Coração humilde, coração aberto
20 de julho de 2017Maria! (Jo 20, 1-2 e 11-18)
22 de julho de 2017Poucos dias depois, num sábado, Jesus estava atravessando uma plantação de trigo. Os seus discípulos estavam com fome e por isso começaram a colher espigas e a comer os grãos de trigo. Quando alguns fariseus viram aquilo, disseram a Jesus:
— Veja! Os seus discípulos estão fazendo uma coisa que a nossa Lei proíbe fazer no sábado!
Então Jesus respondeu:
— Vocês não leram o que Davi fez, quando ele e os seus companheiros estavam com fome? Davi entrou na casa de Deus, e ele e os seus companheiros comeram os pães oferecidos a Deus, embora isso fosse contra a Lei. Pois somente os sacerdotes tinham o direito de comer esses pães. Ou vocês não leram na Lei de Moisés que, nos sábados, os sacerdotes quebram a Lei, no Templo, e não são culpados? Eu afirmo a vocês que o que está aqui é mais importante do que o Templo. Se vocês soubessem o que as Escrituras Sagradas querem dizer quando afirmam: “Eu quero que as pessoas sejam bondosas e não que me ofereçam sacrifícios de animais”, vocês não condenariam os que não têm culpa. Pois o Filho do Homem tem autoridade sobre o sábado.
No silêncio de meu ser, deixo que o Espírito Santo seja meu guia nesta oração.
Senhor, abra o ouvido de meu coração, para que eu saiba escutar a sua voz e me deixe seduzir por ela.
Na primeira leitura de hoje, narrativa da páscoa do povo de Deus no Egito (Ex 11,10-12,14), o texto diz que o Senhor fez com que o rei continuasse teimando e não deixasse que os israelitas saíssem do país, mesmo após todas as coisas espantosas feitas por Moisés e Arão diante dele. Outras traduções dizem que o Senhor “endureceu” o coração do Faraó.
Este tipo de narrativa causa-me espanto. Afinal, Senhor, como você, sendo o Deus de amor, todo misericórdia, aquele que faz chover sobre maus e bons, poderia querer endurecer o coração do Faraó para, depois, ter de enviar um último castigo, matando a todos os primogênitos, tanto das pessoas como dos animais?
Entendo, Senhor, que há uma dificuldade muito grande para nós de aceitarmos seu amor gratuito para com todos os seus filhos. Se nos é difícil aceitar no nível intelectual, de compreensão teórica, muito mais difícil será aceitar em nossas práticas comuns e cotidianas. Ainda não conseguimos eliminar de nossos pensamentos a legitimidade da lei de talião: olho por olho e dente por dente.
O Senhor está sempre olhando para seus filhos e desejando-lhes todo o bem, então, todo aquele que vive perto de você, que está ligado a você e compartilha com você de seu amor, também desejará o bem a todos os seus filhos, a todos os nossos irmãos, sejam bons ou sejam maus. Como nos ensina São Paulo: “Tomem cuidado para que ninguém pague o mal com o mal. Pelo contrário, procurem em todas as ocasiões fazer o bem uns aos outros e também aos que não são irmãos na fé” (1 Ts 5, 15). Ou ainda, como o próprio Jesus: “Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa? Até os cobradores de impostos amam as pessoas que os amam!” (Mt 5, 46).
Para mim, Senhor, o Faraó endureceu o coração porque foi incapaz de compreender o amor. Parece-me que a falta de compreensão do amor acirra os ânimos e torna as pessoas cada vez mais cegas. Perceber o amor, acercar-se dele, compreender seu modo de agir, torna o coração mais generoso, menos duro.
Situação semelhante nos é trazida pelo texto do evangelho. O sábado, um dia feito para o descanso, para que todos pudessem repousar e ter mais tempo para ficar com o Senhor, havia se tornado, pelo contrário, em um dia de aflição. Tantas eram as regras, as proibições, tantos os pecados que se poderia cometer naquele dia, que talvez fosse melhor nem existir. E por quê? Porque os poderosos, os que criaram tantas regras, não compreendem o amor. Caso contrário, perceberiam que a essência do amor é o cuidado com o bem estar do outro, com a possibilidade de o outro ser mais feliz, com a criação de espaços para que ele possa ser o que é. Isso é muito diferente de se escravizar o homem ao sábado.
Jesus termina por dizer aquilo que deve ser o centro de nossa oração hoje: se compreendêssemos que Deus não deseja sacrifícios, mas que sejamos pessoas boas, não condenaríamos aqueles que não têm culpa.
Refletindo sobre isso, não posso deixar de lembrar isso que Ele também disse: que o primeiro a condenar deve ser aquele que não tem culpa (cf Jo 8, 7). Ou seja, os caminhos do evangelho andam por trilhas bem diferentes das que costumamos ver por aí.
Na quarta-feira passada, fiquei muito transtornado com uma notícia veiculada pela CBN, que identificou uma prática que vinha sendo reclamada por moradores de rua da região da Sé, em São Paulo. Conforme diz a reportagem: “Eram 7h, e o termômetro da Praça da Sé marcava 12º, quando o caminhão da empresa terceirizada responsável pelo serviço começou a jogar jatos d’água nas calçadas, acordando quem dormia por lá”. Não se discute a necessidade de se fazer a limpeza das vias públicas, mas precisa ser assim? Os moradores de rua são os culpados para serem condenados a isso? O que Jesus diria?
O Espírito do Senhor esteja conosco, iluminando-nos e nos incentivando a praticar o bem a todos, mesmo que não sejam nossos irmãos na fé, mesmo que sejam muito diferentes de nós e não seja fácil o convívio com eles. Amém!
***
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte