III Domingo da Quaresma – Ano C
28 de fevereiro de 2016Exercitar a misericórdia e o perdão (Mt 18, 21-35)
1 de março de 2016Leitura: Lucas 4, 24-30
E Jesus continuou:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. Eu digo a vocês que, de fato, havia muitas viúvas em Israel no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e meio, e houve uma grande fome em toda aquela terra. Porém Deus não enviou Elias a nenhuma das viúvas que viviam em Israel, mas somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado.
Quando ouviram isso, todos os que estavam na sinagoga ficaram com muita raiva. Então se levantaram, arrastaram Jesus para fora da cidade e o levaram até o alto do monte onde a cidade estava construída, para o jogar dali abaixo. Mas ele passou pelo meio da multidão e foi embora.
Oração:
Lucas nos conta que, logo no início da missão de Jesus, ele enfrenta uma dificuldade na cidade onde cresceu. Em Nazaré, morou com os pais, conviveu com seus vizinhos, fez amizades, aprendeu a trabalhar. Os pais de seus amigos o viram cair, se esfolar naquela terra, ser educado por Maria e José… Seus conterrâneos não poderiam, portanto, aceitar que aquele menino, crescido, fizesse outra coisa senão trabalhar como seu pai, viver como sua família, constituir talvez a sua própria… mas Jesus escutou outra voz e deu-lhe ouvidos – e boca e mãos e pés e coração.
Conosco ocorre o mesmo. Às vezes, quando miramos com coragem o projeto que Deus apresenta para a nossa vida, ouvimos dos outros: mas você? Você sequer… Às vezes, ao discernirmos a vontade do Pai para nossa vida, somos atropelados pelo autoconhecimento, pelo “autorresfriamento”, pela sobriedade pessimista: você acha que é mesmo para você? Você, que tanto já falhou, que tanto já abandonou, que tanta dor já sentiu e espalhou…?
Dar demasiada atenção a tais murmúrios, externos e internos, é se jogar desse monte de onde quiseram precipitar Jesus. Ele, que só daria sua vida quando chegasse a hora, passou pelo meio da multidão e foi embora. Noutra tradução, vemos que ele, “passando pelo meio deles, prosseguia seu caminho…”
Como é necessário, hoje e sempre, passar pelo meio das coisas, não deixar que nos joguem do alto, e seguir o caminho! Não há solução mágica na vida; Jesus não levitou por cima dos seus conterrâneos, mas passou pelo meio deles…
Quais são as situações, sentimentos, passados, pecados e dificuldades por meio dos quais tenho de passar para continuar meu caminho? Ingratidão, tristezas, saudades, remorsos, mágoas, inseguranças, dúvidas, falta de fé… encontro, na oração, a força para viver no meio disso tudo e passar por isso tudo a fim de continuar o caminho?
Qual é o caminho que eu continuo?
Há um texto, muito simples, bonito e conhecido, provavelmente inspirado em “Os Mandamentos Paradoxais” de Kent M. Keith, que fala desse “passar pelo meio deles e prosseguir o caminho”. Vale a pena lê-lo e rezá-lo:
Muitas vezes as pessoas
são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil,
as pessoas podem acusá-lo de interesseiro.
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor,
terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco,
as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir,
alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz,
as pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje,
pode ser esquecido amanhã.
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você,
mas isso pode não ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.
Veja você que, no final das contas,
é tudo entre você e Deus.
Nunca foi entre você e os outros.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte