A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós (Jo 1,1-18)
25 de dezembro de 2015A Sagrada Família – Ano C
27 de dezembro de 2015“Tenham cuidado, pois vocês serão presos, e levados ao tribunal, e serão chicoteados nas sinagogas. Por serem meus seguidores, vocês serão levados aos governadores e reis para serem julgados e falarão a eles e aos não judeus sobre o evangelho. Quando levarem vocês para serem julgados, não fiquem preocupados com o que deverão dizer ou como irão falar. Quando chegar o momento, Deus dará a vocês o que devem falar. Porque as palavras que disserem não serão de vocês mesmos, mas virão do Espírito do Pai de vocês, que fala por meio de vocês.
— Muitos entregarão os seus próprios irmãos para serem mortos, e os pais entregarão os filhos. Os filhos ficarão contra os pais e os matarão. Todos odiarão vocês por serem meus seguidores. Mas quem ficar firme até o fim será salvo.”
Hoje celebramos a festa de Santo Estêvão, o primeiro mártir. Estêvão havia sido escolhido para o diaconato das viúvas, de forma a liberar os apóstolos para se dedicarem exclusivamente ao ministério da Palavra. Foi morto testemunhando sua fé em Jesus como Filho de Deus diante dos judeus que não haviam acolhido Jesus como o Cristo.
Vivemos em um país de maioria cristã, onde o martírio por causa da fé parece algo muito longínquo. Ainda hoje há países onde a perseguição religiosa se mostra fortemente acirrada e nossa oração pode ser oferecida por eles. No entanto, o martírio em seu significado de testemunho é um chamado e uma graça para cada cristão.
Mateus escreve este trecho do Evangelho num momento em que a perseguição já estava acontecendo desta forma. E no nosso meio, como a perseguição por causa do seguimento de Jesus acontece? Qual é o lento martírio diário ao qual somos submetidos?
Nossa sociedade moderna, por mais moderna que pareça, é conservadora em muitas questões. Meios que deveriam ser os mais propícios para a divergência de idéias, como as redes sociais, apresentam-se muitas vezes como unilaterais e com julgamentos superficialmente unânimes. Quem é capaz de expressar uma opinião política diferente da que está em voga, apoiada pela mídia e os donos do poder e do capital é atacado, quando não excluído socialmente. Se faz isso em nome da busca do bem comum e de uma evangélica opção preferencial pelos pobres testemunha sua fé num tipo de lento martírio diário. O mesmo para os posicionamentos pelas minorias ou pela diversidade, sobretudo quando não são teóricos, mas na defesa de rostos concretos, pessoas que estão sofrendo humilhação ou discriminação.
Quantos outros exemplos são atuais e próximos de nós! Negar-se a entrar em rodas de fofoca na família, no trabalho ou entre amigos; sair em defesa de quem está sendo exposto ou ridicularizado; negar-se a aceitar e participar de pequenas corrupções, como compras sem nota fiscal, pirataria etc.
O próprio mercado de trabalho nos desafia ao testemunho prático da nossa fé. Chegou a um nível desumano que suga a vida em função de uma sobrevivência. E quem fala nessa história? Falar por si mesmo já é difícil, falar pelo outro então… Risco de perder: o reconhecimento; o cargo; talvez até o emprego. Mas se seguimos Aquele que veio “para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”, como somos coerentes com isso nos nossos trabalhos?
Quem se coloca no seguimento de Jesus faz da vida oração, leva os fatos cotidianos para o discernimento da vontade de Deus. E faz da oração vida, porque leva para a prática aquilo que contempla na vida de Jesus e de suas testemunhas, como Estêvão.
Peçamos ao Menino Jesus que nos inspire a segui-lo e testemunhá-lo, dando-nos a experiência de que a Vida que Ele nos dá é muito superior ao que os perseguidores nos podem tirar. E é vida para todos!
Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner.