“…eu era cego e agora vejo!”
22 de março de 2020“Levanta-te, pega tua cama e anda”
24 de março de 2020Dia 23/05/2020 – Jo 4,43-54
- O que o texto diz?
O texto de hoje está inserido no chamado livro dos Sinais, do Evangelho de João. Jesus, desde o casamento em Caná, dará mostras de que Ele “não é desse mundo” e isso incitará o povo de seu tempo a perceber que existe algo diferente em seu ministério. De forma mais direta, esse texto nos aponta os efeitos causados pelo sinal em Caná – a transformação da água em vinho. Por conta desse feito, as pessoas passam a dar crédito a Jesus, tanto que em seu retorno de Jerusalém os galileus o recebem muito bem. O próprio Jesus percebe que a credulidade ressonante nesse momento se dá pelo feito. Ou seja, os galileus creem Nele apenas porque viram um sinal. E o que Ele faz diante dessa prerrogativa? Realiza seu segundo sinal. O texto nos apresenta um funcionário real que intercede por seu filho que estava doente e à beira da morte. O homem com sede de ver seu filho curado pede que Jesus vá até sua casa para curá-lo. Ele, no entanto, apenas diz: “Vai, teu filho vive.” Ele permanece no seu lugar e o homem, seguindo a orientação, volta para sua casa. Antes mesmo de chegar seus servos lhe dão a boa nova que ele esperava, seu filho estava vivo. Como numa forma de averiguação, o homem pergunta a hora e se dá conta que fora no mesmo momento em que Jesus havia proclamado que seu filho estava vivo. Desse momento em diante, o funcionário real e toda sua casa se tornam crentes e proclamam sua fé em Jesus. Ou seja, o segundo sinal tem como efeito a fé e o discipulado, eles creem e se tornam seguidores de Cristo. No entanto, um ponto do texto nãop pode ser esquecido: e se Jesus não tivesse realizado esse sinal, qual seria a atitude de todos eles?
- O que o texto me diz?
Aproveitando a questão apontada no ponto anterior, diante desse texto, podemos nos perguntar: em que baseamos a nossa fé? Nos dias de hoje é muito comum nos ambientes religiosos a “corrida pela sua graça”. Ou seja, as pessoas vão às igrejas em busca dos seus benefícios, daquilo que Jesus pode e “tem” que fazer. Não muito diferente dos personagens do texto, estamos tomados por um povo fervoroso por sinais. Eles são das mais variadas espécies e necessidades. Vão desde as curas de males físicos e psicológicos às necessidades financeiras e materiais. O importante é que a graça seja alcançada e alcançar a graça significa ter seu pedido atendido. Precisamos sair desse “vício” religioso. Deus realiza o que Ele quer, quando quer e como quer. Portanto, nossa fé não precisa estar atrelada a sinais. É necessário que cada um de nós entenda que o que nos deve ligar a Jesus não é o que Ele pode fazer por nós, mas o que Ele tem a dizer a nós, sobre Ele mesmo e também sobre nós. Esse texto chega num tempo oportuno, estamos em época de isolamento social. Diante de uma pandemia, nossa fé se sustenta pelo fato de nenhum dos nossos serem infectados pelo covid-19 ou pelo fato de estarmos unidos e cientes de que Deus está com quem sofre? E se alguém próximo ou nós mesmos sofrerem com a infecção, acreditaremos em Jesus somente se a cura for realizada? E mais, que sinais esses tempos nos apontam? Que sinais Jesus nos mostra para que nossa fé continue firme? Além disso, em que ou em quem nossa fé está fundamentada?
- O que o texto me faz dizer?
Tendo em vista todas essas questões, ou mesmo outras que o texto pode nos apresentar, somos convidados à oração. Deixe que no seu coração todos esses questionamentos se assentem. Perceba aquilo que mais lhe toca, desde a necessidade de pedir a graça de Deus até a forma Dele se portar diante de nós. Uma prerrogativa é irrenunciável: Jesus sempre nos olha com amor. Por isso, creiamos que, independente de onde ou em que estamos colocando a nossa fé, nós sempre seremos olhados com amor. Confiantes nessa verdade, façamos nossa oração, tomemos a coragem de nos colocar diante Dele e apresentemos o que está em nosso coração. Digamos a Jesus o que nos trás até Ele e confiemos que, no tempo e ao modo Dele, o que nos for necessário será feito.
- Contemplação
Estando nós diante do Senhor, já tendo apresentado nossas necessidades, vamos agora deixar que Ele conduza esse momento. Tudo o que estava ao nosso alcance foi feito. Deixemos que seu olhar amoroso penetre o mais íntimo de nosso ser e alcance nossas reais necessidades. Que Ele olhe para nosso interior e cure nossas feridas, que Ele nos abrace e nos dê vida. Façamos como o funcionário real, voltemos para nossas casas, para nosso interior obedecendo à ordem de Jesus, esperando que Ele faça o que realmente precisamos.
- Ação
Depois de tudo isso, o momento é de agir. Por isso, como gesto concreto, vamos proclamar a esperança de Deus aos muitos irmãos que precisam se apoio nesse momento. Sejamos agora o sinal de que Jesus está no meio de nós. Vamos aproveitar nosso contexto para retomarmos o costume da oração em família, vamos repassar a mensagem de amor a tantos que sofrem e que precisam mais do que a cura física, precisam da cura da alma. Utilizemos a criatividade que o Espírito suscitar em nós para sermos sinal de amor, mesmo à distância.
Ir. Fabrício Wagner, INJ
Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduado em Teologia pela FAJE. Mora em Vespasiano-MG.