O Senhor me escolheu para… (Lucas 4,14-22a)
8 de janeiro de 2015É preciso que Ele cresça e eu diminua (João 3,22-30)
10 de janeiro de 2015“Certa vez Jesus estava numa cidade onde havia um homem que tinha o corpo todo coberto de lepra. Quando viu Jesus, o leproso se ajoelhou diante dele, encostou o rosto no chão e pediu:
‘Senhor, eu sei que o senhor pode me curar se quiser!’
Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: ‘Sim! Eu quero. Você está curado.’
No mesmo instante a lepra desapareceu. Então Jesus lhe deu esta ordem: ‘Escute! Não conte isso para ninguém, mas vá pedir ao sacerdote que examine você. Depois, a fim de provar para todos que você está curado, vá oferecer o ‘sacrifício que Moisés ordenou’.
Mas as notícias a respeito de Jesus se espalhavam ainda mais, e muita gente vinha para ouvi-lo e para ser curada das suas doenças. Porém Jesus ia para lugares desertos e orava.”
Na oração de hoje, podemos deter-nos mais longamente na contemplação. Ver a cena, entrar, participar dela com todos os nossos sentidos.
Contemplar o homem com “o corpo todo coberto de lepra”. Como era a sua vida? Em cavernas, separado de todos, sem poder entrar na cidade e participar da vida comunitária. Dores físicas, dores afetivas, dores espirituais, a dor de um “Por que?” que não tem resposta… Ver a atitude dele diante de Jesus: podia ser alguém revoltado com Deus, mas era alguém humilde, que reconheceu a presença de Deus no homem Jesus, reconheceu o seu senhorio, o seu poder e a liberdade do seu querer.
Podemos nos identificar e nos colocar no lugar deste homem. Quais as minhas lepras? Que “enfermidades” me atingem física, psicológica e até espiritualmente? Em que situações sinto a necessidade da cura do Senhor? Pode ser cura até dos nossos medos. O medo nos paralisa e atinge em todos os sentidos. E o maior dos medos é o medo de amar. São João dizia: “O amor lança fora o temor.” Por medo deixamos de fazer tanto bem e às vezes fazemos males. Por medo nossa sociedade constroi muros, alimenta preconceitos e faz guerras. O medo, gerador do não-amor, é a maior lepra social da nossa humanidade.
“Senhor, eu sei que o senhor pode me curar se quiser!” Se tivermos a oportunidade de um lugar propício, até nos colocarmos na mesma postura que o leproso e tomar emprestada a sua profunda humildade, fazer experiência dela a partir da própria oração. E pronunciar repetidas vezes as suas palavras até entrar na confiança e no abandono que ele vivenciou com o Senhor.
Contemplar também Jesus. Diante daquele de quem todos se afastavam, Ele para. Estende a mão, toca, fala. Ver Jesus passando na nossa realidade atual, nas nossas cidades, e fazendo o mesmo diante daqueles de quem todos se afastam. Ele quer fazer através de pessoas que se identificam com o seu amor e querem viver o que ele viveu, querem deixar que Ele viva em si. Ver estas pessoas cuidando dos “leprosos” atuais. Agradecer pelo dom da vida delas e pedir a graça de nos identificar com Jesus também diante dos nossos irmãos, de agir como Ele, de amar como Ele, de colocar o dedos nas feridas para curar, não para ferir ainda mais.
Jesus reintegra o homem na vida social. Do jeito como a sua fama se espalha, Ele poderia passar o resto da vida curando pessoas, tal era a necessidade, e ainda ficariam muitíssimas sem que, na sua limitação humana de tempo e espaço, Ele conseguisse atingir. Ele sabe disso. E busca mais profundamente a vontade do Pai: “Porém Jesus ia para lugares desertos e orava.” Jesus busca junto do Pai a forma de ir à raiz. Qual a raiz de tantos males e de tanto sofrimento das pessoas? Ele descobre o não ao Amor, dado por Adão e Eva e continuado por todos os homens e mulheres ao longo da história. Em seu Mistério Pascal, dá um “sim” definitivo ao amor, abrindo a possibilidade para que todos saiamos de nossos medos que nos deixam amarrados à morte (porque o medo faz isso, nos arrasta exatamente para o que tememos) e participemos do seu sim, gerando com Ele vida ao nosso redor.
Nossas respostas familiares, pastorais e sociais têm sido paliativas ou ido à raiz dos males?
Peçamos a Ele a graça de deixar-nos curar da nossa lepra, viver o amor e a compaixão concretos que Ele vive com quem surgir à nossa frente, mas ao mesmo tempo buscar o constante discernimento com o Pai de como Ele nos chama a tocar nas raízes e ser instrumentos do Seu amor transformador.
Tania Pulier, comunicadora social – Palavra Acesa Editora – Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner.