O noivo, o vinho novo
19 de janeiro de 2015“Levanta-te e fica aqui no meio!”
21 de janeiro de 2015Leitura: Marcos 2,23-28
Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam. Então os fariseus disseram a Jesus: ‘Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?’ Jesus lhes disse: ‘Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome? Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães’. E acrescentou: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado’.
Oração:
Para os judeus o sábado é dedicado ao Senhor; para guardar o dia para Deus, abstém-se das outras atividades. O apoio de Jesus aos seus discípulos, que colhiam espigas, oferece-nos duas opções: ou Jesus desprezava sua própria cultura, sua própria religiosidade e a espiritualidade do povo do qual fazia parte, ou Jesus tinha algo mais profundo para apontar naquelas práticas. Porque Jesus mesmo afirmou que não veio abolir a Lei, mas cumpri-la com perfeição, só podemos ficar com a segunda alternativa.
Hoje, avançados tantos anos, vemos com perfeição a profundidade que Jesus queria alcançar: o sábado, para honrar a Deus, não podia prejudicar o ser humano, o filho mais querido de Deus. Por isso, Jesus, para respeitar a lei do sábado em perfeição, desrespeitava o costume e a interpretação que se fez da lei no seu tempo: curava os doentes no sábado, deixava que seus discípulos colhessem espigas no sábado… para mais agradar ao Pai, para mais amá-Lo nos filhos d´Ele, quis correr o risco de parecer que O desrespeitava.
Atualmente nos parece óbvio o acerto de Jesus. Naquele tempo, contudo, esse escândalo custou sua vida, pois nem todos enxergaram com a clareza com que Ele via. Nossa oração, portanto, não pode se restringir em perceber como o olhar de Jesus via além. Nossa oração não pode ser admirá-Lo e confirmar nossas suspeitas de que “o sábado foi feito para o homem”. É necessário perceber quais outros sábados, hoje, permanecem maiores que o homem, fazendo com que o homem viva para o sábado em inúmeras outras formas nos dias atuais.
Em outras palavras, a irreverência de Jesus deve contagiar-nos. Devemos nos inspirar em Sua ousadia, que escandaliza, mas não busca o escândalo, senão fazer a vontade do Pai e amar seus filhos de verdade e acima dos costumes de cada tempo. Devemos a cada dia aceitar o esforço de olhar o mundo com o olhar de amor do Pai e reformular nossas formas de fazer ver esse amor. É o esforço de reinterpretar as formas como o Amor nos foi dado, sem medo de perdê-Lo e com a certeza de que só essa atualização permitirá que esse Amor não se perca e nem tenha seu tamanho – infinito – diminuído.
Jesus, ao dar o sentido do sábado, coloca-se como senhor do sábado, motivo pelo qual desagradou tanto a seus contemporâneos. Contudo, Ele não parou por aí. Além de se mostrar senhor do sábado, Ele convida cada um que ama o Pai a ocupar seu lugar de “filho” ou “irmão” do Senhor do sábado. “O sábado foi feito para o homem” – disse Ele.
Como, então, sair da visão dos fariseus, que criticavam, para alcançar o olhar de Jesus e seus discípulos? “Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam”. Quem quer ser próximo de Deus, mas deseja ficar apenas no templo, nunca alcançará o ponto de vista de Jesus. Estará sempre de longe, dizendo que “não se podem colher as espigas”. Para entender a fome, o cansaço e a necessidade de colher espigas, mesmo em dia de sábado, é preciso ser discípulo que caminha sob o sol e dorme ao relento. Esses podem entender sem dificuldade a proposta de Jesus.
Nossa oração talvez possa começar hoje por estes passos:
– Jesus, ajude-me a ser discípulo que caminha com você pelos campos, sob o sol, sentindo a fome que você e seus amigos sentem.
– Jesus, quais são os sábados que escravizam os homens de hoje? Como reconhecer esses sábados? Como discernir entre o que deve permanecer e o que é “mexível”?
– Jesus, que nossa religião ajude sempre mais o homem a descobrir e a viver a verdade de ser Filho amado do Pai. Que nossa religião não permita que a felicidade dos homens seja colocada em segundo plano para reverenciar as regras que nós mesmos criamos sem conexão com Sua vontade.
João Gustavo H. M. Fonseca, estudante de Direito da UFMG, membro da Família Verbum Dei de Belo Horizonte