Jesus, Pedro, um peixe e uma moeda
14 de agosto de 2017Qual o valor da sua conversa? (Mateus 18, 15-20)
16 de agosto de 2017Leitura: Mateus 18, 1-5. 10. 12-14
Naquele momento os discípulos chegaram perto de Jesus e perguntaram:
— Quem é o mais importante no Reino do Céu?
Jesus chamou uma criança, colocou-a na frente deles e disse:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não mudarem de vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. A pessoa mais importante no Reino do Céu é aquela que se humilha e fica igual a esta criança. E aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará recebendo a mim.
— Cuidado, não desprezem nenhum destes pequeninos! Eu afirmo a vocês que os anjos deles estão sempre na presença do meu Pai, que está no céu.
— O que é que vocês acham que faz um homem que tem cem ovelhas, e uma delas se perde? Será que não deixa as noventa e nove pastando no monte e vai procurar a ovelha perdida? Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando ele a encontrar, ficará muito mais contente por causa dessa ovelha do que pelas noventa e nove que não se perderam. Assim também o Pai de vocês, que está no céu, não quer que nenhum destes pequeninos se perca.
Oração:
Em várias passagens, aqueles que eram próximos de Jesus desejavam saber quem, no Reino, teria maior prestígio, seria mais importante… Eles pensavam que o Reino do qual Jesus falava seria parecido com os reinos que conheciam: grandes territórios para governar por meio do uso da força; quem estava nos palácios vivia do suor dos súditos. Jesus, para fazer-se entender, utiliza várias imagens para falar do Reino. No início da oração de hoje, peçamos ao Espírito que abra nosso coração e nossa mente, que, como os discípulos, às vezes querem reduzir o Reino aos reinos do mundo. Peçamos a graça de compreender o que Jesus diz sobre o Reino e a força para vivê-lo.
Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não mudarem de vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. Um dos caminhos para entrar no tipo de Reino ao qual Jesus se refere é tornar-se criança. Por óbvio, Jesus sabe que, nascidos e crescidos, é impossível que sejamos novamente pequenos. A imagem da criança é, no entanto, de grande precisão. Agora, enquanto rezamos, podemos nos recordar da nossa infância. Provavelmente, sentíamo-nos muito fracos, baixinhos, incapazes de várias coisas. É provável também que tenhamos experimentado o amor e o cuidado, se não de nossos pais, de alguém que se responsabilizasse por nossa vida. Essa pessoa podia tanto mais que nós! Fazia-nos a comida, levava-nos à escola, dava-nos remédios. Alguém talvez nos tenha colocado um dia sobre os ombros para que pudéssemos ver o que, de nossa altura natural, não poderíamos enxergar. Alguém talvez nos tenha explicado várias coisas sobre as quais não fazíamos ideia e, em relação a outras, pedido tempo: “um dia vou te explicar sobre isso”. Jesus, hoje, aponta a infância espiritual como caminho para o Reino. Não é possível que tenhamos o Pai se não formos filhos. E um filho é, para os pais, sempre pequeno, frágil, necessitado de amor e cuidado. Assim somos para o Pai. Mas é necessário escolher viver como filho, desapegar-se das respostas prontas, das seguranças, do orgulho… é necessário voltar às perguntas, às incertezas, ao sentimento de impotência que tantas vezes experimentam as crianças. Só quando nos abaixamos podemos ver a altura do Pai…
Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando ele a encontrar, ficará muito mais contente por causa dessa ovelha do que pelas noventa e nove que não se perderam. Outra imagem que Jesus usa para falar de Deus é a do bom pastor, que abandona o rebanho para ir atrás de UMA ovelha perdida. Certamente, quando se criam animais para o abate, o extravio de um, se notado, não levaria o pastor a correr o risco de perder todo o rebanho apenas para recuperar o que se perdeu. A imagem – tão estranha e improvável – de um pastor que abandona o rebanho para recuperar UM animal perdido revela-nos que Deus não nos vê como criaturas quaisquer, como gado que Lhe preenche o pasto. Para Ele, somos filhos. Um pai e uma mãe, por muitos filhos que tenham, não podem aceitar que um deles lhes falte à mesa. Quando um filho ou uma filha morre, não se lhes diz, em consolo: “Ao menos você tem mais cinco!”. Um filho, para um pai, por mais filhos que tenha, é tudo em si. Falta um filho, falta tudo. Assim somos para Deus. Se faltamos, não se preenche nosso lugar. No coração de Deus não temos uma vaga, que se pode preencher com outro(a); no coração de Deus temos um quarto, um lugar à mesa… se faltamos, fica o vazio e a vontade de que ocupemos, novamente, nosso lugar.
Peçamos ao Espírito que nos ajude a percorrer o caminho que nos faz, espiritualmente, crianças. Um caminho que nos leva a ver que Deus não é Pai só por uma metáfora bonita… que Ele nos procura como um pai e uma mãe procuram um(a) filho(a) que se perde: até o fim, incansavelmente.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte