeci a uma ordem sua. Mesmo assim o senhor nunca me deu nem ao menos um cabrito para eu fazer uma festa com os meus amigos. 30Porém esse seu filho desperdiçou tudo o que era do senhor, gastando dinheiro com prostitutas. E agora ele volta, e o senhor manda matar o bezerro gordo!”
31 — Então o pai respondeu: “Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. 32as era preciso fazer esta festa para mostrar a nossa alegria. Pois este seu irmão estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado.”
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. José Manuel Delgado[2]
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Que tipo de pessoas se aproximavam de Jesus? O que diziam dele? Do que se trata na primeira parábola que Jesus contou? Quanta alegria existe no céu por um pecador que se arrepende? Qual o assunto da parábola seguinte e como se conclui? Na última parábola, que reflexão fez o filho mais moço?
Algumas pistas para compreender o texto:
O Evangelho deste domingo nos apresenta o coração da mensagem de Jesus que anuncia a misericórdia do Pai. Podemos dividir o texto em quatro partes: 1. Introdução (vv. 1-2), 2. Parábola da ovelha perdida (vv. 3-7), 3. Parábola da moeda perdida (vv. 8-10) e, finalmente, 4. Parábola do Pai Misericordioso ou do filho perdido (vv. 11-32).
A introdução mostra-nos Jesus que, enquanto prossegue rumo a Jerusalém, deixa-se rodear pelos publicanos e pecadores, ou seja, pela gente que tinha a pior fama possível. Isto ocasiona-lhe as duras críticas dos fariseus e dos escribas, os quais, querendo repreendê-lo, pronunciam palavras que compõem uma das melhores descrições de Jesus que jamais se tenham escrito: “Este homem se mistura com gente de má fama e toma refeições com eles” (v. 2). Jesus toma tais críticas como ponto de partida para pronunciar as três parábolas da misericórdia, as quais descrevem de maneira admirável seu próprio ministério e o coração do Pai.
As parábolas da ovelha e da moeda perdidas têm o mesmo esquema. Caracterizam-se por uma desproporção entre o objeto perdido e o afã por encontrá-lo: o pastor deixa suas noventa e nove olhas para buscar a que se perdeu, enquanto a mulher rebusca a casa com o desejo de encontrar a moeda perdida, apesar de contar com outras nove. Em ambos os casos, quem encontra, junta os vizinhos e torna-os participantes de sua alegria pelo achado. Em ambos os casos, também se termina com a frase de Jesus que explica o sentido da parábola: de igual modo, quando um pecador se arrepende e “é encontrado”, há uma verdadeira festa no céu. Assim, fica claro que a missão de Jesus é vir “buscar e salvar quem está perdido” (Lc 19.10).
Em seguida, vejamos com atenção alguns elementos da última e longa parte do Evangelho de hoje: a parábola do filho perdido.
• A situação inicial: a parábola começa por apresentar um pai com dois filhos (v. 11), dos quais o mais moço pede a parte de sua herança (v. 12). Pedir a herança quando o pai ainda está vivo é algo que nunca se ouviu dizer, tanto mais se se leva em conta que o filho mais moço não tinha esse direito, pois o mais velho é quem devia receber a herança e podia reparti-la segundo sua vontade. No entanto, o pai, respeitando a liberdade de seu filho, concorda com seu pedido e reparte a herança (v. 13).
• Desperdício e miséria: o filho mais jovem ajunta tudo o que era seu e se vai para o mais longe possível de seu pai (v. 13). Ali malgasta tudo o que recebeu sem trabalhar, vivendo somente de diversões. Contudo, finalmente chega a crise: gasta tudo e, ademais, cai a escassez sobre a região. Conhece, então, o que jamais havia experimentado: a fome. E sua fome é tanto mais dramática porque deve trabalhar cuidando de porcos, o pior serviço para um israelita (por ser o porco o animal mais impuro) e, como se não bastasse, deseja a comida dos porcos, sem que nem sequer isso lhe fosse dado (v. 16).
• Arrependimento e volta para casa: encontrando-se em tal situação, o filho cai em si (v. 17) e se lembra de que até os empregados de seu pai então melhor do que ele. Não se sente em condições de ocupar seu lugar como filho, pois sabe que não o merece; por essa razão, planeja um discurso no qual reconhece seu pecado e pede para ser admitido ao menos como um dos trabalhadores (v. 18-19). E se põe a caminho.
• Acolhida e perdão: então acontece o impensável: o pai – que o está esperando, pois o avista quando ainda se acha longe (v. 20) – se compadece, corre ao seu encontro, abraço-o e o enche de beijos. Com estas quatro atitudes se descreve magistralmente o perdão gratuito e imerecido do pai. Como se não bastasse, quando o filho quer proferir o discurso que havia preparado, não o deixa terminar, mas ordena aos empregados que lhe devolvam sua dignidade de filho, descrita mediante os sinais da melhor roupa, do anel e das sandálias (vv. 22-23). Todo o quadro atinge seu ponto mais elevado quando o pai ordena realizar um banquete com o melhor bezerro e explica a razão: “…porque este meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado” (v. 24).
• Incapacidade de alegrar-se: o irmão mais velho, ao ouvir o barulho de festa e ao perguntar pela razão, enche-se de indignação a ponto de não querer entrar para a celebração (v. 28). Então o pai, assim como fizera com o filho melhor, demonstra seu amor saindo para vê-lo, inclusive rogando-lhe que entre. No entanto, o desgosto do filho mais velho é tão grande, que se nega a reconhecer seu irmão como tal, pois a ele se refere como “esse seu filho” na conversa com o pai. A lamúria do primogênito baseia-se no sentimento de que seu pai nunca lhe deu nada, nem um cabrito, apesar de sua aparente fidelidade, mas agora faz uma grande festa para seu irmão pecador (vv. 29-30). Chama a atenção que o pai parece surpreender-se com a queixa de seu filho, pois este não compreendeu que tudo o que é de seu pai lhe pertence (v. 31): viveu como empregado, sem dar-se conta de que na realidade é filho!
A mensagem desta parábola e de todo o Evangelho de hoje é muito clara: Deus é um pai bondoso, cheio de amor, que está sempre disposto a perdoar-nos e se enche de alegria quando voltamos para casa arrependidos. Contudo, se fecharmos o coração para nossos irmãos, como os fariseus, não poderemos entrar para a festa do perdão. O fato de que a parábola termine sem contar se o irmão mais velho entrou ou não pode ser considerado como um convite para que nós, com nossa acolhida da misericórdia de Deus, ponhamos o “final feliz” neste relato.
O que o Senhor me diz no texto?
Nesta ocasião, olhemos para o irmão mais velho, irmão ciumento da atitude de privilégio que o pai teve com o filho menor. De fato, assim é, como também, a partir dessa ótica, somos acolhidos misericordiosamente por Ele. Apesar de estar a seu lado, crescendo na fé, falhamos na atitude de acolhida daqueles irmãos que pecaram; Jesus, porém, com esta parábola, pede que nos alegremos com Ele, que estejamos na festa do céu em razão de cada pessoa que decide recebê-lo no coração, e deixar de lado os ciúmes ou a tendência a julgar.
O Papa Bento XVI anima nossa reflexão com o seguinte comentário: “Depois de Jesus nos ter narrado acerca do Pai misericordioso, as coisas já não são como antes, agora conhecemos Deus: Ele é nosso Pai, que por amor nos criou livres e dotados de consciência, que sofre se nos perdemos e faz festa se voltamos. Por isso, a relação com Ele constrói-se através de uma história, analogamente a quanto acontece a cada filho com os próprios pais: no início depende deles; depois reivindica a própria autonomia; e por fim – se há um desenvolvimento positivo – chega a um relacionamento maduro, baseado no reconhecimento e no amor autêntico.
“Podemos ler nestas etapas também momentos do caminho do homem na relação com Deus. Pode haver uma fase que é como a infância: uma religião movida pela necessidade, pela dependência. À medida que o homem cresce e se emancipa, quer libertar-se desta submissão e tornar-se livre, adulto, capaz de se regular sozinho e de fazer as próprias escolhas de modo autônomo, pensando até que pode viver sem Deus. Precisamente esta fase é delicada, pode levar ao ateísmo, mas também isto, com frequência, esconde a exigência de descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Felizmente, Deus nunca falta à sua fidelidade e, mesmo se nós nos afastamos e nos perdemos, continua a seguir-nos com o seu amor, perdoando os nossos erros e falando interiormente à nossa consciência para nos chamar a si. Na parábola, os dois filhos comportam-se de modo oposto: o mais moço vai embora de casa e cai muito em baixo, enquanto o mais velho permanece em casa, mas também ele tem um relacionamento imaturo com o Pai; de fato, quando o irmão volta, o maior não é feliz como o pai, ao contrário irrita-se e não quer entrar em casa. Os dois filhos representam dois modos imaturos de se relacionar com Deus: a rebelião e a hipocrisia. Estas duas formas superam-se através da experiência da misericórdia. Só experimentando o perdão, só reconhecendo-nos amados por um amor gratuito, maior do que a nossa miséria, mas também maior do que a nossa justiça, entramos finalmente num relacionamento deveras filial e livre com Deus”.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Fico muito alegre quando vejo que uma pessoa se aproxima de Deus? Sinto o abraço do Pai Misericordioso quando me arrependo de meu pecado? Ajudei a alguém a voltar para o Pai?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Vem, Jesus, buscar-me!
Busca a ovelha perdida.
Vem, pastor.
Deixa as noventa e nove e busca a que se perdeu.
Vem até mim. Estou longe.
Ameaça-me a caça dos lobos.
Busca-me, encontra-me, acolhe-me, leva-me.
Podes encontrar a quem buscas, tomá-lo nos braços e levá-lo.
Vem e leva-me sobre tuas pegadas. Vem tu mesmo.
Haverá libertação na terra
e alegria no céu.[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Pai, hoje que estou a teu lado, quero que meus irmãos também estejam junto a ti.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Dedicarei esta semana à oração por minha contínua conversão e pela de meus amigos e familiares.
“Deus prometeu perdão para o seu arrependimento, mas Ele não prometeu amanhã para seu adiamento”.
Santo Agostinho de Hipona
[1] Tirado de: Enséñanos a orar de Marcelo A. Murúa.
[2] Pároco de Nossa Senhora de Czestochowa, Arquidiocese de Guayaquil. Coordenador do setor bíblico da Conferência Episcopal Equatoriana.
[3] Bento XVI – Domingo, 14 de março de 2010. Praça de São Pedro (http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2010/documents/hf_ben-xvi_ang_20100314.html)
[4] Santo Ambrósio