Vim chamar os pecadores (Lc 5,27-32)
13 de fevereiro de 2016Sede santos
15 de fevereiro de 2016“Deus mandará que os anjos dele cuidem de você
para protegê-lo aonde quer que você for”.
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo,
para ensinar-nos a rezar
e a saber dizer “Jesus”;
proclamar seu testemunho
com a palavra e com a vida,
e para que graves em nós
a imagem viva de Cristo.
Vem, Espírito Santo,
sê nosso melhor perfume,
nossa alegria secreta,
nossa fonte inesgotável,
nosso sol e nossa fogueira,
nosso alento e nosso vento,
nosso hóspede e conselheiro.
Vem, Espírito Santo.
Vem, Espírito amigo.[1]
TEXTO BÍBLICO: Lucas 4.1-13
A tentação de Jesus
Mateus 4.1-11; Marcos 1.12-13
1Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do rio Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto. 2Ali ele foi tentado pelo Diabo durante quarenta dias. Nesse tempo todo ele não comeu nada e depois sentiu fome. 3Então o Diabo lhe disse:
— Se você é o Filho de Deus, mande que esta pedra vire pão.
4Jesus respondeu:
— As Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão.
5Aí o Diabo levou Jesus para o alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos do mundo 6e disse:
— Eu lhe darei todo este poder e toda esta riqueza, pois tudo isto me foi dado, e posso dar a quem eu quiser. 7Isto tudo será seu se você se ajoelhar diante de mim e me adorar.
8Jesus respondeu:
— As Escrituras Sagradas afirmam:
“Adore o Senhor, seu Deus,
e sirva somente a ele.”
9Depois o Diabo o levou a Jerusalém e o colocou na parte mais alta do Templo e disse:
— Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui, 10pois as Escrituras Sagradas afirmam:
“Deus mandará que os seus anjos
cuidem de você.
11Eles vão segurá-lo com as suas mãos,
para que nem mesmo os seus pés
sejam feridos nas pedras.”
12Então Jesus respondeu:
— As Escrituras Sagradas afirmam: “Não ponha à prova o Senhor, seu Deus.”
13Quando o Diabo acabou de tentar Jesus de todas as maneiras, foi embora por algum tempo.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber [2]
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Onde Jesus esteve sendo tentado pelo diabo? O que respondeu Jesus diante da tentação de a pedra virar pão? Se Jesus se ajoelhasse e adorasse o diabo, o que conseguiria? A que Jesus está respondendo quando diz: “Não ponha à prova o senhor seu Deus”? O que faz o diabo quando não encontra jeito de tentá-lo?
Algumas pistas para compreender o texto:
Depois de ter celebrado na Quarta-Feira de Cinzas o começo da Quaresma, a liturgia hoje nos apresenta Jesus conduzido pelo Espírito e experimentando as tentações do diabo.
O texto abre-se e conclui-se fazendo menção à “tentação” (v. 2.13), estabelecendo, portanto, os limites da seção. Tem uma introdução (vv. 1-2); em seguida, as três vitórias de Jesus sobre as tentações do diabo (vv. 3-12) e, por fim, a conclusão (v. 13).
Na introdução, ressalta-se a presença do Espírito (que já havia “enchido” os primeiros capítulos do evangelho (1.15.35.67.80; 2.25, etc.), que não somente preenche Jesus (confira-se 3.22), mas também o conduz enquanto adentra o deserto.
As tentações do diabo começam da mesma maneira: “Se você é o Filho de Deus” (v. 3 e v. 9). Jesus, no batismo, havia escutado a voz do Pai que dizia: “Tu és o meu Filho querido e me dás muita alegria “ (Lc 3.22), e agora, é tentado em sua identidade. É como se o tentador lhe dissesse: “É verdade que és o Filho de Deus? Então, por que passas necessidade? Por que não tens todo o controle e todo o poder…?”
As tentações começam no deserto e terminam em Jerusalém, seguindo também o itinerário de Jesus, que vai dirigir-se a Jerusalém (9.51) e ali acontecerá sua partida deste mundo (9.31). Isto nos faz ler a vitória sobre as tentações à luz da páscoa, que se realizará em Jerusalém, e que o texto indica quando diz que o diabo se afastou “por algum tempo” (v. 13).
A primeira tentação faz referência às necessidades vitais: “sentiu fome” (vv. 3-4). O diabo diz-lhe: “Manda que esta pedra vire pão”. Ele quer que Jesus ponha sua identidade e dignidade filho a serviço de si mesmo, visto que Deus o desamparou no deserto e sentiu a necessidade e a fome.
A segunda tentação á a do poder e da glória que o diabo presume ter, sob a condição de ser adorado. Uma vez mais, o Senhor vence o tentador apoiando-se na Escritura.
A última vitória é sobre a tentação de “utilizar a Deus”, de “manipular a confiança”. O tentador apresenta, com astúcia, um texto da Escritura para que, definitivamente, Jesus “tente” a Deus, como a dizer: “Se é teu Pai, certamente não permitirá que sejas prejudicado, mesmo que faças isso ou aquilo…”. Jesus não se deixa manipular nem entra no jogo do tentador. Simplesmente reconhece a autêntica relação filial com seu Pai, que não pode ser tentado.
As tentações de Jesus asseguram nossa confiança ao saber que Aquele que nos ama foi tentado como nós. Sua vitória sobre elas também nos confortam, pois sabemos que ele nos ajuda para que não “caiamos em tentação” (Lc 11.4).
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
O evangelho convida-nos a enfrentar a tentação a que às vezes não damos importância. Em nossos dias, parece que não existe limite entre o bom e o que é fruto do mal; estamos vivendo uma época permissiva, que enaltece as coisas que não são corretas, deixando que o bem pareça obra dos menos competentes. Imitemos Jesus, que assumiu cada uma dessas tentações com a força da oração e permanecendo file à Palavra.
Bento XVI faz um comentário a propósito deste tema: O tentador é fingido: não impele diretamente para o mal, mas para um bem falso, levando a crer que as realidades autênticas são o poder, e o que satisfaz as necessidades primárias. Deste modo, Deus torna-se secundário, reduz-se a um meio, em definitivo torna-se irreal, já não conta, desaparece. Em última análise, nas tentações está em jogo a fé, porque está em jogo Deus. Nos momentos decisivos da vida mas, pensando bem, em cada momento, encontramo-nos diante de uma encruzilhada: queremos seguir o eu ou Deus? O interesse individual, ou então o Bem verdadeiro, aquilo que é realmente bom?
Como nos ensinam os Padres da Igreja, as tentações fazem parte da ‘descida’ de Jesus à nossa condição humana, ao abismo do pecado e das suas consequências. Uma ‘descida’ que Jesus percorreu até ao fundo, até à morte de cruz e à mansão dos mortos do afastamento extremo de Deus. Desta maneira, Ele é a mão que Deus estendeu ao homem, à pequena ovelha que se perdeu, para a salvar. Como ensina santo Agostinho, Jesus tirou-nos as tentações, para nos conceder a sua vitória. Por conseguinte, não tenhamos receio de enfrentar, também nós, o combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor. E para permanecermos com Ele, dirijamo-nos à Mãe, Maria[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Estamos atentos para reconhecer as tentações? Tive tentações de poder ou de orgulho? Como as enfrento? Alguma vez disse a Jesus com irritação: se, de fato, és Deus, faze-o? Qual é a tentação que me é mais difícil de enfrentar?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Guia-me, Senhor, minha luz,
nas trevas que me rodeiam,
guia-me para frente!
A noite é escura e estou longe de casa: guia-me tu!
Dirige Tu meus passos!
Não te peço ver claramente o horizonte distante:
basta-me avançar um pouco…
Nem sempre tem sido assim,
nem sempre te pedi que me guiasses.
Sentia prazer em fazer minhas próprias escolhas e organizar minha vida…
Agora, porém, guia-me Tu!
Agradavam-me as luzes deslumbrantes
e, desprezando todo o temor,
o orgulho guiava minha vontade:
Senhor, não lembres os anos passados…
Durante muito tempo tua paciência me esperou:
sem dúvida, Tu me guiarás por desertos e pântanos,
por montes e torrentes
até que a noite dê lugar ao amanhecer
e me sorria, ao alvorecer, o rosto de Deus:
teu Rosto, Senhor![4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Que teu Espírito, Senhor, me acompanhe na tentação.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Cada noite desta semana, recordarei quais tentações tive, em quais caí e quais consegui evitar. Agradeço ao Senhor a graça de saber suportar as situações que me inquietam.
“Tenha certeza de que quanto mais crescem as investidas do demônio,
mais perto da alam está Deus.”
Padre Pio de Pietrecilna
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Bento XVI, Angelus – Praça de São Pedro. 17 de setembro de 2013 (https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-xvi_ang_20130217.html