Quem promove a vida é a favor do Senhor (Mc 9, 38-40)
26 de fevereiro de 2014O que Deus uniu (Marcos 10,1-12)
28 de fevereiro de 2014“Eu garanto a vocês: quem der para vocês um copo de água porque vocês são de Cristo, não ficará sem receber sua recompensa.
E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço.
Se a sua mão é ocasião de escândalo para você, corte-a. É melhor você entrar para a vida sem uma das mãos, do que ter as duas mãos e ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga. Aí o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga. Se o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o. É melhor você entrar para a vida sem um dos pés, do que ter os dois pés e ser jogado no inferno. Aí o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga. Se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o. É melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só, do que ter os dois olhos e ser jogado no inferno, onde o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga.
Com efeito, todos serão salgados com o fogo. O sal é bom. Mas, se o sal se tornar insosso, com o que vocês lhe darão sabor? Tenham o sal em vocês, e estejam em paz uns com os outros.””
Vamos começar nossa oração pedindo ao Espírito que nos conduza para penetrar no sentido profundo do que Jesus quer nos dizer neste Evangelho.
Podemos tomar três pontos. O primeiro é a oposição que Ele apresenta no início desta passagem: “quem der” X “quem escandalizar”. Aqueles que se abrem aos irmãos, aos que reconhecem neles a presença do Cristo, que acolhem com generosidade esta presença X aqueles que provocam a queda dos pequeninos. Colocado assim parece drástico e assusta. Mas quantas vezes perdemos as pequenas oportunidade de acolher o outro, de aliviar sua caminhada “com um copo d´água”, com um gesto simples que conforta? E quantas vezes podemos provocar a queda sem perceber! No trabalho, por exemplo, quando soltamos comentários que não constroem, ao contrário, aumentam divisões, semeiam desconfiança, somam-se ao clima de murmuração…
O segundo ponto é um convite à reflexão sobre as nossas quedas e o que as provocam. “Se a sua mão é ocasião de escândalo para você, corta-a” (ou, em outras traduções: “Se a sua mão o leva à queda, corta-a”). Por vezes se interpretou este texto levando-o para a dimensão sexual, num sentido individualista de pecado. Não é este em primeiro lugar o significado destes versículos. Se tomarmos a passagem toda, ela começa e termina tratando da relação com os demais. É neste sentido, então, que somos chamados a olhar esta parte do meio. O que tem nos feito ser menos humanos nas nossas ações, buscas e caminhos e maneira de ver os outros e a realidade? Nesta hora, cada um é convidado a ser muito sincero diante de Deus. Eu lembrei do muito acesso às redes sociais, às vezes viajando de lá para cá sem muito rumo: quantas vezes isso me tira do olhar para o fundamental, do cultivo da profundidade, tira horas de sono que ajudariam a estar mais atenta no dia a dia, aumenta a ansiedade e a carência, diminui o olhar para o outro e até as escolhas de buscar a ligação para um amigo, a escuta atenta… Foi algo que encontrei que precisa por vezes ser cortado, deixado de lado, e usado menos e com muito mais moderação e objetivo claro, para cultivar relações mais profundas e humanas, no real ou mesmo no virtual, quando for a única possibilidade. E para você, o que precisa ser cortado para viver mais e melhor a sua humanidade?
O terceiro ponto é o “sal”. “O sal é bom. Mas, se o sal se tornar insosso, com o que vocês lhe darão sabor? Tenham o sal em vocês, e estejam em paz uns com os outros.” O final deste trecho faz como um “sanduíche” com o primeiro versículo, que fala da recompensa para a generosidade nas relações, dando a chave de leitura para entender as reflexões que estão no centro (a mão, o pé, o olho…) A recompensa é ter sabor em si mesmo, e isso vem da vivência do amor. O grande “castigo”, o grande inferno é ficar numa busca incessante do sabor da vida fora de nós, de porta em porta sem encontrá-lo, a não ser “faíscas” e pequenos aperitivos que não matam a fome profunda do coração.
“Tenham o sal em vocês, e estejam em paz uns com os outros.” Isto é o que Deus quer. Deus não quer o inferno, não quer o castigo, somos nós que o buscamos. Deus quer isto: “Tenham o sal em vocês, e estejam em paz uns com os outros.” Vamos pedir-lhe a graça de viver a Sua vontade, que corresponde ao nosso desejo mais profundo.
Tania Pulier, comunicadora social. Membro da Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner.