“Traga os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos”
7 de novembro de 2017Capacitação Lectionautas na Diocese de São Raimundo Nonato (PI)
9 de novembro de 2017Evangelho (Lucas 14, 25-33):
“Certa vez uma grande multidão estava acompanhando Jesus. Ele virou-se para eles e disse:
— Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo. Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar. Se um de vocês quer construir uma torre, primeiro senta e calcula quanto vai custar, para ver se o dinheiro dá. Se não fizer isso, ele consegue colocar os alicerces, mas não pode terminar a construção. Aí todos os que virem o que aconteceu vão caçoar dele, dizendo: “Este homem começou a construir, mas não pôde terminar!”
— Se um rei que tem dez mil soldados vai partir para combater outro que vem contra ele com vinte mil, ele senta primeiro e vê se está bastante forte para enfrentar o outro. Se não fizer isso, acabará precisando mandar mensageiros ao outro rei, enquanto este ainda estiver longe, para combinar condições de paz.
Jesus terminou, dizendo:
— Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem.”
Reflexão:
Na oração de hoje, peçamos a Jesus que aumente nossa fé e nosso amor, para compreender e acolhe o seu chamado.
Jesus dirige-se não a alguns “iluminados” ou pessoas especiais, mas a toda a multidão que o segue. A audácia de seu ensinamento mostra que há uma verdade muito profunda no que Ele vai nos ensinar. Ver-nos em meio a essa multidão e deixar-nos atingir por ela.
“Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo.” Outras traduções desse mesmo texto falam de “desapegar-se”. Santo Inácio de Loyola ensinava que os exercícios espirituais são para ordenar os afetos, pois toda forma de afeto desordenado (= apego) tira-nos do fiel da balança, daquela postura de liberdade interior que permite seguir o chamado de Jesus. Afinal, esse chamado dá-se em nossa realidade concreta e não nas nuvens. Portanto, toma formas concretas, seja assumindo algumas missões, seja soltando; seja assumindo um estado de vida ou outro; indo para um lugar ou outro; pegando ou negando determinado trabalho; escolhendo um estudo ou outro, etc., tudo segundo a maior glória de Deus, que é o Espírito que nos mostra, não os nossos raciocínios, lógicas ou interesses.
Os maiores apegos são os afetivos. Eles nos desnorteiam, tiram de eixo, nos fazem agir por impulso, decidir sem pensar, trazem à tona vários tipos de coisas, algumas das quais podem se opor ao caminho da fé. Por isso, Jesus os quer ordenar, colocando em primeiro lugar o que é o primeiro: o amor a Ele. Quando o amor de Jesus vem na frente, podemos amar bem o outro. E apego é muito diferente de amor.
“Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar.” Outra tradução coloca: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.” Opção dói. Talvez por isso, hoje em dia, foge-se ao máximo de optar, querendo tudo ao mesmo tempo. A vida, porém, não é assim. O seguimento, que é vida plena, menos ainda. Ele supõe a cada momento discernir, dizer “sim” e dizer “não”. Os sim´s e não´s concretos que Jesus deu levaram-no onde o levaram. Conosco não será diferente. Ele não ilude. “O caminho é este, passa por onde o meu passou, supõe a cruz. Você está disposto?” Olhar detidamente. Não será que uma vida sem cruz é que é uma grande ilusão? Olhando por este ângulo, o que Ele propõe é uma cruz na sua companhia e com sentido, com um porquê claro e que vale a pena. Qual a minha opção? Em que ela se concretiza no dia a dia?
Os exemplos da construção da torre e do combate é para nos prepararmos, vendo bem o que é preciso para perseverar, ir até o fim neste caminho. E Jesus termina dizendo com clareza o que é: “Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem.” Se não tiver a liberdade para disponibilizar tudo o que se tem e é neste caminho. Ninguém deixa nada se não tiver encontrado algo maior. O que encontro no caminho do Senhor? Qual a minha experiência? Vale a pena?
Peçamos a Maria que seja nossa companheira de caminho e nos ensine a encontrar o tesouro pelo qual vale a pena vender tudo.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei