A Igreja, através do evangelho de hoje, convida-nos a pensar na fé. O texto não nos fala apenas da fé de um apóstolo, mas de todo o sentido da salvação. Deus, que é Pai, quis habitar entre os homens, a fim de nos revelar, novamente, seu plano de vida abundante e amor. Fê-lo pela vida do Filho, que, vivendo em nosso meio, não teve outra saída senão ferir-se por nós. Assim, quando o Pai o ressuscita, com as marcas que os homens lhe fizeram, atrai a si o homem por completo.

É necessário, pois, um olhar de fé, otimista, sobre nossas feridas. É preciso não desprezar as marcas de nossas vidas, mesmo as mais dolorosas, pois Deus não nos chama sem elas, ou com as cicatrizes apenas. Deus sabe agir nas feridas, mesmo as que não se curam, tornando-as, para a sociedade na qual nos inserimos, fonte de fé. A contradição é bonita: a vida continua, mesmo que marcada, e a marca dá a dimensão da grandeza da vida, que não se curva, mesmo que sob grandes golpes…

Hoje, somos convidados a entrar em harmonia com a historicidade, com o passado, com os machucados que ainda nos lembram nossa fragilidade, mesmo que não doam. Que situações de morte eu vivi? Quais golpes levei? Quais feridas ficaram? Que essas marcas me dizem? Já vejo nelas sinais de esperança? Meus machucados podem alimentar a minha fé e a daqueles que amo? Como ver nas fragilidades a força de Deus, tal qual São Paulo atestou?

Para percorrer esse caminho de significação, tenhamos em mente sempre o que Jesus disse a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas fiel”. Ora, não se opuseram, aqui, credulidade e incredulidade. À nossa falta de fé Jesus opõe a fidelidade. De fato, não basta crer, não bastam abstrações e raciocínios, pois Deus se encarnou e não se importa se colocarmos o dedo na ferida… Ao contrário, Ele nos instiga a isso. É na fidelidade, no caminho de seguimento, que a fé se alimenta, e não o contrário.

João Gustavo Henriques de Morais Fonseca, graduando em Direito na UFMG – Família Missionária Verbum Dei – FamVD