“Ele mesmo os servirá”
24 de outubro de 2017O fogo que divide (Lucas 12,49-53)
26 de outubro de 2017Evangelho: Lucas 12, 39-48
“Lembrem disto: se o dono da casa soubesse a que hora o ladrão viria, não o deixaria arrombar a sua casa. Vocês, também, fiquem alertas, porque o Filho do Homem vai chegar quando não estiverem esperando.
Então Pedro perguntou:
— Senhor, essa parábola é só para nós ou é para todos?
O Senhor respondeu:
— Quem é, então, o empregado fiel e inteligente? É aquele que o patrão encarrega de tomar conta da casa e de dar comida na hora certa aos outros empregados. Feliz aquele empregado que estiver fazendo isso quando o patrão chegar! Eu afirmo a vocês que, de fato, o patrão vai colocá-lo como encarregado de toda a sua propriedade. Mas imaginem o que acontecerá se aquele empregado pensar que o seu patrão está demorando muito para voltar. E imaginem que esse empregado comece a bater nos outros empregados e empregadas e a comer e a beber até ficar bêbado. Então o patrão voltará no dia em que o empregado menos espera e na hora que ele não sabe. Aí o patrão mandará cortar o empregado em pedaços e o condenará a ir para o lugar aonde os desobedientes vão.
— O empregado que sabe qual é a vontade do patrão, mas não se prepara e não faz o que ele quer, será castigado com muitas chicotadas. Mas o empregado que não sabe o que o patrão quer e faz alguma coisa que merece castigo, esse empregado será castigado com poucas chicotadas. Assim será pedido muito de quem recebe muito; e, daquele a quem muito é dado, muito mais será pedido.”
Reflexão:
Jesus é claro e aparentemente duro no Evangelho de hoje. Vamos, por isso, para iniciar nossa oração, pedir-lhe que uma atitude de abertura e acolhida tome lugar de qualquer resistência e medo em nosso coração.
A primeira metáfora que Jesus utiliza é a do ladrão. Surpreende-nos que ele a use para falar da sua chegada inesperada. A cada dia, quantas situações inusitadas e imprevistas nos acontecem! Como as vivemos? Será que apenas reclamamos, diante da perda do controle ou da mudança nos nossos planos? Ou somos capazes de reconhecer a manifestação do Senhor no meio delas? Outro dia eu tinha um compromisso no qual não queria chegar depois das 18h30. Então, procurei pela Internet uma missa às 16h30. Ao chegar lá, havia uma placa indicando que o horário seria às 17h. Além disso, um cartaz dizia que naquele dia haveria votos solenes de dois religiosos, ou seja, às 18h30 eu sequer teria saído da Igreja. Cheguei a cogitar desistir da missa. No entanto, senti que deveria ficar. E aí foi aproveitar aquele tempo que ainda teria que esperar para o início para abrir mão de fato, interiormente, dos meus planos e abrir o coração para a experiência que poderia vir dessa celebração rara em nossos dias.
Podemos fazer memória de situações pequenas como essa ou até maiores em que o mesmo nos foi pedido (se não soubermos viver no pequeno, não viveremos no grande, então é uma graça a pedir). Podemos lembrar até mesmo de fatos mais internos que externos, ou seja, de um sentimento inesperado, um medo, um susto nascido em nós a partir da conversa com alguém, de uma informação que chegou a nós, do posicionamento inesperado de uma pessoa próxima diante de uma decisão. Como nos preparamos para encontrar o Senhor também aí?
Ele mesmo nos dá a dica. Chama-nos a agir como servidores fieis e inteligentes, com uma atitude de prontidão e integridade. A pergunta “Quem é você quando ninguém está olhando?” nos é oferecida por Roberto Tranjan em seu livro Rico de Verdade, quando comenta sobre a virtude da integridade, pode ajudar-nos em nossa reflexão.
O que Jesus comenta no negativo no último parágrafo desse Evangelho, podemos compreender no positivo. Seu chamado a nós, a cada dia ou mesmo a cada situação, é discernir a vontade do Pai – o que devemos fazer pedindo a luz do Espírito –, preparar-nos para vivê-la (pela oração, pela experiência do Seu amor que nos capacita para isso) e colocá-la em prática, também pela força do Espírito, da união com Deus.
“Daquele a quem muito é dado, muito mais será pedido.” O medo pode nos levar até a querer receber menos diante disso. No entanto, não nos deixar ser movidos pelo medo, mas pela gratidão e pelo amor que o expulsa. Já recebemos muito. Só o fato de estar lendo essa reflexão agora mostra quantas oportunidades nos foram dadas na vida de aproximar-nos do Deus de amor, de conhecê-lo. Deus não ama mais a mim que a meus irmãos. As oportunidades que recebo são para serem partilhadas. E é isso que ele me pede. Ser responsável pelo que Ele me dá é responder com habilidade aos desafios de evangelizar, de levar uma palavra, um sorriso, uma mão estendida, uma presença a quem delas precisam. Ter olhos para ver nas situações do dia a dia – as programadas e sobretudo as inesperadas – a necessidade do outro e o Senhor que me chama aí.
Peçamos a Maria, que buscava o sentido em cada situação, que unia o disperso a partir da busca da vontade do Pai, que nos ensine a estar atentos e disponíveis a nosso Senhor, servindo-lhe em nossos irmãos no cotidiano da vida.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei