Nossa Senhora das Dores (Jo 19,25-27)
15 de setembro de 2015Amor e perdão (Lc 7,36-50)
17 de setembro de 2015E Jesus terminou, dizendo:
— Mas com quem posso comparar as pessoas de hoje? Com quem elas são parecidas? Elas são como crianças sentadas na praça. Um grupo grita para o outro:
“Nós tocamos músicas de casamento,
mas vocês não dançaram!
Cantamos músicas de sepultamento,
mas vocês não choraram!”
João Batista jejua e não bebe vinho, e vocês dizem: “Ele está dominado por um demônio.” O Filho do Homem come e bebe, e vocês dizem: “Vejam! Esse homem é comilão e beberrão; é amigo dos cobradores de impostos e de outras pessoas de má fama.” Mas aqueles que aceitam a sabedoria de Deus mostram que ela é verdadeira.
Em nossa vivência religiosa e espiritual há sempre o perigo de ficarmos atados a aspectos superficiais e não conseguirmos buscar e encontrar o tesouro escondido. E, não o encontrando, não vivenciá-lo, experimentá-lo e difundi-lo.
Jesus, hoje, nos chama a atenção para isso.
O trecho do evangelho apresenta um contexto, descrito por Jesus, no qual havia comentários de desprezo a João Batista e a Jesus. Algo muito parecido com o que atualmente chamamos de bullying, ou seja, aproveita-se de aspectos superficiais e externos para tentar ridicularizar as pessoas e não permitir que elas sejam ouvidas, entendidas e aceitas pela sociedade.
A comparação que Jesus faz das pessoas com crianças sentadas na praça é muito oportuna, quando fala de atitudes infantis. Na fé, também precisamos crescer. Passar do estágio em que somos apenas atraídos por sinais externos e permitir que estes sinais nos conduzam a uma profunda transformação interior, da qual nasça um novo ser.
Podemos também pensar que as atitudes de rejeição vêm de pessoas que estão, conscientemente, procurando desqualificar a mensagem trazida por João Batista e por Jesus. Contudo, todos nós que estamos aproveitando este espaço em busca de pistas para aprofundar nossa oração e que, com sinceridade, queremos nos tornar mais íntimos de Jesus, necessitamos identificar quando agimos como o exemplo das crianças sentadas na praça.
Da vida de São Francisco de Assis é muito conhecido o episódio do beijo no leproso. Francisco supera toda repugnância que tinha pelo ser em lamentável situação de decomposição e lhe dá um beijo. Ele supera todas as considerações externas e superficiais e busca encontrar a sabedoria de Deus, o próprio Jesus escondido no menor, no mais desprezível de todos, porque assim Cristo ensinou. Francisco ansiava por encontrar essa verdade e mostrou a todos nós que a sabedoria de Deus é verdadeira. Ele se tornou o irmão de todos os seres, de toda a natureza, alcançando uma abrangência muito maior para o que se podia chamar de fraternidade até aquele momento.
Aqui, em Belo Horizonte, há uma pessoa muito querida, conhecida como “tio” Maurício. Um homem que, em uma fase de sua vida, escolheu viver na rua, experimentar e aprender com os menores como é viver em situação de rua. Sentir em sua pele todas as dores, angústias e alegrias que as pessoas nesta situação vivem. Durante essa experiência, ele se aproximou dos meninos de rua, cuidou deles, conversou com eles, deu-lhes carinho, escutou suas histórias, suas queixas, suas dores, suas ambições, suas incertezas e aprendeu com eles. Desse contato carinhoso, ganhou o título que carrega até hoje: “tio”. Já não vive nas ruas, mas continua, com insistência, com paciência e com muito amor, cuidando daqueles que vivem nessa situação. Passar algum tempo com “tio” Maurício, ouvir seus relatos, seus ensinamentos, conviver com as mulheres e com os filhos delas, que ele continua acolhendo, modifica-nos completamente. Já não é possível parar em um sinal de trânsito e ter o mesmo olhar para aqueles que se aproximam do carro. Tio Maurício também mostra que a sabedoria de Deus é verdadeira. É possível um mundo mais fraterno.
Senhor, nós queremos verdadeiramente te amar, mas ainda precisamos muito de sua ajuda para deixarmos de lado as considerações superficiais, estigmatizadas, preconceituosas, racistas e xenófobas.
Senhor, colocamo-nos aqui ao seu lado, em silêncio, para ouvir de você em quais situações precisamos melhorar nossas considerações a respeito dos outros, em que estamos sendo superficiais. Estamos aqui para que o Senhor nos mostre o Seu rosto em cada um daqueles que desprezamos e que tratamos com descaso.
Espírito Santo, ajude-nos a ter a coragem de São Francisco de Assis, a quebrar toda a distância que nos separa dos outros para, assim, mostrar a sabedoria de Deus ao mundo. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte