Acreditar
3 de julho de 2017A cura de dois endemoninhados gadarenos (MT 8,28-34).
5 de julho de 2017Leitura: Mateus 8, 23-27
Jesus subiu num barco, e os seus discípulos foram com ele. De repente, uma grande tempestade agitou o lago, de tal maneira que as ondas começaram a cobrir o barco. E Jesus estava dormindo. Os discípulos chegaram perto dele e o acordaram, dizendo:
— Socorro, Senhor! Nós vamos morrer!
— Por que é que vocês são assim tão medrosos? — respondeu Jesus. — Como é pequena a fé que vocês têm!
Ele se levantou, falou duro com o vento e com as ondas, e tudo ficou calmo. Então todos ficaram admirados e disseram:
— Que homem é este que manda até no vento e nas ondas?!
Oração:
Nesta terça-feira, Mateus dá-nos de presente uma belíssima cena… Para a oração, podemos ler a passagem, fechar os olhos e imaginar os acontecimentos, os personagens, suas falas, seus ânimos, a natureza ao redor… isso aconteceu ou acontece em minha vida? Quem sou eu? Ouço a voz de Jesus?
Certamente nunca estive atravessando um lago, mas a vida é travessia de “lago” cujas bordas não vemos. Nascemos e desse dia temos nenhuma lembrança. Noutro dia essa vida chegará ao seu termo, mas também essa margem desconhecemos. Quem olhar sua vida com atenção, sem tentar se enganar, tentando não se distrair, perceberá a máxima verdade: navegamos sobre o mistério. Não vemos as bordas do “lago” e somos sustentados por “algo” cuja profundidade não podemos medir. Diz-se na filosofia que o homem é um ser social. Talvez, pela oração, pudéssemos nos dar conta de que somos seres de travessia e de mistério.
Na travessia, às vezes experimentamos o que viveram aqueles discípulos: a instabilidade, o tremor, o balançar da vida, a incerteza do que vem… O que não entendemos, o que não vemos, o que não compreendemos são os ventos que balançam a nossa vida e nos tiram da calmaria, da certeza, da previsibilidade. Os discípulos seguiam tranquilos e já imaginavam a hora que chegariam à outra margem. De repente, o invisível os alcança no meio do caminho e eles já não podem estar muito certos de qualquer coisa.
Então se lembram de que Jesus está ali e o acordam. Também experimento a sensação de que Deus está adormecido? Sinto que a força d’Ele em mim dorme? Como eu acordo Deus? Como eu O chamo? Eu sei que Ele está dentro de mim? Eu confio que, por mais que Ele silencie – Jesus dormia –, Ele é e garante minha vida? Eu me desespero? Que tamanhos tomam meus medos? Nesse momento da oração, posso deter-me um pouco nessas perguntas para respondê-las, sem me condenar, sem me julgar… apenas pensar nas respostas para ver quem eu sou na barca e como eu vou chamar Jesus…
Depois disso, posso olhar o que sucede: Jesus se levanta e ordena que os ventos e as ondas se acalmem. Olho para a cena e vejo: as ondas continuam a existir, mas estão mansas… os ventos continuam a soprar, mas não ameaçam. O lago continua profundo e o ar ainda não pode ser visto e não posso prever seu curso. O barco, porém, está estável e segue para a outra margem…
Quando eu deixo que Deus fale em minha vida, que sua voz se escute, os ventos continuam, e também as ondas, e também o lago está aí… Ele não destrói ou cancela nada. Se eu levanto Deus em minha vida e deixo que Ele fale, tudo ao redor continua, mas moldado por outro ritmo. Jesus ritmou os ventos e as ondas. Deu ordem sobre a intensidade dos movimentos… Deixo que Ele dite o ritmo para os meus movimentos?
Peçamos a graça de sempre saber que Deus, mesmo calado, é Deus. Peçamos ao Espírito que nos ajude a acordar a vida d’Ele que há em nós. E, finalmente, peçamos a Ele que, sendo sopro, nos ajude a ritmar nossos movimentos conforme os movimentos da Trindade.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte