Todos quanto os tocavam ficavam curados
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12 de fevereiro de 2014LEITURA
“Ora, os fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém se reúnem em volta dele. Vendo que alguns dos seus discípulos comiam os pães com mãos impuras, isto é, sem lavá-las – os fariseus, com efeito, e todos os judeus, conforme a tradição dos antigos, não comem sem lavar o braço até o cotovelo, e, ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se aspergir, e muitos outros costumes que observam por tradição: lavação de copos, de jarros, de vasos de metal – os fariseus e os escribas o interrogam: ‘Por que não se comportam os teus discípulos segundo a tradição dos antigos, mas comem o pão com mãos impuras?’ Ele lhes respondeu: ‘Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito:
Este povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim.
Em vão me prestam culto;
as doutrinas que ensinam são apenas mandamentos humanos.
Abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos à tradição dos homens’. E dizia-lhes: ‘Sabeis muito bem desprezar o mandamento de Deus para observar a vossa tradição. Com efeito, Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe, e, Aquele que amaldiçoar pai ou mãe certamente deve morrer. Vós, porém, dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: os bens com que eu poderia te ajudar são: Corban, isto é, oferta sagrada – vós não o deixareis fazer mais nada por seu pai ou por sua mãe. Assim, invalidais a Palavra de Deus pela tradição que transmitistes. E fazeis muitas outras coisas desse gênero’.”
NOSSO CORAÇÃO
Toda a mensagem desse texto de Marcos se passa em torno de uma única situação. Os fariseus e alguns mestres da Lei, na intenção de sempre defenderem leis religiosas tradicionais para aquele tempo, muitas vezes criadas à mercê de seus próprios interesses, decidem confrontar o comportamento disruptivo dos seguidores de Jesus. Esse comportamento, por sua vez, é justificado por Jesus, quando ele lhes responde apontando a hipocrisia de uma tradição humana que acaba por encobrir o verdadeiro mandamento de Deus. O reflexo dessa inversão de ideias é exemplificado por Jesus, no final do texto, de modo a evidenciar os fins trágicos que podem ser obtidos a partir do apego às tradições humanas, em detrimento da prática da caridade, o mandamento primordial.
Diante da situação provocadora, Jesus lança mão de uma fala profética, contada em Isaías 29,13, como segue:
“(…) este povo se chega junto a mim com palavras e me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim e a sua reverência para comigo não passa de mandamento humano, de coisa aprendida por rotina”.
Quando entendemos o discurso desse texto, somos impulsionados a aplaudir com veemência a beleza da resposta de Jesus, ao mesmo tempo em que nós mesmos tratamos de pisotear a pequenez dos fariseus e dos escribas. No entanto, vamos nessa oração tentar enxergar uma triste realidade. A resposta de Jesus é atual, e pode facilmente estar direcionada a cada um de nós, que tantas vezes somos os fariseus e escribas deste tempo. É verdade que muitas vezes nos julgamos bem próximos de Jesus, íntimos dele, quando seguimos uma série de preceitos religiosos, fazemos dezenas de orações, rezamos inúmeros terços, cantamos belos hinos de louvor, ou saímos por aí pregando a beleza e a novidade da mensagem cristã. Diante disso, Jesus nos deve questionar: “você está aí rezando, falando e cantando o meu nome, mas onde está o seu coração? Está perto ou longe de mim?”. E a pergunta de Jesus deve se dilatar: como colocar o nosso coração próximo a Jesus? Ele próprio se dispõe a nos responder, quando nos indica que o nosso coração está onde se encontra o nosso tesouro (Mt 6,21). De fato, o tesouro do cristão é a fé em um Deus misericordioso e amoroso, a esperança em uma vida de paz infinita e a prática da caridade como sentido de vida. Será que estamos cuidando bem do nosso tesouro?
Como dói ouvir Deus nos dizendo que a nossa reverência, a nossa celebração, em muitas vezes não passa de coisa aprendida, não passa de um hábito vazio. Precisamos reconhecer quando vivemos uma cristandade ilegítima, baseada puramente em mandamentos humanos, tendendo a se afastar cada vez mais do Cristo Caminho, Verdade e Vida. Tantas vezes ficamos apegados aos ritos, às burocracias, e acabamos por esquecer que o mandamento de Deus é a caridade, e não a simples liturgia organizada e bem executada. Vivemos a cristandade ilegítima quando celebramos e cultuamos nosso Deus em palavras apenas, ignorando a prática do amor.
Que a oração de hoje nos permita enxergar melhor a mensagem de Deus, para vivê-la acima de qualquer burocracia humana. A partir daqui, nos atentemos para deixar de lado a palavra vazia, o canto vazio e o culto vazio. Vivamos então a santidade oferecida por Cristo e coloquemos o nosso coração próximo a ele, de modo que nossas palavras, cantos e cultos sejam cheios, e cheios de amor.
Marcelo Camargos. Estudante de medicina na UFMG. Família Missionária Verbum Dei.