O pecado e o perdão
13 de novembro de 2017Gratuidade que torna sujeito
15 de novembro de 2017Leitura: Lucas 17, 7-10
Jesus disse:
— Façam de conta que um de vocês tem um empregado que trabalha na lavoura ou cuida das ovelhas. Quando ele volta do campo, será que você vai dizer: “Venha depressa e sente-se à mesa”? Claro que não! Pelo contrário, você dirá: “Prepare o jantar para mim, ponha o avental e me sirva enquanto eu como e bebo. Depois você pode comer e beber.” Por acaso o empregado merece agradecimento porque obedeceu às suas ordens? Assim deve ser com vocês. Depois de fazerem tudo o que foi mandado, digam: “Somos empregados que não valem nada porque fizemos somente o nosso dever.”
Oração:
Uma leitura distraída do que diz Jesus poderia nos levar a erros sobre o cerne do que ele nos fala hoje. Em primeiro lugar, poderia levar-nos a pensar que o Pai, com quem ele afirma estar em comunhão, é um deus que deseja sentar-se e ser servido. Um deus que exige reverências, que lhe sirvam elogios, sacrifícios e temeroso respeito. Um deus carente e dependente de manifestações artificiais de afeto humano. Em segundo lugar, poderia levar-nos a pensar que o Pai é um deus que menospreza seus filhos… aliás, um deus sem filhos e com muitos escravos, todos bem inúteis e substituíveis. Mas esse não é o rosto do Pai que a vida de Jesus revela.
O mesmo evangelista (Lc 12, 37) havia contado que, para Jesus, o Pai é como o patrão que, chegando de madrugada, cinge-se e põe-se a servir os que o esperam. A quem O busca e por Ele espera, Deus serve seu amor. Em João (13, 1-15), Jesus revela, muito mais do que com palavras, com seu gesto de lavar os pés de seus discípulos, que Deus está disposto a olhar-nos na nossa altura, em nossa pequenez; está disposto a tocar nosso pé sujo, nossa caminhada nem sempre cheirosa; está disposto a despir-se. Além disso, não somos inúteis! O Pai está sempre querendo nos dizer o contrário: se conseguirmos pensar em amor maior que o de uma mãe por seu filho, é com esse amor que Ele nos ama (Is 49, 15)! Não somos servos, mas filhos… e mais amados do que podemos supor.
Que quer nos dizer então Jesus quando afirma aos seus seguidores que, após servirem, devem dizer: “Somos empregados que não valem nada porque fizemos somente o nosso dever”?
Jesus sabia que muitos de seus seguidores achariam difícil entender a lógica do Pai. Sabia que muitos quereriam se aproximar de Deus porque, supostamente, aí seriam bem servidos, constituiriam uma elite, seriam recompensados por critérios por si estabelecidos, uma meritocracia bem humana à qual Deus acabaria se submetendo. Mas não. Jesus deseja que não se enganem. Todo serviço que se presta deve ser feito com humildade. Reconhecer-se pequeno e servir. Reconhecer-se mau e servir. Reconhecer-se indigno e servir. Reconhecer-se impotente, insuficiente e débil… e então servir. Servir não porque arrancarei de Deus minha recompensa, pois a “recompensa” do Pai é a relação com Ele próprio, o degustar de sua amizade, o sentir seu amor. Servir porque já sei que sou amado pelo Pai e desejo que outros experimentem um pouco do cuidado com o qual o Pai deseja que todo(a)s seus/suas filho(a)s sejam tratado(a)s. Isso porque servir, sem ser por amor e com amor, não serve.
Peçamos que o Espírito ilumine os motivos do nosso serviço. Reconheçamos quando servimos um patrão, de quem receberemos salário, e quando servimos nosso Pai, de quem recebemos, de antemão, amor. Peçamos ao Espírito a possibilidade de crescer e servir cada vez mais o Pai e cada vez menos o patrão.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte