Lucas 1,67-79
24 de dezembro de 2013“A fim de serem testemunhas para eles e para as nações” (Mt 10,17-22) – Santo Estêvão, primeiro mártir
26 de dezembro de 2013“Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento em todo o império. Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. José era da família e descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa.
Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: ‘Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura.’
De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados.’”
“Hoje, a Paz verdadeira desceu-nos do céu; hoje, os céus e a terra espalham doçura; hoje, raiou o dia do novo resgate de eterna alegria, há muito esperado!” – Estas palavras, a Igreja as reza por toda a terra no Ofício das Vigílias desta Noite santa. Mas, por que tanta exultação? Por que tanta luz? Por que tanta doçura, tanta ternura, tanta paz?
Hoje, cumpriu-se as Escrituras: o Dia tão esperado brilhou no meio da noite. Hoje, “o povo, que andava na treva”, a humanidade perdida e confusa, “viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte”, para nós, que temos sempre de lutar contra tantas e tantas mortes, “uma luz resplandeceu!”. Nesta Noite, podemos comemorar, alegrarmo-nos como os que colhem depois do trabalho e do suor do plantio, porque algo inacreditável, algo que parece um sonho, um conto de fadas, nos aconteceu! Escutai, escutai: “Nasceu para nós um Menino, foi-nos dado um Filho; ele traz nos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz. Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim… a partir de agora e por todo sempre!” (Is 9,1-6)
Eis a graça, a glória, o mistério desta Noite! Por isso a alegria: o Deus fiel cumpriu o que prometera e ultrapassou toda promessa. Nesta Noite tão santa, tão única, tão cheia de frescor, como são comoventes as palavras do Apóstolo na segunda leitura (Tt 2,11-14). Olhem o presépio, e escutem, olhem a manjedoura e prestem atenção: “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade”.
Olhem o presépio! Olhem o presépio: a graça de Deus é uma Criança, o Menino que nos foi dado! A graça de Deus está “envolvida em faixas e deitada numa manjedoura”. Que graça pequenina; que graça tão grande! Que graça tão frágil; que graça tão forte! Quem é tão duro de coração, que não se comova? Quem é tão desumano, que não se emocione? Quem é tão pecador, que não queira aproximar-se de Deus? Quem é tão insensível, que não sinta, nesta Noite, o desejo de amar, o desejo de ser bom, o desejo de paz, o desejo de se deixar abraçar por Deus? “Não tenhais medo!” Quem quer que sejas tu: não temas! Não tenhas receio pelos teus pecados, não te afastes da graça desta Noite por causa das tuas infidelidades! Compreende: hoje, teu Deus vem a ti! Vem a ti a Paz, vem a ti o Perdão, vem a ti a Misericórdia, vem a ti a Plenitude do teu coração e o sonho da tua vida! Hoje nasceu para ti, para nós, um Salvador!
Presta bem atenção: porque tu és fraco, ele veio sustentar-te; porque tu és inconstante, ele veio permanecer contigo; porque tu muitas vezes não sabes o caminho, ele se vez visível na nossa carne; porque tu vives em trevas, ele apareceu como luz; porque tu não podes subir a Deus, ele desceu para te elevar! Que amor tão grande, que caridade sem medida! Nesta Noite a Virgem deu à luz o próprio Deus na nossa humanidade mortal!
Por isso a alegria da Igreja, por isso, a exultação! Abramos nosso coração, abramos nossa vida, nossos afetos, nossos sentimentos, nossos projetos para o mistério desta Noite. No século V, são Leão Magno, Papa de Roma, dizia ao povo na noite de hoje: “Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida!”
Mas, estejamos atentos: porque Aquele que vem como luz no meio da noite, vem pobre, humilde, pequeno, frágil… e somente poderá ser reconhecido se estivermos atentos: atentos aos seus sinais, atentos às coisas pequenas, atentos aos irmãos mais frágeis, atentos ao que no mundo parece à toa, sem valor, sem importância, sem poder… O Menino somente pôde ser encontrado e reconhecido pela pobre Virgem Maria, pelo humilde José, pelos desprezados pastores… Os soberbos, os prepotentes, os esbanjadores, os orgulhosos jamais receberão a graça desta Noite!
Então, ouçamos ainda as palavras do Papa são Leão; tomemos o seu apelo para esta Noite: “Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade! Não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra de que cabeça e de que corpo és membro. Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne!”
Por tudo isso, concluamos como iniciamos, com as palavras da Liturgia da Igreja: “Hoje, a Paz verdadeira desceu-nos do céu; hoje, os céus e a terra espalham doçura; hoje, raiou o dia do novo resgate de eterna alegria, há muito esperado! Cantai ao Senhor Deus um canto novo; cantai ao Senhor Deus ó terra inteira… na presença do Senhor, pois ele vem!”
Feliz Natal a todos! Que reine no coração de todos a graça desta noite! Amém.
(Homilia de Dom Henrique Soares da Costa para a noite de Natal)