“Ó Senhor Deus, tu és bom e amoroso; responde-me e vem me ajudar, pois é grande a tua compaixão.”
14 de julho de 2019“Quando te chamei, tu me respondeste e, com o teu poder, aumentaste as minhas forças.”
28 de julho de 2019PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, Dom gratuito, renova-me.
Espírito Santo, Perfume delicado, unge-me.
Espírito Santo, Conselho Garantido, reconforta-me.
Espírito Santo, Força Viva, impele-me a viver o Evangelho.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Lc 10.38-42
Jesus visita Marta e Maria
38Jesus e os seus discípulos continuaram a sua viagem e chegaram a um povoado. Ali uma mulher chamada Marta o recebeu na casa dela. 39Maria, a sua irmã, sentou-se aos pés do Senhor e ficou ouvindo o que ele ensinava. 40Marta estava ocupada com todo o trabalho da casa. Então chegou perto de Jesus e perguntou:
— O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar.
41Aí o Senhor respondeu:
— Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, 42mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. O que faz Jesus e quem o recebe?
2. Quem vivia na casa? O que faz cada uma das irmãs?
3. Que questionamento Marta faz a Jesus e por quê?
4. O que Jesus responde a Marta?
5. Que escala de valores reflete a resposta de Jesus a Marta?
Algumas pistas para compreender o texto:
Mons. Damian Nannini (Dom Damián Nannini é bispo da Diocese de San Miguel (Argentina); licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.)
Jesus entra em um povoado, e uma mulher chamada Marta o recebe em sua casa. O fato de que seja Marta quem dá hospedagem a Jesus indicaria que ela é a irmã mais velha e que tem a autoridade na casa. Inclusive etimologicamente, o nome Marta significa “a que domina”, “dona”.
Em seguida, o relato faz a apresentação de outra personagem, Maria, irmã de Marta, que “se sentou aos pés do Senhor e ficou ouvindo o que ele ensinava”.
A atitude de sentar-se aos pés do Mestre é própria do discípulo. No livro dos Atos dos Apóstolos (At 22.3), Paulo diz que foi “criado como aluno de Gamaliel”, sendo que no original grego se usa a mesma expressão que em Lucas: “Aos pés de”.
A “escuta da Palavra” de Jesus é a atitude própria de seus discípulos ou alunos e, como nos diz o próprio Lucas, escutando a Jesus, escuta-se a Palavra de Deus (cf. Lc 5.1: “…e a multidão se apertava em volta dele para ouvir a mensagem de Deus”). Aqui, é importante levar em conta que as mulheres, na sociedade israelita daquele tempo, estavam excluídas do aprendizado da Tora ou Lei de Deus; não podiam ser discípulas de nenhum rabino ou mestre de Israel. Em assim sendo, Maria está realizando uma atividade e ocupando um lugar reservado até então somente aos varões; está assumindo a posição de discípula do Senhor. Isto equivale a dizer que, segundo as normas culturais daquele tempo, seu lugar deveria ser a “cozinha”, com sua irmã Marta, e não com os discípulos, a escutar Jesus.
A esta “atividade” de Maria, contrapõe-se em seguida, a de sua irmã Marta: ocupada, inquieta, “tomada” pelo muito serviço.
Começa agora o diálogo entre Marta e Jesus (Maria permanece sempre em silêncio, à escuta), com a queixa de Marta: “O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar”. Este queixume é por demais compreensível, pois está sozinha com todo o nobre serviço de oferecer hospitalidade aos hóspedes; por isso pede ao Senhor que a faça tomar consciência de que necessita de sua ajuda. Ao mesmo tempo, porém, há certa reclamação dirigida ao próprio Jesus, considerando-o responsável pela situação ao permitir que Maria esteja a seus pés, escutando-o como mais uma discípula.
A resposta de Jesus começa com uma repetição do nome (Marta, Marta…), o que indica afeto e familiaridade. Em seguida vem uma repreensão dirigia não tanto à atividade ou ao serviço que realiza, mas ao modo como o realiza. Logo se segue uma contraposição entre “as muitas coisas” e a “única coisa necessária”. Esta contraposição se complementa em seguida com o juízo de valor, normativo, que Jesus faz sobre a opção feita por Maria: “Escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela”.
Portanto, Jesus considera como a parte boa, a melhor, a atenção exclusiva a sua Pessoa e à escuta de sua Palavra, até mesmo acima do serviço de hospitalidade que Marta lhe oferece.
O que o Senhor me diz no texto?
Este evangelho apresenta-nos uma tomada de posição de Jesus, um ensinamento normativo, que estabelecer uma novidade para a escala de valores de seus discípulos de ontem, de hoje e de sempre.
Em primeiro lugar, temos a abertura do discipulado à mulher. O que Maria é e o que faz é aprovado por Jesus. Ocupa um legítimo lugar entre os discípulos de Jesus.
Em segundo lugar, o que caracteriza o discípulo de Jesus, o mais importante e único necessário para sê-lo, é a escuta da Palavra de Deus. Neste sentido, bem podemos falar de um primado da contemplação sobre a ação, que nada mais é do que consequência do primado da Graça, do agir de Deus sobre o agir humano.
Além do mais, levando-se em conta que Lucas coloca este evangelho em continuação com a parábola do bom samaritano, ensina-nos que a compaixão autêntica brota de uma contemplação verdadeira. A escuta atenta, discipular, das palavras de Jesus é o que provoca a mudança de coração que nos levará a ver as necessidades do próximo, de todo próximo, a sentir compaixão e a agir em seguida. Portanto, somente um coração que escuta pode chegar a ser um coração que vê.
A este respeito, dizia o Papa Francisco no Angelus de 17 de julho de 2016: “No seu afadigar-se e cansar-se, Marta corre o risco de esquecer — e é este o problema — o mais importante, ou seja, a presença do hóspede, que neste caso era Jesus. Esquece-se da presença do hóspede. E o hóspede não deve ser simplesmente servido, alimentado, cuidado de todos os modos. É necessário sobretudo que seja ouvido. Recordem-se bem desta palavra: ouvir! Porque o hóspede deve ser acolhido como pessoa, com a sua história, com o seu coração rico de sentimentos e de pensamentos, de modo que se possa sentir deveras em família. Mas se você acolher um hóspede em sua casa e continuar a desempenhar as suas tarefas, manda que se sente ali, você e ele calados, é como se fosse de pedra: o hóspede de pedra. Não. O hóspede deve ser ouvido. Sem dúvida, a resposta que Jesus dá a Marta — quando lhe diz que uma só coisa é importante — encontra o seu significado pleno em referência à escuta da palavra do próprio Jesus, aquela palavra que ilumina e ampara tudo aquilo que somos e fazemos. Se vamos rezar — por exemplo — diante do Crucifixo, e falamos, falamos, falamos e depois vamos embora, não ouvimos Jesus! Não deixamos que ele fale ao nosso coração. Ouvir: esta é a palavra-chave”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Dedico tempo à oração?
2. Em minha oração pessoal, procuro escutar o Senhor, ou somente eu falo?
3. Já senti, alguma vez, que a Palavra do Senhor ressoou de verdade em meu coração e me comprometeu ao amor fraterno?
4. Realizo meus apostolados de forma ansiosa e como quem carrega um fardo, ou eles são expressão alegre do amor do Senhor por mim?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por tua Palavra.
Obrigado por entrares em minha casa hoje também.
Dá-me ouvido e coração de discípulo, sempre.
Que não escolha o fazer por fazer, nem o falar por falar.
Que sempre saiba escutar-te.
Somente assim poderei escutar meus irmãos,
especialmente aqueles que pedem, aos gritos, ajuda e presença.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, abre uma vez mais meu coração para escutar tua Palavra”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me escutar alguém de minha família – biológica ou espiritual – sem interromper.
“Jesus necessita de almas que o escutem em silêncio”.
São Rafael Arnáiz