Sou eu. Não temais. (Jo 6, 16-21)
14 de abril de 2018Comida que dura para sempre
16 de abril de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e enche-me com a força da Ressurreição.
Vem, Espírito Santo, e renova-me para crer no Ressuscitado.
Vem, Espírito Santo, neste caminho pascal,
para que junto a outros, possa ser testemunha da Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO
Lucas 24.35-48
35Então os dois contaram o que havia acontecido na estrada e como tinham reconhecido o Senhor quando ele havia partido o pão.
Jesus aparece aos discípulos
Mateus 28.16-20; Marcos 16.14-18; João 20.19-23; Atos 1.6-8
36Enquanto estavam contando isso, Jesus apareceu de repente no meio deles e disse:
— Que a paz esteja com vocês!
37Eles ficaram assustados e com muito medo e pensaram que estavam vendo um fantasma. 38Mas ele disse:
— Por que vocês estão assustados? Por que há tantas dúvidas na cabeça de vocês? 39Olhem para as minhas mãos e para os meus pés e vejam que sou eu mesmo. Toquem em mim e vocês vão crer, pois um fantasma não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho.
40Jesus disse isso e mostrou as suas mãos e os seus pés. 41Eles ainda não acreditavam, pois estavam muito alegres e admirados. Então ele perguntou:
— Vocês têm aqui alguma coisa para comer?
42Eles lhe deram um pedaço de peixe assado, 43que ele pegou e comeu diante deles. 44Depois disse:
— Enquanto ainda estava com vocês, eu disse que tinha de acontecer tudo o que estava escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos livros dos Profetas e nos Salmos.
45Então Jesus abriu a mente deles para que eles entendessem as Escrituras Sagradas 46e disse:
— O que está escrito é que o Messias tinha de sofrer e no terceiro dia ressuscitar. 47E que, em nome dele, a mensagem sobre o arrependimento e o perdão dos pecados seria anunciada a todas as nações, começando em Jerusalém. 48Vocês são testemunhas dessas coisas.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · Quem são esses discípulos que voltam a Jerusalém e o que contam aos apóstolos?
- · Como reagem os discípulos diante da aparição de Jesus ressuscitado?
- · O que Jesus lhes propõe para que possam admitir que é ele mesmo e não um fantasma?
- · O que Jesus diz aos discípulos e o que faz com a mente deles?
- · Qual a missão que lhes confia no final do relato?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini[1]
Costuma-se dividir este texto em duas seções: o reconhecimento (Lc 24.35-43) e a instrução ou ensinamento de Jesus (Lc 24.44-49).
O relato de reconhecimento começa com a aparição de Jesus, que saúda oferecendo a paz, o que é comum em outros relatos de aparições do ressuscitado.
A primeira reação dos discípulos diante de Jesus ressuscitado é de “temor e tremor”, pois julgam ver um fantasma. Jesus interpreta esta reação como “perturbação e dúvida”, e as esclarece mostrando-lhes as mãos e os pés, convidando-os a ver e a tocar, indicando que um “fantasma não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho”. Mediante esta última expressão, “Lucas indica sua verdadeira intenção: a aparição não é uma ilusão. Jesus não é um “espírito” nem um “fantasma” (X. León-Dufour). Tal como para nós, hoje em dia, na antiguidade bíblica se consideravam os espíritos como espectros que podiam aparecer em forma humana, mas que não tinham “nem carne nem ossos”.
A reação dos discípulos agora é de incredulidade, não, porém, como rejeição em crer, senão como dificuldade para aceitar algo demasiado belo e surpreendente, que lhes causava extrema alegria e admiração. Algo assim como quando dizemos que é bom demais para ser verdade. Diante disto, Jesus realiza o ato de comer um pedaço de peixe diante deles para que admitam que não é um fantasma, mas um ser real. Por fim, Jesus faz todas estas coisas para dissipar as dúvidas de seus discípulos e mostrar que o Crucificado é, agora, o Ressuscitado.
A segunda subseção é a instrução de Jesus: tendo convencido seus discípulos de que realmente é o Crucificado que ressuscitou, pode agora conferir-lhes seu ensinamento final, que se refere ao sentido das Escrituras, à missão dos discípulos e ao envio da promessa do Pai.
Como fez antes com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24.26-27), Jesus ensina-lhes que tudo o que aconteceu já havia sido predito por ele durante sua vida pública e que tudo se passou conforme as Escrituras, ou seja, segundo o prévio desígnio de Deus. Em seguida, abriu-lhes a inteligência para que compreendessem as Escrituras, particularmente a necessidade da paixão e da ressurreição do Messias. Portanto, somente Jesus ressuscitado pode dar-nos a chave correta para a interpretação das Escrituras. Antes dele, as mentes permaneciam fechadas, sendo isto uma desculpa para a incompreensão dos discípulos, para seu abandono de Jesus durante a paixão e sua incredulidade posterior. Contudo, após deste “dom da abertura mental”, eles têm a missão de ser testemunhas de que o Crucificado ressuscitou verdadeiramente segundo o plano previsto por Deus e atestado nas Escrituras.
Ao mesmo tempo, Lucas diz-nos que são os discípulos que têm agora a inteligência, a compreensão autêntica, verdadeira da Escritura. Portanto, é necessário escutar os discípulos de Jesus, a Igreja, para ter a intepretação correta das Escrituras. Nós encontramos tal interpretação já no livro dos Atos dos Apóstolos, onde vemos como Pedro e Paulo interpretam a Escritura em seus discursos. A comunidade cristã, inclusive, nasce em torno deste ensinamento apostólico (At 2.42).
O que o Senhor me diz no texto?
Estamos no tempo pascal, tempo de busca da presença de Jesus ressuscitado em nossa vida, hoje. E o evangelho ensina-nos o modo como Jesus se faz presente; indica-nos também os “lugares” onde podemos encontrar-nos com ele hoje.
Em todos os relatos de aparição, Jesus entra na vida dos discípulos de modo simples e discreto; e muitas vezes eles não o reconhecem imediatamente. Isto quer dizer-nos, em primeiro lugar, que Jesus está presente em nossa vida mesmo que não o reconheçamos de imediato; em segundo lugar, que chegar a uma verdadeira fé pascal supõe um processo de purificação do olhar pela fé. Por isso, é preciso arriscar-nos a começar o caminho com a certeza de que o Senhor encontrará os meios de ajudar-nos a reconhecer sua presença, assim como fez com os apóstolos.
De modo especial, neste domingo, somos convidados a encontrar sua presença, sua Palavra viva e eficaz no tesouro das Sagradas Escrituras, intimamente unidas à tradição apostólica que as explica para que as compreendamos correta e integralmente.
Com clareza, o evangelho de hoje mostra-nos que é necessário recorrer às Escrituras para aceitar a cruz como parte do plano do Pai e para compreender tudo o que aconteceu, incluindo-se a ressurreição do Senhor Jesus. Ao mesmo tempo, é preciso que o Senhor ressuscitado “nos abra a mente” para que possamos compreender as Escrituras; e elas nos ajudam a entender o sentido da vida e da morte, de Jesus e nossa. Com outras palavras, na Bíblia, o Senhor continua a falar-nos e, com sua Palavra, ilumina-nos para que superemos os momentos obscuros de nossa vida, os momentos de cruz. E também nos ilumina para descobrirmos a presença de Jesus ressuscitado em nossa vida, abrindo-nos à esperança, mostrando-nos novas portas e novos caminhos para sairmos das situações trevosas e fechadas, situações de morte. Em síntese, “a Bíblia deve estar a serviço da vida, criada por Deus, para que nos ajude a descobrir Deus presente na vida. A Bíblia ilumina nossa vida, e nossa vida ilumina a Bíblia; por isso, este livro só tem sentido se o colocamos dentro do livro da vida” (D. Alberca).
Por fim, no Evangelho o Senhor Jesus continua a chamar-nos e a enviar-nos ao mundo como testemunhas da nova vida que quer oferecer a todos os homens. Como diz o Papa Francisco: “Guiado sempre pela Palavra de Deus, cada cristão pode tornar-se testemunha de Jesus ressuscitado. E o seu testemunho é tanto mais credível quanto mais transparecer de um modo de viver evangélico, jubiloso, corajoso, manso, pacífico, misericordioso. Se ao contrário o cristão se deixar cativar pela comodidade, pela vaidade, pelo egoísmo, se se tornar surdo e cego ao pedido de «ressurreição» de tantos irmãos, como poderá comunicar Jesus vivo, como poderá comunicar o poder libertador de Jesus vivo e a sua ternura infinita?” (Regina Coeli, 19 de abril de 2015).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Recorro à Bíblia para que me ilumine nos momentos de obscuridade?
- · Busco descobrir o plano de Deus para minha vida nas Escrituras?
- · Experimentei alguma vez como o Senhor me abre a mente para entender?
- · Dou testemunho da ressurreição do Senhor, principalmente com minha vida alegre e serena?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por entrares em minha vida
de modo simples e concreto.
Obrigado por tua Palavra
que me impele e dá forças.
Abre-me os ouvidos para nela escutar-te
e com minhas obras proclamar-te.
Quero ser testemunha crível e apaixonada
de teu evangelho, de tua cruz vencida, de tua Páscoa.
Conto, Senhor ressuscitado, com tua graça.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, que eu possa escutar-te em tua Palavra e anunciar-te com minhas obras”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me a escutar, todos os dias, o evangelho de Jesus.
“Quem não conhece as Escrituras, não conhece a Cristo”.
São Jerônimo
[1] Pe. Damián Nannini: sacerdote da Arquidiocese do Rosário (Argentina); Licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; Diretor da Escola Bíblia do CEBITEPAL – CELAM.