“Vende todos os seus bens e compra aquele campo.”
23 de agosto de 2018Um só é o vosso guia (Mt23, 1-12)
25 de agosto de 2018Filipe foi procurar Natanael e disse:
— Achamos aquele a respeito de quem Moisés escreveu no Livro da Lei e sobre quem os profetas também escreveram. É Jesus, filho de José, da cidade de Nazaré.
Natanael perguntou:
— E será que pode sair alguma coisa boa de Nazaré?
— Venha ver! — respondeu Filipe.
Quando Jesus viu Natanael chegando, disse a respeito dele:
— Aí está um verdadeiro israelita, um homem realmente sincero.
Então Natanael perguntou a Jesus:
— De onde o senhor me conhece?
Jesus respondeu:
— Antes que Filipe chamasse você, eu já tinha visto você sentado debaixo daquela figueira.
Então Natanael exclamou:
— Mestre, o senhor é o Filho de Deus! O senhor é o Rei de Israel!
Jesus respondeu:
— Você crê em mim só porque eu disse que tinha visto você debaixo da figueira? Pois você verá coisas maiores do que esta. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.
Oração:
Peçamos ao Espírito Santo a graça de sermos verdadeiros e sinceros, em nossos pensamentos e atitudes.
No texto de hoje, há dois comentários que chamaram a minha atenção. O de Natanael, que desqualifica Jesus ao saber de sua procedência: “será que pode sair alguma coisa boa de Nazaré?” E o de Jesus, que qualifica Natanael: “aí está um verdadeiro israelita, um homem verdadeiramente sincero”.
Da parte de Natanael, é interessante ver que, apesar do preconceito, ele está aberto a confrontar suas convicções com a realidade e mudar.
Da parte de Jesus, confirma-se, mais uma vez, que ele vê as coisas importantes que carregamos no coração e valoriza o fato de sermos sinceros e verdadeiros em relação ao que somos.
Lembrei-me de uma citação do Apocalipse de João, muito apropriada para aprofundarmos nossa oração nesse quesito: “Eu sei o que vocês têm feito. Sei que não são nem frios nem quentes. Como gostaria que fossem uma coisa ou outra! Mas, porque são apenas mornos, nem frios nem quentes, vou logo vomitá-los da minha boca” (Ap 3, 15-16).
Pode parecer estranho, mas facilmente escondemos de nós mesmos o que realmente somos. Por alguma razão, somos “empurrados” a criar uma falsa imagem de nós mesmos com a qual gastamos muita energia e tempo. No intuito de mantê-la, tornamos-nos mornos, não dizemos nem sim e nem não, não tomamos partido, não deixamos claro qual é nossa posição. Vivemos com medo de que nossa falsa imagem se desmorone.
O posicionamento de Natanael, mesmo que possa nos provocar raiva, porque ele despreza Jesus simplesmente por ser de Nazaré, arranca elogios do próprio Jesus. Por quê? Porque Natanael se define, ele não é morno. Ele foi frio em relação à possibilidade de Filipe ter encontrado o Messias, contudo, tomou partido, posicionou-se com clareza. Apesar do preconceito, foi ao encontro de Jesus com o coração aberto, disposto a mudar de opinião.
O problema do morno é que ele não se posiciona com clareza. Caso Natanael fosse morno, poderia ir ao encontro somente para agradar ao amigo, mas levando o preconceito escondido. Depois, mesmo se aceitasse Jesus como Messias, continuaria não se posicionando com clareza, porque precisaria sustentar sua falsa imagem. O morno não ajuda a sociedade a avançar no seu processo de construção de um mundo mais humano e fraterno, ele é adepto do “deixa como está para ver como fica”.
Jesus se aproveita da sinceridade de Natanael para reverter sua posição de fria para quente. Ao deixar o preconceito de lado, Jesus atinge seu coração se aproveitando dos valores que Natanael cultivava, destacando sua identidade de israelita verdadeiro e sincero.
Mais adiante, na citação que destaquei do Apocalipse de João, podemos ler: “Escutem! Eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa, e nós jantaremos juntos” (Ap 3,20).
Apesar do preconceito que Natanael trazia, não teve dificuldade em abrir a porta para Jesus, pois não sustentou uma falsa imagem. Foi, viu, mudou de posição com abertura e desfrutou da companhia do Mestre, na intimidade de uma refeição.
Então, o convite que faço para a oração de hoje é de, a exemplo de Natanael, abrir as portas de nosso coração para Jesus, assumindo, com sinceridade, o que realmente somos, desfazendo-nos de imagens que não nos representam e nos impedem de viver o amor fraterno.
Peçamos a Maria, nossa querida mãezinha, que sempre nos indique seu filho, para que, fazendo o que ele nos disser, a partir de nossa oração, diálogo íntimo e confiante, possamos ser, cada dia mais, sua imagem e semelhança. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte