… enquanto caminhavam.
20 de janeiro de 2015Dois encontros
22 de janeiro de 2015Leitura: Marcos 3,1-6
Naquele tempo, Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. Jesus disse ao homem da mão seca: ‘Levanta-te e fica aqui no meio!’ E perguntou-lhes: ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?’ Mas eles nada disseram. Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: ‘Estende a mão.’ Ele a estendeu e a mão ficou curada. Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.
Oração:
No evangelho de hoje Jesus continua revelando o sentido do sábado, quem é o Senhor do sábado e, com isso, como se presta o verdadeiro culto ao Pai. O desfecho do evento – a decisão de fariseus e herodianos de matá-Lo – nos aponta a tensão político-religiosa que Jesus causava. Na oração, passemos com mais demora por alguns versículos…
“Levanta-te e fica aqui no meio!” A ordem de Jesus nos revela onde está, para Ele, o sentido do sábado. O culto a Deus está não só na conscientização da existência da dor e dos que sofrem, mas no convite para que esses ocupem o centro de nossos cuidados. Se a Igreja quer imitá-Lo, não pode deixar os sofredores nos “cantos da sinagoga”. Se eu quero imitá-Lo, não posso continuar pensando e falando de Deus como se não houvesse um filho d´Ele que não pode, com suas próprias mãos, viver segundo a dignidade que o Pai conferiu a cada um. Mais uma vez: Jesus não quer apenas evidenciar a realidade dos que sofrem – “Levanta-te” –; Ele deseja que Eles ocupem lugar de atenção – “e fica aqui no meio!”
“E perguntou-lhes: ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?’ Mas eles nada disseram.” A resposta à pergunta de Jesus parece óbvia, mas ela não vem. Esse é o silêncio daqueles que reconhecem sua hipocrisia. O silêncio nosso cada dia que descobrimos que estamos dando as respostas erradas por formularmos de forma errônea as maiores questões que a sociedade precisa responder. Pode ser o silêncio que expressa nosso arrependimento por adiarmos a cura de tantos problemas e situações porque ficamos “no templo” formulando as questões de fé de forma tão complicada e sem tocar o chão.
“Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza”. Na oração de hoje, peçamos a Ele que sua indignação nos contagie. Peçamos a Ele a graça de nos entristecermos com Ele. É preciso olhar para minha vida e sentir tristeza em relação à minha falta de intimidade com o Pai, que só atrasa o alívio de tantas dores da sociedade. É preciso indignar-me com as religiões, com as comunidades e com os Estados a cada vez que a comodidade ou burocracia de seus processos deixam as pessoas na fila de uma vida digna e plenamente feliz.
“ (…) e disse ao homem: ‘Estende a mão.’ Ele a estendeu e a mão ficou curada.” Sem me furtar à luta coletiva, é preciso não esperar que a sociedade inteira, minha comunidade inteira, minha igreja inteira, minha roda de amigos inteira experimente a perspectiva do Pai. É preciso, enquanto esperamos por dias melhores, lutar solitariamente como o Filho. Dizer, com Ele, aquilo que muitas vezes desagrada e ver, com Ele, realizar-se o que agrada ao Pai.
Peçamos a Ele viver com a sabedoria d´Ele as tensões político-religiosas do mundo e do nosso país. Que nossa busca pelo olhar d´Ele seja pedra no alicerce de um mundo mais justo, bom e alegre para todos os seres humanos.
João Gustavo H. M. Fonseca, estudante de Direito da UFMG, membro da Família Verbum Dei de Belo Horizonte