“E assim dás vida nova à terra”
20 de maio de 2018Abertos à vida no Espírito
23 de maio de 2018Leitura: Marcos 9, 30-37
Jesus e os discípulos saíram daquele lugar e continuaram atravessando a Galileia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava porque estava ensinando os discípulos. Ele lhes dizia:
— O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles vão matá-lo; mas três dias depois ele ressuscitará.
Eles não entendiam o que Jesus dizia, mas tinham medo de perguntar.
Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Cafarnaum. Quando já estavam em casa, Jesus perguntou aos doze discípulos:
— O que é que vocês estavam discutindo no caminho?
Mas eles ficaram calados porque no caminho tinham discutido sobre qual deles era o mais importante.
Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse:
— Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos.
Aí segurou uma criança e a pôs no meio deles. E, abraçando-a, disse aos discípulos:
— Aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará também me recebendo. E quem me receber não recebe somente a mim, mas também aquele que me enviou.
Oração:
A narrativa com a qual vamos rezar hoje é oferecida pelo evangelista Marcos. Ele conta que Jesus e seus amigos haviam caminhado pela Galileia até chegarem a Cafarnaum. Jesus não queria que soubessem que estavam caminhando por ali, pois ele estava a ensinar seus discípulos.
Há porém uma contradição extrema entre aquilo que ele ensinava e aquilo a que os discípulos davam atenção, aquilo com que se preocupavam…
Quando Jesus falou que o Filho do Homem seria morto, eles não quiseram ouvir. Diz o evangelho: “Eles não entendiam o que Jesus dizia, mas tinham medo de perguntar”. Essa postura dos discípulos nos interpela hoje. Na oração, tenho ouvido de Deus algo que não entendo? E por que não pergunto o que Ele está dizendo exatamente? Ou tenho entendido que Ele me propõe caminhos – mudanças, desapegos, responsabilidades, engajamentos – e, porque não desejo trilhá-los, finjo que não entendi? Por que tenho agido como aqueles discípulos? Medo, preguiça, insegurança, indiferença? Hoje, provocados pela Palavra, vejamos nossa vida e tentemos responder a essas perguntas. No caminho de não entender ou de fingir que não estamos entendendo, não estamos sós… nesse caminho estiveram também os amigos mais próximos de Jesus.
Jesus, que falava de sua morte, ouvira pelo caminho outra conversa. Percebeu por que os seus amigos, além de não o entenderem completamente, não o interpelavam. Eles estavam com planos opostos, ideias antagônicas ao Reino. Ele esperou chegar a Cafarnaum para então dar a eles a resposta àquilo que discutiam pelo caminho. Eles queriam saber quem era o maior, o mais importante. Antes de ouvir o que Jesus disse, percebamos: também em nossa vida há um tempo em que, mesmo que caminhemos com Deus, estamos desencontrados. Talvez, pelo caminho da nossa vida, também tenhamos tido as discussões que tiveram os discípulos: quem é o mais importante dessa paróquia? Quem é o mais importante para essa atividade pastoral, para esse grupo, para essa comunidade? Vamos discutindo sobre quem é mais importante e não escutando que Jesus está falando de entregar a vida… Deus está falando de A, eu estou falando de B. Deus está pensando em X, eu estou pensando em Y.
Ele não se irrita, mas espera. Ele tem o tempo de conversar francamente com cada um de nós. Na oração, coloquemo-nos em Cafarnaum. Quando estamos em casa, Jesus resolve falar muito sinceramente. Nós estamos sentados ao lado dos outros amigos e amigas dele. Vamos ouvir… “Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos”. Aí segurou uma criança e a pôs no meio deles. “Aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará também me recebendo. E quem me receber não recebe somente a mim, mas também aquele que me enviou”.
Jesus inverte a ordem que normalmente se vê no mundo. Subverte. Quem desejar ser o primeiro, deve escolher o último lugar. No seu Reino, importante é quem serve. Quem serve a todos e todas. Quem, por ser seguidor, recebe a criança. Essa imagem me questiona? Sou alguém disposto(a) a abraçar as fragilidades do mundo e a cuidar do indefeso? Sou alguém disposto(a) a abraçar quem não tem voz, quem precisa de proteção, quem precisa de guia, quem é imagem do futuro? Qual criança – situação, causa, questão – Jesus põe hoje no meio da nossa conversa e pede que eu receba e abrace? Devo cuidar de quê/quem?
Peçamos ao Espírito que nunca nos esqueçamos de que o Reino tem sempre relação com a pequenez: quem cuida deve colocar-se no último lugar, sem jamais sentir-se o maior, escolhendo, pelo contrário, o lugar de servo, o da pequenez; e, na hora de cuidar, o(a) seguidor(a) deve sempre cuidar do que é frágil, indefeso, sem voz… receber a criança que Deus nos entrega em cada momento para ser cuidada. Pequenez o tempo todo… a pequenez de quem segue e a pequenez das sementes do Reino.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte