“Cantem com alegria diante do Senhor porque ele vem governar a terra!”
17 de novembro de 2019“Eu amo os meus patrícios e amigos e por isso digo a Jerusalém: ‘Que a paz esteja com você!’”
1 de dezembro de 2019PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, ensina-me a escutar,
a refletir a Palavra no encontro cotidiano,
a fecundar a vida na oração com a Bíblia.
Espírito Santo, ensina-me a escutar a Palavra
em comunidade, lendo juntos a Bíblia
para olhar a vida segundo teu Projeto.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Lc 23.35-43
A crucificação de Jesus
Mateus 27.32-44; Marcos 15.21-32; João 19.17-27
35O povo ficou ali olhando, e os líderes judeus zombavam de Jesus, dizendo:
— Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é, de fato, o Messias que Deus escolheu!
36Os soldados também zombavam de Jesus. Chegavam perto dele e lhe ofereciam vinho comum 37e diziam:
— Se você é o rei dos judeus, salve a você mesmo!
38Na cruz, acima da sua cabeça, estavam escritas as seguintes palavras: “Este é o Rei dos Judeus”.
39Um dos criminosos que estavam crucificados ali insultava Jesus, dizendo:
— Você não é o Messias? Então salve a você mesmo e a nós também!
40Porém o outro o repreendeu, dizendo:
— Você não teme a Deus? Você está debaixo da mesma condenação que ele recebeu. 41A nossa condenação é justa, e por isso estamos recebendo o castigo que nós merecemos por causa das coisas que fizemos; mas ele não fez nada de mau.
42Então disse:
— Jesus, lembre de mim quando o senhor vier como Rei!
43Jesus respondeu:
— Eu afirmo a você que isto é verdade: hoje você estará comigo no paraíso.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. Para quem o povo está olhando? O que dizem os chefes e os soldados e por quê?
2. O que diz o letreiro afixado à cruz?
3. O que um dos malfeitores diz a Jesus?
4. O que o outro malfeitor responde a Jesus e o que lhe pede?
5. O que Jesus lhe promete?
ü Algumas pistas para compreender o texto:
Mons. Damian Nannini[1]
O evangelista Lucas pinta-nos um quadro dinâmico e contrastante da crucifixão com a ações das diversas personagens presentes:
ü No centro, temos Jesus crucificado, com uma inscrição acima da cabeça: “Este é o Rei dos Judeus”.
ü O povo permanece passivo, apenas olhando.
ü As autoridades judias ridicularizam-no desafiando-o: “Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é, de fato, o Messias que Deus escolheu!”.
ü Os soldados romanos zombam e também o provocam: “Se você é o rei dos judeus, salve a você mesmo!”.
ü Um ladrão crucificado a seu lado blasfema e também o insulta: “Você não é o Messias? Então salve a você mesmo e a nós também!”.
ü Há outro ladrão a seu lado que defende Jesus declarando-o inocente e suplicando-lhe que se lembre dele quando chegar a seu Reino. Com estas palavras, está confessando Jesus como Rei de um reino futuro e glorioso, e com poder para salvar.
ü Por fim, Jesus rompe seu silêncio para dizer ao “bom ladrão”: “Eu afirmo a você que isto é verdade: hoje você estará comigo no paraíso”.
No relato, por três vezes se pede a Jesus que “se salve a si mesmo”, que demonstre que é rei, que tem verdadeiro poder, e que o exerça salvando-se a si mesmo desta morte ignominiosa. E Jesus cala-se. De certa maneira, repetem-se as tentações de Satanás no deserto, as quais tinham em comum a intenção de afastar Jesus do caminho indicado por seu Pai, o caminho da cruz. No fundo, convidam Jesus a buscar a si mesmo e a salvar a si mesmo. No entanto, “nas três tentações, Jesus não quer nada para si mesmo; por isso não coloca Deus à prova” (F. Bovon). Em ambos os casos, Jesus mantém sua fidelidade ao plano do Pai, até o extremo…
O diálogo de Jesus com o bom ladrão nos mostra a disposição de Jesus de salvar a quem crê e confia nele. É importante o ato de fé do “bom ladrão”, pois tem diante de seus olhos a mesma realidade que os demais: um homem crucificado. Entretanto, declara sua inocência e reconhece-o como Rei com poder de fazê-lo entrar em sei Reino.
Há certo paradoxo em todo o relato porque Jesus pode salvar a si mesmo, mas não o faz. Aceita a cruz porque deste modo pode salvar a outros para sempre. Perde sua vida terrena e ganha para todas as pessoas a vida eterna, abrindo, finalmente, as portas do paraíso. E deste modo, é Rei, pois, para Jesus, reinar é servir.
O que o Senhor me diz no texto?
O Evangelho deste domingo nos convida a um grande esforço de meditação para superar o paradoxo e submergir-nos na misteriosa sabedoria de Deus. O paradoxo está em que a inscrição diz que Jesus é rei dos judeus, mas está crucificado; é considerado rei alguém que está pregado na cruz e mal pode mover-se; condenado como malfazejo e que não pode sequer salvar a si mesmo. Temos o contrário do que as pessoas entendem por realeza: não tem nem poder, nem dignidade, nem soberania alguma.
E, apesar de tudo, os crentes proclamamos Jesus como Senhor e Rei do Universo. Para isso, é mister aceitar, em primeiro lugar, que seu reino não é deste mundo, não é mundano. Em segundo lugar, que a história não termina com a crucifixão, mas com a ressurreição. Teve de passar por tudo o que implica o caminho da cruz para reinar definitivamente. Demonstrou ter poder sobre o inimigo invencível: a morte, e seu aliado, o pecado. Todos os reis deste mundo não puderam com a morte. Somente Jesus tem esse poder. E utiliza-o em favor dos demais, como o fez com o bom ladrão. Toda a dignidade e soberania dos reis humanos terminaram com a morte deles. Nada levaram consigo; restaram apenas seus ossos. Jesus é o único Rei Eterno, que vive para sempre.
Jesus demonstra seu poder sobre o pecado com sua misericórdia, comunicando o perdão de Deus. Jesus demonstra seu poder sobre a morte comunicando a vida eterna.
A este respeito, dizia o Papa Francisco em sua homilia do dia 20 de novembro de 2016: “Porque a grandeza do seu reino não está na força segundo o mundo, mas no amor de Deus, um amor capaz de alcançar e restaurar todas as coisas. Por este amor, Cristo abaixou-se até nós, viveu a nossa miséria humana, provou a nossa condição mais ignóbil: a injustiça, a traição, o abandono; experimentou a morte, o sepulcro, a morada dos mortos. Assim se aventurou o nosso Rei até aos confins do universo, para abraçar e salvar todo o vivente. Não nos condenou, nem sequer nos conquistou, nunca violou a nossa liberdade, mas abriu caminho com o amor humilde, que tudo desculpa, tudo espera, tudo suporta (cf. 1Cor 13.7). Unicamente este amor venceu e continua a vencer os nossos grandes adversários: o pecado, a morte, o medo.
“Hoje, amados irmãos e irmãs, proclamamos esta vitória singular, pela qual Jesus se tornou o Rei dos séculos, o Senhor da história: apenas com a omnipotência do amor, que é a natureza de Deus, a sua própria vida, e que nunca terá fim (cf. 1 Cor 13, 8). Jubilosamente compartilhamos a beleza de ter Jesus como nosso Rei: o seu domínio de amor transforma o pecado em graça, a morte em ressurreição, o medo em confiança.
Mas seria demasiado pouco crer que Jesus é Rei do universo e centro da história, sem fazê-lo tornar-se Senhor da nossa vida: tudo aquilo será vão, se não o acolhermos pessoalmente e se não acolhermos também o seu modo de reinar”.
Por fim, que esta contemplação de Cristo Rei-crucificado possa mobilizar-nos para fazermos o mesmo. Os cristãos, pelo batismo, participamos da realeza de Cristo para que, com ele e como ele, entreguemo-nos pelos demais. E com nossa entrega, mostremos-lhes o caminho do Paraíso que por Jesus foi aberto para todas as pessoas de boa vontade.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Para mim, o que pressupõe que alguém seja rei, que tenha senhorio e poder?
2. Posso aplicar isso a Jesus? Ele é rei e usa o poder à moda do mundo?
3. Como ajo com o pouco ou muito poder que tenho sobre outras pessoas?
4. Aceito Jesus como Senhor de minha vida e Senhor da história?
5. Já experimentei a alegria de me esquecer de mim para servir aos demais?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, pelo paradoxo da cruz.
Obrigado pela vitória na ressurreição.
Que não me glorie se tenho poder sobre outros.
Que saiba esquecer-me de mim para servir a meus irmãos.
Que a alegria de humilhar-me seja mais forte do que os aplausos,
a riqueza, o reconhecimento.
Sê tu meu único dono, meu único Rei.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, quero que sejas meu Senhor; escolho-te como Rei de minha vida”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, proponho-me fazer um gesto concreto em prol de alguém que me é penoso. Nesta entrega silenciosa, proclamarei a realeza de Jesus em minha vida.
“A cada punhalada, José gritava: ‘Viva Cristo Rei!’”.
São José Sánchez do Rio, mártir
[1] Dom Damián Nannini é bispo da Diocese de San Miguel (Argentina); licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.