O cajado do Pastor (Mc 6, 7-13)
6 de fevereiro de 2014Tomado de compaixão – Marcos 6,30-34
8 de fevereiro de 2014“O rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tinha tornado muito conhecido. Alguns diziam: ‘João Batista ressuscitou dos mortos. Por isso os poderes agem nesse homem.’ Outros diziam: ‘É Elias.’ Outros ainda diziam: ‘É um profeta como um dos profetas.’ Ouvindo isto, Herodes disse: ‘Ele é João Batista. Eu mandei cortar a cabeça dele, mas ele ressuscitou!’
Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher do seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. João dizia a Herodes: ‘Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão.’ Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava.
Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galiléia. A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: ‘Pede-me o que quiseres e eu to darei.’ E lhe jurou dizendo: ‘Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino.’ Ela saiu e perguntou à mãe: ‘O que vou pedir?’ A mãe respondeu: ‘A cabeça de João Batista.’ E, voltando depressa para junto do rei, pediu: ‘Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista.’ O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. Ao saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o sepultaram.”
Há quatro papéis importantes nesta passagem. Herodes exerce o papel do poder, que necessita se impor para governar. Herodíades exerce o papel daqueles que não detém o poder, mas vivem a sua volta, procurando se beneficiar dele, a filha de Herodíades exerce o papel do alienado, que não se preocupa com as consequências de suas ações e, frequentemente, são utilizados pelo jogo do poder, e João Batista exerce o papel a que nós, batizados, somos chamados.
Inseridos no mundo como leigos, no dia a dia de nossas atividades, na família, no trabalho, na escola, também exercemos papéis de poder, papéis que nos deixam próximos do poder e outros que nos deixam alienados dele.
Não exercemos só um deles, mas vários, dependendo das funções que estamos desempenhando. Podemos ser pais e mantermos uma posição de poder em casa, enquanto no trabalho estamos próximos do poder ou exercendo uma função mais simples e que nos deixa afastados dele, podemos ser um professor, tendo uma posição de poder na escola, enquanto na comunidade não desempenhamos nenhuma função de poder.
A passagem de hoje nos convida a fazermos uma revisão de nossa vida e percebermos onde podemos estar agindo como Herodes, como Herodíades, como a filha de Herodíades e onde estamos agindo como João Batista. O chamado que fica é de podermos nos afastar das atitudes dos três primeiros e nos aproximarmos de João Batista. É um chamado para a conversão.
Herodes é rei, mas não é um rei independente. Ele depende da aprovação de Roma para continuar no poder, portanto vive pressionado para atingir os resultados esperados por Roma. Para dar conta desta pressão ele precisa ceder em algumas coisas, mesmo contrárias as suas convicções: “O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados.” Como agimos quando estamos em situações semelhantes em nossos trabalhos?
Há alguma situação em que já utilizamos de alguém que não está muito bem informado para conseguirmos alguma vantagem? Quando já conseguimos afastar alguém de um círculo, “cortar a cabeça” no jargão popular, porque ele contrariava nossos interesses? Quando já fomos um pouco de Herodíades?
Quantas vezes que, por preguiça ou desmotivação, não avaliamos bem a situação, não questionamos as razões de algum pedido e fomos utilizados por alguém? Já votamos em alguém simplesmente porque nos pediram, mas não tínhamos nem ideia do que ele faria quando estivesse no poder? Já fomos assim, como a filha de Herodíades?
Os primeiros cristãos, anteriores à época em que receberam o nome de cristãos, diziam simplesmente que seguiam o Caminho (At 9,2). Quando somos batizados, estamos aderindo ao Caminho. O caminho nos conduzirá a uma transformação de atitudes egoístas, como Herodes e Herodíades, ou atitudes levianas, como a da filha de Herodíades, a atitudes proféticas como as de João Batista. O caminho, muitas vezes, nos leva a arriscar nossas vidas, nossas posições de privilégios ou nosso conforto. Contudo é um caminho que nos dá a paz, mas a paz de Cristo, não a paz do mundo (Jo 14,27). Herodes colocou João na cadeia porque queria a paz do mundo, a paz de não ser incomodado. Qual a paz que queremos?
O evangelho está recheado de passagens que afirmam que o caminho não é fácil, como em Lc 7, 13-14: “Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida e são poucos os que a encontram!”
Mas o evangelho está também recheado, até mais, de passagens que nos incentivam a seguir o caminho: “Buscai, em primeiro lugar, seu Reino e sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6, 33) ou “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve.” (Mt 11, 29-30)
Alimentemos pois, constantemente, da palavra, rezando-a, assimilando-a e vivendo-a e, também, da eucaristia, para que Jesus, verdadeiro caminho, pelo dom do Espírito Santo, nos dê sabedoria e sustentação, para podermos caminhar nesta estrada da conversão.
Amém!
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG