“Então aquele discípulo chegou mais perto de Jesus…”
27 de março de 2018Envio, missão e encontro
29 de março de 2018Evangelho: Mateus 26, 14-25
“Então um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os chefes dos sacerdotes. Ele disse:
— Quanto vocês me pagam para eu lhes entregar Jesus?
E eles lhe pagaram trinta moedas de prata.
E daí em diante Judas ficou procurando uma oportunidade para entregar Jesus.
No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, os discípulos chegaram perto de Jesus e perguntaram:
— Onde é que o senhor quer que a gente prepare o jantar da Páscoa para o senhor?
Ele respondeu:
— Vão até a cidade, procurem certo homem e digam: “O Mestre manda dizer: A minha hora chegou. Os meus discípulos e eu vamos comemorar a Páscoa na sua casa.”
Os discípulos fizeram como Jesus havia mandado e prepararam o jantar da Páscoa.
Quando anoiteceu, Jesus e os doze discípulos sentaram para comer. Durante o jantar Jesus disse:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: um de vocês vai me trair.
Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a perguntar:
— O senhor não está achando que sou eu; está?
Jesus respondeu:
— Quem vai me trair é aquele que come no mesmo prato que eu. Pois o Filho do Homem vai morrer da maneira como dizem as Escrituras Sagradas; mas ai daquele que está traindo o Filho do Homem! Seria melhor para ele nunca ter nascido!
Então Judas, o traidor, perguntou:
— Mestre, o senhor não está achando que sou eu; está?
Jesus respondeu:
— Quem está dizendo isso é você mesmo.”
Reflexão:
Na oração de hoje, peçamos a graça de entrar abertos e sem preconceitos no diálogo íntimo e profundo com o Senhor, de coração a coração, preparando-nos com sinceridade para o Tríduo Pascal que se aproxima.
Ao iniciar a leitura, é inevitável lembrar das situações em que vivemos em nossa realidade atual, por qualquer lado que olhemos. No entanto, de nada aproveitaremos passar esse tempo de reflexão ou os dias da Semana Santa apontando dedos ou “malhando os Judas”.
Deixar-nos provocar a olhar e ouvir de novo. A pergunta dos discípulos diante do anúncio de Jesus que um deles o trairia pode nos ajudar a esse mergulho. “Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a perguntar: ‘O senhor não está achando que sou eu; está?’” Outra tradução diz, de forma ainda mais clara: “Senhor, será que sou eu?” Um a um pergunta, porque todos (re)conhecem a própria fraqueza.
Na cultura do ódio que estamos vivenciando, apontamos culpas, sentenciamos condenações e, se pudermos, fazemos “justiça” com as próprias mãos, jogando pedras, ovos ou o que for. Mas não reconhecemos a fraqueza humana, por superficialidade, não por falta de experiência. Não a compreendemos no outro porque não olhamos para nós mesmos, não entramos em nosso interior. Compreender não significa concordar, mas conhecer a dinâmica das ilusões, dos enganos, dos desejos, que levam a buscar bens nem sempre em sintonia com o Bem ou a confundir mal com bem.
Será que nunca experimentamos isso? Será que nunca encontramos em nós aquele estranho mecanismo descrito por São Paulo de forma estupefata?: “Não consigo entender nem mesmo o que faço; pois não faço aquilo que eu quero, mas aquilo que mais detesto. Não faço o bem que quero, e sim o mal que não quero.” (Rm 7, 15.19)
Quais os motivos de Judas? Alguns dizem que ele tentou criar uma oportunidade para Jesus estar diante das autoridades e explicar seu projeto de Reino, sem entender que este não era o interesse do Senhor. Outros dizem que ele se desiludiu porque Jesus não era o tipo de Messias que ele e o povo esperavam; e outros que foi só ganância mesmo. Nunca saberemos. Mas quem nunca sentiu em si uma coisa e a outra? A força da ilusão, as desilusões ou a ganância. Os discípulos reconheceram que poderiam ser eles, qualquer um deles, a entregar o Senhor. Que bom se hoje, diante de Jesus, reconhecermos também; que tudo o que costumamos apontar tão rapidamente no outro não está tão longe assim de nós.
E, melhor ainda, se formos capazes de continuar o diálogo e entrar nos sentimentos do Senhor quando afirma: “Quem vai me trair é aquele que come no mesmo prato que eu.” Comer no mesmo prato – ou do mesmo pão –, tomar refeição juntos é extrema intimidade para os judeus. O que você sente, Senhor, quando o seu companheiro, aquele a quem te une “uma doce intimidade”, é quem te entrega? O que você sente podendo ser ele qualquer um dos seus companheiros, qualquer um de nós?
As palavras do Salmo de hoje (Salmo 67/68) ajudam-nos a entrar nesses sentimentos. “A confusão cobre o meu rosto… Me aflijo… Estou oprimido… A afronta deles partiu-me o coração e estou desfalecendo. Espero compaixão, e nada! Espero consoladores, e não os encontro!” Que vivamos essa Semana Santa unid@s ao coração de Jesus, tais quais as mulheres que o acompanharam como suas consoladoras.
Que consolemos o Senhor em quem encontrarmos desolado, acusado e julgado pelo caminho da vida. E que, nas dores que experimentamos e Ele assume, saibamos nos unir à sua oração ao Pai: “Responde-me, Javé, com a bondade do teu amor!”
Tania Pulier, esteticista da alma, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei