Comida que dura para sempre
16 de abril de 2018Buscadores do verdadeiro Amor
18 de abril de 2018Leitura: João 6, 30-35
Eles disseram:
— Que milagre o senhor vai fazer para a gente ver e crer no senhor? O que é que o senhor pode fazer? Os nossos antepassados comeram o maná no deserto, como dizem as Escrituras Sagradas: “Do céu ele deu pão para eles comerem.”
Jesus disse:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: não foi Moisés quem deu a vocês o pão do céu, pois quem dá o verdadeiro pão do céu é o meu Pai. Porque o pão que Deus dá é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
— Queremos que o senhor nos dê sempre desse pão! — pediram eles.
Jesus respondeu:
— Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede.
Oração:
As pessoas que seguiam Jesus, quando o viram, perguntaram o que ele faria para que cressem nele. Queriam saber que tipo de poder ele tinha, que habilidade poderia revelar, que tipo de ação poderia realizar, que tipo de bem poderia entregar-lhes. No dia anterior, tinham testemunhado a multiplicação dos pães (Jo 6, 1-15). Lembraram a Jesus que, no passado, seus antepassados tinham comido o maná dado por Deus para matar-lhes a fome enquanto caminhavam no deserto.
Jesus, que vê a fome inteira do povo, a que o povo sente e a que o povo sequer consegue nomear, responde: “Quem dá o verdadeiro pão do céu é o meu Pai. Porque o pão que Deus dá é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”. A multidão que o segue interessa-se por aquilo que ele diz. Antes, tinham provado do pão de sempre, e lembraram do maná do deserto, mas Jesus, naquele momento, falava de um “pão verdadeiro”, que Deus, de quem se dizia Filho, poderia dar. Cada uma daquelas pessoas ouve e decide: “Queremos que o senhor nos dê sempre desse pão”. No dia anterior, tinham recebido um tipo de pão. Agora, pediam a Jesus que lhes desse sempre daquele pão que, embora não tivessem provado, já queriam, pois confiavam naquilo que dizia Jesus… ele estava falando do “verdadeiro pão do céu”.
Então Jesus faz declaração que deve ter causado perplexidade. Eu sou o pão da vida. As pessoas estavam pensando num tipo de pão diverso porque ele havia falado do “pão verdadeiro”, mas provavelmente pensavam num pão real, esse que se pega com as mãos, que se parte e se come, que se guarda na bolsa. Jesus afirma que o “verdadeiro pão” é ele mesmo. Ele é o pão da vida. O pão que desce do céu. O pão que o Pai entrega à humanidade.
João conta-nos, adiante em seu evangelho, que os judeus então acharam estranhíssimo o que ouviram. “Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos?” – murmuravam (Jo 6, 42). De nós, nascidos depois da ressurreição de Jesus, talvez se espere menos estranhamento, pois a nos ajudar estão a teologia, os santos e todos que, de alguma forma, traduziram as palavras de Jesus. Mas à oração, cujo terreno é o coração, não bastam os raciocínios e os conhecimentos teológicos. Na conversa com a Trindade há sempre espaço para a perplexidade, para o estranhamento, para a dúvida, para o desentendimento, para a surpresa… assim, na oração, tentemos ouvir Jesus novamente: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede.” Eu entendo o que ele me fala? O que sinto quando ouço essa declaração? Creio? Duvido? Acho estranho?
Agora que ouvimos a declaração de Jesus, conversemos com ele. Talvez queiramos dizer: “Senhor, eu ainda tenho muitas fomes… por dentro, há um vazio… sinto que preciso de algo que seja energia perene em mim… Você, que é o pão verdadeiro, entregue-se a mim.” Talvez queiramos falar assim: “Senhor, eu ainda tenho sede… há faltas que eu nem sei nomear, há securas na boca da alma que eu não sei de onde vêm… Você, que é o pão verdadeiro, que é fonte de água viva, entregue-se a mim.” No resto do tempo de oração, olhemos para as nossas fomes, as nossas sedes, essas que estão mais escondidas, as mais profundas. Tentemos nomear. Tentemos identificar. Sentados com essas fomes e sedes à mesa, apresentemos a elas o pão verdadeiro, que está sobre a mesa, servido e sem jamais faltar. Servido, servidor e servo. Palavra e pão servidos na encarnação.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte