A Sagrada Família – Ano C
27 de dezembro de 2015Uma luz para mostrar o caminho
29 de dezembro de 2015Leitura: Mateus 2, 13-18
Depois que os visitantes foram embora, um anjo do Senhor apareceu num sonho a José e disse:
— Levante-se, pegue a criança e a sua mãe e fuja para o Egito. Fiquem lá até eu avisar, pois Herodes está procurando a criança para matá-la.
Então José se levantou no meio da noite, pegou a criança e a sua mãe e fugiu para o Egito. E eles ficaram lá até a morte de Herodes. Isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta: “Eu chamei o meu filho, que estava na terra do Egito.”
Quando Herodes viu que os visitantes do Oriente o haviam enganado, ficou com muita raiva e mandou matar, em Belém e nas suas vizinhanças, todos os meninos de menos de dois anos. Ele fez isso de acordo com a informação que havia recebido sobre o tempo em que a estrela havia aparecido. Assim se cumpriu o que o profeta Jeremias tinha dito:
“Ouviu-se um som em Ramá,
o som de um choro amargo.
Era Raquel chorando pelos seus filhos;
ela não quis ser consolada,
pois todos estavam mortos.”
Oração:
O texto de hoje exige de nós uma conversa demorada com o Pai. Por que não foram avisados os outros pais sobre o que Herodes faria? O Pai tem predileção por algum filho? O Pai deseja que uns vivam e outros morram? É de sua vontade que uns sorriam e outros sofram? Quer que eu comemore e meu inimigo chore? Espera que eu tenha alegrias e meu amigo, tristezas?
A oração deve guiar-me por um processo de enxergar cada vez mais profundamente. Se olho a superfície, parece-me que o Pai quis que Jesus vivesse, e aí me alegro. Se olho com mais vagar, parece-me que Ele não se importou com as outras crianças que morreram, e aí me espanto diante da possibilidade desse deus mau ou indiferente ou insensível ou parcial aos moldes humanos. Se olho com mais demora, vejo que Jesus veio salvar esses meninos mortos e as crianças mortas de todos os tempos, e veio, antes de tudo, sentir na pele (e na carne)…
Quando olho para as crianças que morreram a mando de Herodes, enxergo todas as crianças, adolescentes, mulheres e homens que, na história da humanidade, morreram, morrem e morrerão porque há aqueles que não lhes reconhecem a importância, a dignidade, a vida e a condição de igual… Ainda existem aqueles que estão dispostos a tudo para manter seu reinado, e às vezes nós somos quem ajuda…
O choro de Raquel é o choro de Deus, que também não se consola. O poder que matou as crianças de Belém e redondezas é o mesmo poder que matou o Filho na cruz. A fuga de Jesus é prelúdio de seus discursos sobre o Reino: o Pai não veio rivalizar com o mundo. O Filho não veio criar um Reino concorrente. “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36). O Pai, que envia anjos para proteger seu Filho, poderia, se quisesse, enviar anjos que enfrentassem Herodes. Poderia matar Herodes discretamente. O Filho, que expulsava demônios, curava, acalmava a tempestade, poderia não morrer na cruz. Poderia ter vivido sem se ferir. Mas o Pai e o Filho escolheram outro caminho. Parece ser da vontade da Trindade que a salvação do homem não passe pela supressão de sua liberdade, que é o que o faz perder-se tantas e tantas vezes… parece que a Trindade quis que o homem fosse livre até o final, para convencer-se, sem sombra de medo, da alegria do Amor. Parece que a Trindade resolveu dar ao homem todo o tempo do mundo… deve ser isso a Misericórdia.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte