Se tivermos fé… (Mt 17, 14-20)
11 de agosto de 2018Amor fraterno em comunidade
15 de agosto de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, toca meu coração
e faze com que nele a Palavra
encontre um lugar para crescer.
Espírito Santo, toca minha vontade, para que minhas ações
sejam impulsionadas pelo Evangelho.
Espírito Santo, toca minha vida,
para que possa encontrar-me com meus irmãos
e formar comunidade, anunciando a vida nova que Jesus nos traz.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 6.41-51
O povo procura Jesus
41Eles começaram a criticar Jesus porque ele tinha dito: “Eu sou o pão que desceu do céu.” 42E diziam:
— Este não é Jesus, filho de José? Por acaso nós não conhecemos o pai e a mãe dele? Como é que agora ele diz que desceu do céu?
43Jesus respondeu:
— Parem de resmungar contra mim. 44Só poderão vir a mim aqueles que forem trazidos pelo Pai, que me enviou, e eu os ressuscitarei no último dia. 45Nos Profetas está escrito: “Todos serão ensinados por Deus.” E todos os que ouvem o Pai e aprendem com ele vêm a mim. 46Isso não quer dizer que alguém já tenha visto o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; ele já viu o Pai.
47 — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem crê tem a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Os antepassados de vocês comeram o maná no deserto, mas morreram. 50Aqui está o pão que desce do céu; e quem comer desse pão nunca morrerá. 51Eu sou o pão vivo que desceu do
céu. Se alguém comer desse pão, viverá para sempre. E o pão que eu darei para que o mundo tenha vida é a minha carne.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Por que os judeus murmuram? O que é que não podem aceitar de Jesus?
· O que é que os judeus não têm e por isso não aceitam Jesus?
· Conforme as palavras de Jesus, como é que chegamos a crer?
· O que nos dá a fé em Jesus?
· Que relação existe entre a fé e o comer?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
O evangelho do domingo passado terminou com uma afirmação forte de Jesus: “Eu sou o pão da vida. Que vem a mim nunca mais terá fome, e que crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6.35). Seguem-se alguns versículos (Jo 6.36-40), que não se leem hoje, nos quais Jesus declara que a vontade do Pai é que todos vão a ele pela fé a fim de ter vida, para que ele os ressuscite no último dia.
O texto de hoje começa com a reação dos judeus diante destas afirmações de Jesus: a murmuração. Esta atitude é encontrada com frequência nos relatos do caminho de Israel pelo deserto rumo à terra prometida. Ali, repetidas vezes o povo murmura contra Deus e contra Moisés (cf. Êx 15.24; 16.2,7; 17.3; Nm 14.2,27,29,36…). Concretamente, a murmuração é o contrário da fé, da aceitação dos caminhos de Deus, que não são os nossos. Portanto, Jesus pede fé, crer, ir até ele e confiar nele, aceitá-lo. Os judeus resistem a isso, murmuram, escandalizam-se porque, vendo sua humildade e conhecendo sua origem natural, seus pais, não aceitam que possa dizer que “desceu do céu”.
Em seguida, Jesus responde-lhes que a dificuldade que eles experimentam para crer, para “vir a ele”, será superada caso eles admitam que para crer é necessário “ser trazido” pelo Pai; é preciso receber este dom e deixar-se ensinar por Deus. E isto é assim porque, como se esclarece mais adiante, o ver o Pai é uma exclusividade de Jesus, que o viu porque veio de Deus. Esta afirmação já havia aparecido no prólogo do evangelho: “Ninguém nunca viu Deus. Somente o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, foi quem nos
mostrou quem é Deus” (Jo 1.18). É claro, pois, que somente podemos conhecer a Deus se ele mesmo se revela, dando-se a conhecer. E ele o fez por meio de Jesus. Crendo em Jesus, podemos conhecer o Pai.
Pouco depois Jesus volta a repetir o que se obtém pela fé: a vida eterna. Ressaltamos que o verbo “crer” está no particípio presente (aquele que está acreditando) e o verbo “ter”, no presente (tem). Por conseguinte, a fé nos faz participantes, já desde agora, da vida eterna.
Nos versículos 48-50, Jesus insiste na diferença essencial entre o maná que os pais comeram no deserto e sua pessoa como Pão de Vida. O maná, mesmo sendo um alimento que desceu do céu, ou seja, mesmo que tenha sido um dom de Deus, não evitou que os israelitas morressem. Por outro lado, Jesus apresenta-se, oferece-se como o pão descido do céu e que dá a vida eterna, que faz com que quem dele se alimente, não morra. Há um claro paralelo entre comer e crer, pois, em ambos os casos se trata de receber.
No versículo final (v. 51) se repete a afirmação do começo (v. 41): “Eu sou o pão vivo que desceu do céu”, com o acréscimo de “vivo”. Deste modo, os símbolos do pão e da vida aparecem mais intimamente unidos. Porque é “Pão vivo”, vivente, pode dar Vida. A segunda parte do versículo reforça esta ideia e introduz um novo elemento: “Se alguém comer desse pão, viverá para sempre. E o pão que eu darei para que o mundo tenha vida é a minha carne”. O novo aqui é que Jesus identifica o pão que dará com sua própria carne para a vida do mundo.
O que o Senhor me diz no texto?
O documento preparatório para o Sínodo dos Jovens diz que “os jovens têm muitas perguntas a respeito da fé, mas desejam respostas que não sejam diluídas ou com fórmulas pré-fabricadas” (nº 11). Vamos tentar dar respostas adequadas seguindo o evangelho de hoje e o conselho do Papa Francisco: “…que uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida” (Encontro com os membros da Cúria Romana para a apresentação dos votos natalícios, em 21 de dezembro de 2017).
Justamente um dos temas chaves do evangelho deste domingo é a FÉ. O que se entende por fé no evangelho de João e como nos pode ajudar a crer mais e melhor?
Em primeiro lugar, a fé é apresentada como um dom de Deus: Deus Pai é quem nos “atrai” para que aceitemos Jesus e acreditemos nele. Então, a fé é um maravilhoso presente que Deus nos dá.
Em segundo lugar, o Pai exerce esta “atração” sobre todas as pessoas, porque todos somos seus filhos. Deus atrai-nos a todos, oferece a todos nós o dom da fé. No entanto, nem todos aceitam esta atração. Conseguintemente, a fé permanece sempre um ato livre, pois Deus nos atrai, mas não nos obriga. Mantemos em nossas mãos a capacidade de rejeitar Deus, de resistir à sua atração.
E o que nos traz a fé? A fé abre nossa vida a um horizonte mais amplo; ter fé é como poder colocar a cabeça fora do submarino onde passamos determinado tempo; a fé é sair à luz do dia depois de estar fechados em um quarto escuro; ter fé é como ver um céu azul e claro depois de muitos dias nublados e sem sol. A fé convida-nos a superar os limites próprios do humano. A fé abre-nos a um maravilhoso caminho de amizade com Jesus, que nos toma pela mão e nos conduz pela vida, ajudando-nos a superar as provações e obscuridades que nunca faltam. A fé permite-nos encontrar sentido no que vivemos dia após dia. A fé permite que Jesus entre em nosso coração e o liberte do egoísmo. É muito acertado o que diz o Papa Francisco: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG nº 1).
A fé é luz, é calor, é esperança, é um olhar novo para ver a vida com outros olhos, descobrindo todo o bem e toda a beleza que Deus semeou no mundo. A fé é também como uma rocha sobre a qual podemos deter-nos e permanecer firmes nos momentos de dificuldade, quando parece que tudo desmorona dentro de nós e se desfazem muitas certezas. A fé permite-nos apoiar-nos no que permanece para sempre, no eterno e definitivo, que é o amor de Deus.
Por fim, no evangelho de João, a opção fundamental do homem diante de Deus é uma escolha livre entre permanecer centrado em si mesmo, em seus próprios interesses, na busca da glória pessoa, numa palavra, nas trevas; ou abrir-se a Deus, a seu amor manifestado em Cristo, ao dom da vida nova e eterna, em resumo, à luz. Esta segunda atitude é a que permite ser trazido pelo Pai e faz com que a fé como dom se complemente com a fé como opção de vida.
Em conclusão, a fé é, antes de mais nada, um dom que se recebe, e seu amadurecimento é um caminho a ser percorrido. No entanto, em primeiro lugar se deve afirmar que “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus Caritas est 1; EG 7). A partir deste encontro, configura-se uma experiência que transforma a existência, orientando-a de forma dialógica e responsável. Ao crescer, cada jovem se dá conta de que a vida é maior do que ele, que não controla tudo em sua existência; percebe que ele é o que é graças ao cuidado que outros lhe reservaram, em primeira instância, seus pais; convence-se de que, para viver bem sua história, deve tornar-se responsável pelos outros, reproduzindo aquelas altitudes de cuidado e de serviço que o fizeram crescer (Instrumentum laboris do Sínodo dos Jovens, 82).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Custa-me crer em Jesus e levar uma vida coerente com minha fé?
· Já consegui identificar quais são os obstáculos que encontro em meu caminho de fé e que me impedem de crescer de todo o meu coração e em toda a minha vida?
· Já tive alguma experiência luminosa da fé? Conservo sua lembrança em minha memória para os momentos de obscuridade?
· Sinto alegria ou júbilo por acreditar em Jesus, ou me parece algo que não traz muita coisa para minha vida?
· A fé me permite conservar-me firme e sereno em meio às contradições?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Deus Pai, pela fé.
Obrigado por dar-me Jesus, que me convida a vivê-la concretamente.
Quero crer nele.
Arranca de mim, de um só puxão, as murmurações contra ele e meus irmãos.
Liberta-me de querer tudo controlar.
Que me apaixone sempre pelo Reino, deixando de lado meus interesses.
Arranca-me do vazio, do isolamento.
Toma minha vida: atrai-me sempre mais.
Reúne-me em comunidade para que, com outros, amadureça em teu seguimento,
sendo fiel a teu projeto de vida nova e terna.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, quero crer em ti: aumenta minha fé”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, evitarei as murmurações. Rezarei por quem não tem fé.
“A graça da fé é precisamente esta ‘atração’ da parte de Deus, exercida em relação com a essência interior do homem, para que responda (…), abandonando-se a Deus”.
São João Paulo II