Quero misericórdia (Mt 9,9-13)
1 de julho de 2016XIV Domingo do Tempo Comum – Ano C
3 de julho de 2016“Então os discípulos de João Batista chegaram perto de Jesus e perguntaram:
— Por que é que nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, mas os discípulos do senhor não jejuam?
Jesus respondeu:
— Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!
— Ninguém usa um retalho de pano novo para remendar uma roupa velha; pois o remendo novo encolhe e rasga a roupa velha, aumentando o buraco. Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se alguém fizer isso, os odres rebentam, o vinho se perde, e os odres ficam estragados. Pelo contrário, o vinho novo é posto em odres novos, e assim não se perdem nem os odres nem o vinho.”
Na oração de hoje, vamos pedir ao Senhor a graça da vida nova. Vida esta que é dom, mas supõe acolhida. E acolhida se traduz em ações concretas.
Outro dia visitei com um grupo ligado ao trabalho uma comunidade terapêutica, de recuperação de dependentes químicos. Conversando com o Sidney, que ofereceu-nos a partilha de sua história de vida, perguntei-lhe o que é mais difícil na vida na rua. Imaginei que ele diria algo como a humilhação ou a dureza de dormir ao relento. Surpreendi-me quando ele respondeu: “O mais difícil é a vida fácil”. A facilidade de conseguir comida ou dinheiro o dificultava ainda mais de sair daquela “vida” que lhe tirava a Vida.
Identifiquei-me com ele. Quantas vezes me acomodo em situações ruins ou mais ou menos, que não correspondem à vida que me é oferecida. E quantas vezes adio passos que deveria dar pela dureza do esforço ou pela facilidade de ficar no mesmo lugar, mesmo que este lugar não esteja gerando o melhor em mim. Ao rezar o Evangelho de hoje, lembrei-me do Sidney e seus companheiros. “Chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!” O jejum é um meio de tirar algo que nos está impedindo de viver de verdade, seja ele ruim ou em si mesmo até bom, seja um hábito ou um prazer. A abstinência da droga é um jejum. Ela chega a causar dor física, a tal ponto que muitas vezes se recai nela como analgésico a esta dor. Jejum de grande sacrifício, mas que leva a afastar o que tira a vida, ao mesmo tempo em que se dá passos para uma vida nova, como o Evangelho falará a seguir: “Vinho novo em odres novos”. Não é só de abstinência que eles vivem, mas de uma série de atividades terapêuticas, de trabalho empenhado, de partilha de vida e de disciplina de horários e atitudes que vão lhes devolvendo um rosto humano, uma dignidade plena. Com ela a alegria, mesmo no sacrifício: Eis novamente o noivo!
“Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles?” Às vezes, nossas caras nas igrejas mais parecem de velório. Murmuramos, reclamamos, temos o semblante de quem carrega pesos sobre os ombros. A vida de fé é um grande sacrifício e só? Quem hoje em dia gostaria desta vida? Que testemunho é este? Ou será que a vida de fé é uma experiência da presença do noivo que plenifica nossa vida, que nos faz vivenciar uma alegria plena e, por ela, sermos capazes de opções, mesmo as que nos custem, para promover a vida e rejeitar o que nos afasta dela – o jejum. Também temos nossas dependências, carências, vícios que, quando se fazem mais presentes, roubam a cena da grande experiência do Amor. Às vezes nos sentimos longe do noivo. Vale a pena o sacrifício para voltar ao lar!
Ao lado do jejum, os passos de vida nova. “Ninguém usa um retalho de pano novo para remendar uma roupa velha”. “Ninguém põe vinho novo em odres velhos”. Isto seria querer conciliar tudo, os velhos hábitos e a experiência de fé. Arrebenta. Um caminho “fácil” que tira pouco a pouco a vida. “Pelo contrário, o vinho novo é posto em odres novos, e assim não se perdem nem os odres nem o vinho.”
Vamos pedir ao Senhor que nos faça discernir os momentos em que é necessário jejuar, nos faça viver cada vez mais na sua presença e dar os passos de que precisamos para que o vinho novo que Ele nos dá de fato encontre uma vida nova que o guarde e distribua.
Tania Pulier, comunicador social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner