“… quando ele a encontrar, ficará muito mais contente…”
15 de agosto de 2017Perdoar: ato insistente, ato infinito
17 de agosto de 2017“— Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre-lhe o seu erro. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois. Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão. Mas, se não ouvir, leve com você uma ou duas pessoas, para fazer o que mandam as Escrituras Sagradas. Elas dizem: “Qualquer acusação precisa ser confirmada pela palavra de pelo menos duas testemunhas.” Mas, se a pessoa que pecou não ouvir essas pessoas, então conte tudo à igreja. E, se ela não ouvir a igreja, trate-a como um pagão ou como um cobrador de impostos.
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o que vocês proibirem na terra será proibido no céu, e o que permitirem na terra será permitido no céu.
— E afirmo a vocês que isto também é verdade: todas as vezes que dois de vocês que estão na terra pedirem a mesma coisa em oração, isso será feito pelo meu Pai, que está no céu. Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com eles.”
Na oração de hoje, peçamos ao Pai pelas nossas relações em família, em comunidade e em sociedade, para que sejam mais de acordo com o amor que Seu Filho nos propõe.
Jesus sabe que nem tudo são flores nas relações. No Evangelho de hoje, mostra-nos um caminho que parte da conexão com Ele, com o seu amor, e não parte das nossas carências. “Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre-lhe o seu erro. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois.” Hoje em dia, o que mais vemos são indiretas nas redes sociais, quando não acusações e exposição pública das pessoas. Quando alguém nos ofende, é como se quiséssemos disputar com ele as outras pessoas, ver quem fica com mais gente do seu lado. Pura carência!
Jesus aponta o caminho do diálogo fraterno, feito de respeito, sinceridade, abertura, humildade e discrição. É chegar junto do outro. Mostrar-lhe o erro não como quem aponta, acusa e julga, mas como quem está disposto em primeiro lugar a desnudar-se, a expor a própria fragilidade. As regras da “Conversa de Valor” criada por Roberto Adami Tranjan sintonizam com esse caminho e podem nos ajudar.
V erdadeira
A ssertiva
L iteral
O portuna
R elevante
Verdadeira é a conversa em que expresso a própria verdade, sobretudo os sentimentos gerados em mim pela atitude do outro. Não é dizer: “Você fez isso, isso e isso!”, mas dizer: “Quando você falou tal coisa, eu me senti assim”; “quando você fez tal gesto, provocou isto em mim”.
Assertiva é a fala sobre um comportamento específico, e não sobre o ser do outro. Não direi ao outro: “Você é assim”. Ao contrário, afirmarei: “Naquela situação, você agiu assim”
Literal também vai ao encontro da pontualidade, da especificidade, e não do genérico. Em lugar de dizer “Você nunca faz tal coisa” ou “você sempre fala isso”, direi: “No dia tal, você falou tal coisa que me magoou”.
Oportuna é no momento adequado. A pior coisa costuma ser reagir imediatamente, falar na hora da raiva. Costuma sair bem pouca fraterna uma fala assim, provocando às vezes um rombo maior. No entanto, muitas vezes não criamos a oportunidade, a ocasião de falar, próxima ao fato ocorrido. Quando vemos, passaram-se meses, anos em que guardamos um rancor, e o outro nem se lembra mais da situação.
Relevante é a conversa boa para mim e para o outro. Os pontos anteriores ajudam a ser boa para o outro porque, ao dar-lhe uma informação pontual e objetiva, ele poderá fazer algo com ela (diferente de dizer “Você é assim”). Expressar será bom para mim, para não guardar o que faz mal. No entanto, há algo além que garantirá esses dois lados saudáveis: a intenção.
Antes de ter uma conversa com o irmão, preciso tê-la com o Senhor. Colocar-me diante dele abrindo meu coração, expressando e deixando que Ele me cure e me ajude a perdoar. A reconciliação dependerá do outro. O perdão está em mim, independente do resultado da conversa com o outro, aliás, antes dele. Depende só de mim perdoar, com a graça de Deus. E preciso pedi-la. E assim pedir também a purificação das minhas intenções: que não sejam vingar-me do outro, ofender-lhe pelo que me ofendeu, colocar-me superior a ele…. mas apenas trazer o irmão de volta. “Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão.”
Jesus passa para outros níveis. Penso, no entanto, que temos muito a praticar neste primeiro, que já raramente vivemos. Apenas algumas palavras, por isso, sobre os demais. Tratam-se de casos em que o outro está em erros que levam a menos vida para si e/ou para os demais. Jesus diz para, após uma tentativa frustrada de diálogo a sós, levar 2 ou 3 pessoas – aquelas experientes, pertinentes ao assunto. De novo, a intenção não é dividir ou fofocar, e sim resgatar o outro. O terceiro passo é falar com a comunidade. Na época em que o Evangelho de Mateus foi escrito, as comunidades eram pequenas e íntimas, “tinham tudo em comum”, realidade um pouco diferente da nossa. Podemos pensar, no entanto, em quais representantes da Igreja são pertinentes a tratar do caso. Por fim, Jesus diz para ser tratado como um pagão. Nem este ponto significa de excluir o outro, mas considerá-lo como da multidão, necessitado de um novo processo de evangelização, uma experiência nova, “começar do começo”. Todos merecem a chance de um recomeçar.
Terminemos nossa oração agradecendo pelo Senhor fazer-se presente quando nos reunimos em seu nome, e pelo poder que nos dá de ligar, de conectar as pessoas com Ele. Peçamos-lhe a graça de bem viver esse dom e, a partir dele, pôr em prática o diálogo e o amor fraterno.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei