Os limites de nosso amor (Jo 21,15-19)
18 de maio de 2018“Se alguém que ser o primeiro, deve servir a todos”
22 de maio de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e derrama-te com força.
Vem, Espírito Santo, e enche de alegria meu coração.
Vem, Espírito Santo, e inflama-nos.
Vem, Espírito Santo, e faze com que este encontro com a Palavra
seja um novo Pentecostes.
Amém.
TEXTO BÍBLICO:
Atos 2.1-11
A vinda do Espírito Santo
1Quando chegou o dia de Pentecostes, todos os seguidores de Jesus estavam reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um barulho que parecia o de um vento soprando muito forte e esse barulho encheu toda a casa onde estavam sentados. 3Então todos viram umas coisas parecidas com chamas, que se espalharam como línguas de fogo; e cada pessoa foi tocada por uma dessas línguas. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, de acordo com o poder que o Espírito dava a cada pessoa.
5Estavam morando ali em Jerusalém judeus religiosos vindos de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram aquele barulho, uma multidão deles se ajuntou, e todos ficaram muito admirados porque cada um podia entender na sua própria língua o que os seguidores de Jesus estavam dizendo. 7A multidão ficou admirada e espantada e comentava:
— Estas pessoas que estão falando assim são da Galileia! 8Como é que cada um de nós as ouvimos falar na nossa própria língua? 9Nós somos da Pártia, da Média, do Elão, da Mesopotâmia, da Judeia, da Capadócia, do Ponto, da província da Ásia, 10da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia que ficam perto de Cirene. Alguns de nós são de Roma. 11Uns são judeus, e outros, convertidos ao Judaísmo. Alguns são de Creta, e outros, da Arábia. E como é que todos estamos ouvindo essa gente falar em nossa própria língua a respeito das grandes coisas que Deus tem feito?
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Em que dia nos encontramos e de que festa judaica se trata?
· Onde estavam os discípulos e qual era a atitude interior deles (cf. At 1.13-14)?
· O que acontece na casa onde estavam reunidos os apóstolos?
· Que simbolizam o vento e o fogo?
· O que acontece com os apóstolos e o que começam a fazer?
· Como as pessoas que se ajuntaram reagem perante este acontecimento?
· O que mais lhes causa admiração ou lhes chama a atenção?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
O texto começa fazendo referência “ao dia de Pentecostes”. Recordemos que os judeus tinham três grandes festas, chamadas de “peregrinação”, porque deviam “peregrinar” até Jerusalém a fim de celebrá-las: Páscoa, Pentecostes e Cabanas ou Tendas. Neste caso, trata-se da Festa de Pentecostes, celebrada cinquenta dias depois da Páscoa. Portanto, a festa de Pentecostes está intimamente unida à Páscoa; é sua culminação ou coroação.
Mais tarde, a liturgia judaica uniu esta festa à lembrança do dom da Torá ou Lei no Sinai, chamando-a justamente de festa do “dom da Torá”, durante a qual se lia o relato da promulgação do Decálogo (Êx 19–20).
O texto do At 1 diz que estavam todos reunidos em um mesmo lugar. Quem são esses “todos” e onde estavam? Ali se encontram os onze Apóstolos e demais discípulos, inclusive Maria, a Mãe de Jesus, que formavam a primeira comunidade cristã. O “lugar” de reunião é o Cenáculo, “no andar de cima uma sala grande” (Mc 14.15), onde Jesus havia celebrado com seus discípulos a última Ceia, onde lhes havia aparecido depois de sua ressurreição. O texto, mais do que insistir no lugar físico, quer enfatizar a atitude interior dos discípulos. Deste modo, a Escritura diz-nos como deve ser a comunidade, como nós devemos ser para recebermos o dom do Espírito Santo: a concórdia dos discípulos é a condição para que venha o Espírito Santo; e a concórdia pressupõe a oração.
Para indicar o Espírito Santo, utilizam-se duas grandes imagens: a da tempestade e a do fogo. Claramente, Lucas tem em mente a teofania do Sinai, narrada nos livros do Êxodo (Êx 19.16-19) e do Deuteronômio (Dt 4.10-12,36).
A palavra hebraica para designar o Espírito (ruah) significa justamente “vento impetuoso”. A metáfora do vento impetuoso de Pentecostes faz pensar na necessidade de respirar ar puro, o ar espiritual, o ar saudável do espírito, que é o amor. O que o ar é para a vida biológica, o Espírito Santo é para a vida espiritual.
A outra imagem é a do fogo. O fogo do céu, que desceu sobre os discípulos reunidos no dia de Pentecostes, não é o do juízo final, é o das teofanias, que realiza o batismo de fogo e do espírito (At 1.15). O fogo simboliza, agora, o Espírito Santo, e embora não se diga que este Espírito é a própria caridade, o efeito que sua ação produz, que é a unidade e a comunhão na diversidade, somente o amor é que consegue. Além disso, o relato de Pentecostes mostra que o outro efeito é transformar os apóstolos para que anunciem o Evangelho a todas as nações que o poderão receber e compreender também pela ação do mesmo Espírito Santo.
Se recordamos que nesta festa os judeus celebram também o dom da Tora no monte Sinai, compreenderemos por que alguns Padres da Igreja tiraram como consequência desta relação entre o Pentecostes judaico e o cristão que o Espírito Santo passa a ser agora a Nova Lei para os cristãos, ao dar-lhes o conhecimento interior da vontade de Deus e a capacidade de cumpri-la.
Pois bem, o que se deduz do relato dos Atos, em particular do fenômeno da compreensão apesar da diversidade de línguas, é que se tem como pano de fundo, de preferência, a narrativa da torre de Babel (Gn 11). No acontecimento de Babel, o orgulho dos homens, seu amor-próprio, sua busca de fama e glória levaram à divisão das línguas com a consequente confusão e falta de comunicação entre homens e povos.
Em contrapartida, o acontecimento de Pentecostes demonstra como, por obra do Espírito Santo, é possível manter a unidade respeitando a diversidade. Com efeito, ao dizer: “todos estamos ouvindo essa gente falar em nossa própria língua a respeito das grandes coisas que Deus tem feito” (At 2.11), faz-se referência a essa união superior, em Deus e fruto do Espírito, que permite entender-se e comunicar-se para além das legítimas diferenças.
Em conclusão, vemos que no livro dos Atos, a manifestação do Espírito Santo aparece, de modo especial, ligada à experiência missionária universal, católica, da Igreja. A Igreja nascente experimenta a ação do Espírito Santo que a orienta para a Palavra de Deus e para a capacidade de comunicá-la nas línguas de todos os povos (2.11).
O que o Senhor me diz no texto?
Com certeza, já fiz a experiência de comprovar que minhas metas e meus ideais de vida cristã eram demasiado elevados e inalcançáveis; então desci, abandonei-os depois de ter lutado um pouco por eles. Senti que as exigências do evangelho superam, em muito, minhas forças; que não posso amar sempre e a todos como Jesus me pede, nem perdoar setenta vezes setes a quem me ofende. E quantas vezes, diante das ameaças de sociedade ou de meu ambiente, dominou-me o temor, e findei por fechar-me, por retroceder, com amargura, para dentro de mim mesmo, voltando as costas a tudo e a todos!
Pois bem, este é o resultado irremediável de uma vida cristã vivida sem o Espírito Santo: é como ter um automóvel sem combustível, ou um relógio sem bateria ou pilha – não podem funcionar. Certo bispo do Oriente cristão o descrevia muito bem: “O evento pascal, cumprido de uma vez para sempre, como se torna nosso hoje? Por obra do Espírito Santo. Ele é a novidade em pessoa que opera no mundo. Ele é a presença do Deus-conosco, unido a nosso espírito (R 8.16). Sem ele, Deus é distante, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja, uma simples organização; a autoridade é domínio; a missão, uma propaganda; o culto, uma evocação e o agir cristão, uma moral de escravos. Pelo Espírito, o cosmo alivia-se e geme no parto do Reino; o homem luta contra a carne; Jesus Cristo, o Senhor ressuscitado, está presente; o
Evangelho é potência de vida, a Igreja é sinal de comunhão trinitária, a autoridade é serviço libertador, a missão é um Pentecostes, a liturgia é memorial e antecipação, o agir humano é deificado” (Ignatios Hazim).
Às vezes, é preciso passar pela experiência do fracasso e da frustração a que nos leva o querer viver o Evangelho e a missão da Igreja por nossas próprias forças e contando somente com nossos recursos e nossa criatividade. Temos que chegar a sentir em profundidade que sozinhos nada podemos; e então nosso coração se abre à ação fecunda do Espírito Santo.
Ø Precisamos de um novo Pentecostes; carecemos da força e do calor do Espírito Santo para sentir e viver com alegria a liberdade de sermos filhos amados de Deus.
Ø Precisamos da presença e da ação do Espírito Santo em nossas comunidades para que reinem a concórdia e o amor; para que possamos respeitar-nos com nossas legítimas diferenças e manter-nos unidos na confissão da mesma fé.
Ø Como Igreja, precisamos abrir-nos cada dia à efusão do Espírito a fim de sair de nosso fechamento, para vencer todos os medos e ir ao encontro de todos os homens que habitam nosso mundo e têm, mesmo que não o saibam dizer, sede de Deus.
Concluamos com uma reflexão bela e atual do Papa Francisco:
“Neste dia, contemplamos e revivemos na liturgia a efusão do Espírito Santo realizada por Cristo ressuscitado sobre a sua Igreja; um evento de graça que encheu o Cenáculo de Jerusalém para se estender ao mundo inteiro. (…) Diziam os teólogos antigos: a alma é uma espécie de barca à vela; o Espírito Santo é o vento que sopra na vela, impelindo-a para a frente; os impulsos e incentivos do vento são os dons do Espírito. Sem o seu incentivo, sem a sua graça, não vamos para a frente. O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão. O sucedido em Jerusalém, há quase dois mil anos, não é um fato distante de nós, mas um fato que nos alcança e se torna experiência viva em cada um de nós. O Pentecostes do Cenáculo de Jerusalém é o início, um início que se prolonga. O Espírito Santo é o dom por excelência de Cristo ressuscitado aos seus Apóstolos, mas Ele quer que chegue a todos. Como ouvimos no Evangelho, Jesus diz: «Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador, o Espírito da verdade, para ficar com vocês para sempre» (Jo 14.16). É o Espírito Paráclito, o «Consolador», que dá a coragem de levar o Evangelho pelas estradas do mundo! O Espírito Santo ergue o nosso olhar para o horizonte e impele-nos para as periferias da existência a fim de anunciar a vida de Jesus Cristo”. 2
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Sinto, de verdade, a imperiosa necessidade do Espírito Santo para viver a vida cristã?
· Já senti alguma vez o fogo do Espírito em meu interior a purificar-me e inflamar-me o fervor?
· Invoco o Espírito Santo nos momentos de temor para não cair no fechamento e poder sair de mim mesmo?
· Consigo discernir a ação do Espírito Santo em minha vida por seus efeitos ou frutos: unidade, comunhão, missão, comunicação?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por seres fiel à tua promessa e por nos concederes teu Espírito.
Obrigado por tua Páscoa que continua a produzir frutos.
Que o Bom Espírito nos revigore com um ar novo e puro.
Que nos socorra em tudo o que nos apega ao mundo
e nos impregne do gosto pelas coisas do alto.
Concede-nos um novo Pentecostes com a força do fogo
que nos inflame a caridade e nos impulsione para a missão.
Que nos queime as comodidades e nos faça arder pelo Reino.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Espírito Santo, dá-nos consolo e força para anunciar-te”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me a envolver-me mais na missão de anunciar o evangelho indo a uma paróquia ou capela, ou visitando um familiar que há muito não vejo.
“Não estamos sozinhos na terra.
Existe alguém que nos acompanha e nos presta sua ajuda incomparável: o Espírito Santo”.
São João XXIII