Tempo de jejum
12 de fevereiro de 2016I Domingo da Quaresma – Ano C
14 de fevereiro de 2016Depois disso Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no lugar onde os impostos eram pagos. Jesus lhe disse:
— Venha comigo.
Levi se levantou, deixou tudo e seguiu Jesus. Então Levi fez para Jesus uma grande festa na sua casa. Havia ali muitos cobradores de impostos, e outras pessoas estavam sentadas com eles. Os fariseus e os mestres da Lei, que eram do partido dos fariseus, ficaram zangados com os discípulos de Jesus e perguntaram:
— Por que vocês comem e bebem com os cobradores de impostos e com outras pessoas de má fama?
Jesus respondeu:
— Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar os bons, mas para chamar os pecadores, a fim de que se arrependam dos seus pecados.
Neste carnaval, como normalmente faço, fiquei em retiro, participando dos exercícios espirituais da Família Missionária Verbum Dei de Belo Horizonte. O Tema do retiro, “Eterna é a sua misericórdia”, foi retirado do Salmo 136, em sintonia com o Ano da Misericórdia.
Na partilha, ao final do retiro, uma participante disse uma coisa que chamou minha atenção e que voltou à minha mente quando comecei a rezar este trecho do evangelho. Ela disse que, por se identificar com os fariseus e os doutores da lei, dada a arrogância deles, havia orado muito para perceber como a misericórdia de Deus os alcançava, uma vez que ela não podia acreditar que a misericórdia de Deus seria somente para com pecadores e publicanos. Ou seja, Deus é misericordioso, portanto, sua misericórdia é para todos.
Hoje, ao rezar este trecho do evangelho, fiz-me a pergunta: e os bons? O que acontecerá com eles, se não serão chamados?
Que o Espírito Santo nos auxilie, com sua luz e sabedoria, para aprofundarmos nesta palavra e podermos segui-la.
Nós aprendemos, desde cedo, que devemos ser bons e também aprendemos que todos nós pecamos. Portanto, aparentemente, não faz sentido que Jesus exclua os bons de serem chamados.
Outras traduções trazem o seguinte texto para este versículo final: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”. Traduzido assim, melhora um pouco, pois os justos, apesar de cometerem alguns pecados, já estão, supostamente, convertidos para Deus. Faz sentido chamar os pecadores para que sejam convertidos e possam tomar o caminho certo. Contudo, ainda assim, não faz sentido que os justos sejam deixados de lado por Jesus.
Na minha oração, percebo nosso hábito de nos identificarmos como justos, se o somos aos preceitos que nós mesmos criamos. Assim, invertemos a lógica da criação: ao invés de nos ajustarmos à imagem e semelhança de Deus, queremos que Deus se ajuste aos nossos conceitos.
Entendo, então, que Jesus quer chamar aqueles homens que se julgavam justos e que não podiam aceitar o convívio com os cobradores de impostos e pessoas de má fama à verdadeira conversão.
Pesquisando um pouco mais, descobri que a palavra que foi traduzida neste texto como “arrependam dos seus pecados”, vem da palavra “metanoia”, que em grego poderia ser também “mudança de mentalidade” ou “mudança de atitude”, além de “conversão”.
Penso que aí podemos encontrar os elementos para aprofundarmos nossa oração pessoal.
A misericórdia de Deus, como diz o Salmo 136, é eterna. Não conhece início e nem fim. Não conhece limites. Portanto, ninguém pode ser excluído dela. Ora, não é Jesus quem excluiu os fariseus e os mestres da Lei, mas eles é que se excluíram ao não aceitarem que Jesus pudesse conviver com os pecadores. Eles precisavam da conversão, de mudarem a mentalidade, mudarem suas atitudes, de tal forma que pudessem ser mais justos à verdadeira imagem e semelhança de Deus.
Aqueles fariseus e mestres da Lei eram homens justos e bons, como tantos que conhecemos hoje em dia: seguem as leis, fazem tudo direitinho e não têm nada que os desabone. Provavelmente, todos os que estão lendo esta reflexão sejam assim. Porém, havia um quê de pecado muito grave neles: não aceitar a misericórdia de Deus. Pois é assim que se passa, quando não conseguimos aceitar a misericórdia de Deus para com todos. Ela não consegue nos alcançar, nós nos excluímos dela. Não conseguimos entrar na dinâmica do Reino, ficamos de fora.
Que hoje, sempre com o auxílio do Espírito Santo, possamos viver mais próximos da misericórdia de Deus. Que nos deixemos tocar por ela e que sejamos libertados do peso de julgar quem a merece ou não. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte