Basta ter fé! (Mc 5, 21-43)
4 de fevereiro de 2014“Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi ao seu encontro. Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras.
Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: ‘Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!’ Com efeito, Jesus lhe dizia: ‘Espírito impuro, sai desse homem!’ Então Jesus perguntou: ‘Qual é o teu nome?’ O homem respondeu: ‘Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos.’ E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região.
Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. O espírito impuro suplicou, então: ‘Manda-nos para os porcos, para que entremos neles.’ Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manada – mais ou menos uns dois mil porcos – atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou.
Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos.
E as pessoas foram ver o que havia acontecido. Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado,
vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles.
Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: ‘Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti.’ Então o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.”
Esta passagem é muito interessante porque ela nos apresenta um homem atormentado por uma legião de demônios, que chegava a ferir-se com pedras, mas, curiosamente, este homem suplica a Jesus: “Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!”. Há uma inversão de valores, o atormentado pede ao Príncipe da Paz para que não o atormentes e pede isto em nome de Deus.
Para mim isto é um convite a refletir sobre meu comportamento em relação as exigências do amor.
Quando o amor se aproxima de nós, quando ele começa a penetrar em nosso ser, ele começa a fazer exigências e, muitas vezes, sentimos que as exigências do amor estão nos atormentando. Nós invertemos os valores. O amor não consegue conviver com o consumismo a que somos constantemente instigados. A propaganda contínua, as facilidades e a variedade de coisas que são criadas para consumirmos, sugam completamente nosso tempo e forças e, daí, não conseguimos mais atender as exigências do amor.
Não temos tempo e nem ânimo para os gestos concretos do amor, como foi dito por Jesus, matar a fome do faminto, matar a sede do sedento, receber o estrangeiro, vestir o que está sem roupa, cuidar do doente, visitar o que está preso, porque nosso tempo e forças são consumidos pela necessidade que criaram em nós do consumo.
Este consumo desenfreado é uma pedra que nos fere. Nós não fomos criados para isto. A essência do nosso ser é ferida quando cultivamos valores do “ter”.
Estamos invadidos por uma legião de valores “demoníacos”, que nos castigam, e a passagem de hoje é um convite para deixarmos Jesus, o dom do amor de Deus, nos libertar de todos eles.
Uma revisão tão profunda, dos nossos hábitos de consumo desenfreado, com certeza abalam as estruturas do sistema, de tal forma que o poder econômico ficará incomodado com nossas mudanças, quando virem suas porcarias se afundando no mar. Provavelmente vai querer expulsar Jesus de seu território.
Vem Jesus! Vem nos libertar de tudo que nos escraviza!
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG