XVI Domingo do Tempo Comum – Ano C
10 de julho de 2016Já teriam abandonado os seus pecados (Mt 11, 20-24)
12 de julho de 20161ª Leitura – Is 1,10-17
10Ouvi a palavra do Senhor, magistrados de Sodoma, prestai ouvidos ao ensinamento do nosso Deus, povo de Gomorra. 11Que me importa a abundância de vossos sacrifícios? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e de gordura de animais cevados; do sangue de touros, de cordeiros e de bodes, não me agrado. 12Quando entrais para vos apresentar diante de mim, quem vos pediu para pisardes os meus átrios? 13Não continueis a trazer oferendas vazias! O incenso é para mim uma abominação! Não suporto lua nova, sábado, convocação de assembleia: iniquidade com reunião solene! 14Vossas luas novas e vossas solenidades, eu as detesto! Elas são para mim um peso, estou cansado de suportá-las. 15Quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos. Ainda que multipliqueis a oração, eu não ouço: Vossas mãos estão cheias de sangue! 16Lavai-vos, purificai-vos. Tirai a maldade de vossas ações de minha frente. Deixai de fazer o mal! 17Aprendei a fazer o bem! Procurai o direito, corrigi o opressor. Julgai a causa do órfão, defendei a viúva.
Na leitura de hoje, Deus se dirige aos habitantes de Sodoma e Gomorra, famosas no texto bíblico pela sua destruição. As oferendas na forma de holocaustos e outros sofrimentos podem ser comparadas à época em que o homem imaginava Deus (ou “os deuses”) como similar à natureza humana. É fato que, na concepção grega, os deuses eram seres com traços humanos: eram vaidosos, vingativos e cheios de vícios e os sacrifícios eram “moedas” de troca em “negociações” nas quais o ganho era de ambas as partes: do humano e do divino.
O que é questionado no texto de Isaías é, sobretudo, a hipocrisia dos moradores de Sodoma e Gomorra. De que adiantariam as ofertas se eles estavam imersos na maldade? Por curiosidade, conto aqui algo que li nesses dias: diz a lenda que havia uma cama, chamada “Cama de Sodoma” utilizada pelos hóspedes dessa cidade e que chama a atenção: aqueles que dormissem nela, sendo mais altos que o cumprimento dela, teriam parte do corpo amputada e, sendo menores, seriam esticados até ficarem do tamanho exato do leito. Requintes de crueldade como esse aparecem em narrativas que reportam até mesmo o comportamento sexual promíscuo e criminoso dessas cidades, que, ignoravam tudo isso e se sentiam bem com os sacrifícios ofertados a Deus.
O que isso tem a ver com nossa contemporaneidade? Deus hoje nos diz palavras similares às do texto bíblico: de que adiantam nossas promessas, penitências quando negamos o projeto do Reino de Deus com nosso egoísmo, nossas fraquezas e nossa persistência em ações que negam o Amor? Nossas promessas aos santos (a Deus, portanto) mostram nossa incapacidade de perceber a diferença que há entre nosso modo de pensar e o de Deus. O Amor de Deus não necessita de negociações para atender aos nossos pedidos, pois é incondicional.
Ao invés de sacrifícios, Deus espera dos moradores de Sodoma e Gomorra a gratuidade na ajuda aos que precisam. Assim também nós precisamos entender o que Deus espera de nós. Ele espera de nós a prática do amor solidário. Espera que sejamos capazes de doar-nos e oferecer ao outro o que lhe falta. Que tenhamos coerência entre o que somos diante de Deus e o que demonstramos no nosso dia a dia.
Nesse sentido, o evangelho de hoje nos dá uma pista de como conseguir por em prática a vontade de Deus expressa em Isaías. Jesus afirma que não veio trazer a paz, mas a espada. Ele não veio para resolver os problemas do mundo, mas para nos dar a ferramenta necessária para que nós mesmos os resolvamos. O termo “espada”, entendido erroneamente quando se pensava em defender o nome de Deus por meio de guerras e perseguições, é empregado metaforicamente para se adequar ao contexto da época. Sendo a espada a arma daquele momento para enfrentar as adversidades, Jesus nos oferece como espada, a Palavra e o Amor de Deus: os dois únicos elementos de valor sem os quais não conseguimos verdadeiramente viver.
Alimentados pelo amor de Deus e pelas suas palavras, somos capazes, não só de viver o Reino aqui na terra sem a hipocrisia citada em Isaías, mas também de possibilitar essa experiência a outras pessoas. Guiados pelo Amor infinito de Deus, seremos capazes de:
- ver as penitências que fazemos como exercícios para análise interior e não como moeda de troca;
- transformar os sacrifícios (que nos propomos a fazer em prol de determinados pedidos atendidos) em ações gratuitas a quem precisa de nós, não só quanto a questões financeiras, mas também no que nossa palavra amiga e dom da escuta são capazes de oferecer.
Peçamos hoje a Jesus que nos faça perceber com clareza que o Amor que vem do Pai não impõe condições e que nosso amor para com quem precisa de nós também deve ser gratuito. Que entendamos que a alegria de Deus se realiza quando somos instrumentos Seus para fazer o bem. E que façamos isso durante esse novo dia e essa nova semana que agora se inicia.
Amém! – Ana Paula Ferreira – Família Missionária Verbum Dei, Belo Horizonte