“As revelastes aos pequeninos”
15 de julho de 2015“Aqui está quem é maior do que o Templo”
17 de julho de 2015Leitura: Mateus 12,46-50
Naquele tempo, enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: ‘Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo.’ Jesus perguntou àquele que tinha falado: ‘Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?’ E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.’
Oração:
Hoje e amanhã a Palavra nos convida a rezar com o Jesus “transgressor”. O Jesus que, para cumprir a vontade do Pai, se indispôs com os judeus do seu tempo. O Jesus que, ao dar novo sentido a alguns dos dez mandamentos, colocou-se como Filho, como Deus, e, portanto, “blasfemou”. O Jesus que, para revelar o sentido verdadeiro e último do que o Pai falara desde os profetas, correu o risco de ser morto, e morreu.
A lei do povo de Deus mandava que se honrasse pai e mãe (Ex 20, 12). Os dez mandamentos eram leis que visavam à orientação espiritual e também social do povo judeu. Não se tratava apenas de um conjunto de regras morais, mas uma forma de organizar a sociedade fiel. O quarto mandamento era, nesse sentido, um conselho de Deus para que o povo se organizasse em famílias, para que assim fosse feliz.
“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” – essa pergunta de Jesus, que sabia muito bem quem era sua mãe e quem eram seus irmãos, é apenas uma fala para desestabilizar aqueles que o ouviam. O aparente cinismo chama a atenção para a reposta inesperada que vem: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade do meu Pai, que está no céu, esse é o meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
A resposta de Jesus para sua própria pergunta está longe de revelar qualquer descaso com seus familiares. Tampouco é desconsideração com o quarto mandamento. É, na verdade, ampliação do significado desse mandamento, a fim de revelar com mais clareza algo que está no cerne da história da salvação: sua vocação à universalidade. O Deus dos profetas quis formar um povo, porém, no fundo, esse povo nunca foi apenas uma família entre os homens, mas toda a humanidade. Jesus, nessa passagem, diz para todos: o Pai é de todos, eu sou irmão de todos, a casa e o banquete é de todos… todos que queiram ouvir o Pai.
Essa mensagem, além de falar da universalidade dos homens à qual a Palavra se dirige, faz entrever algo da natureza de Jesus. Só pode ampliar o sentido de uma lei quem legisla ou quem é vocacionado a aplicá-la e cumpri-la. Isto é, se Jesus não fosse divino como Quem deu os mandamentos, seria apenas um transgressor. Porque é uma das pessoas da Trindade, é também legislador e juiz com o Pai.
Que a nossa oração nos leve a examinar nossa consciência, a vivência de nossas comunidades e a da Igreja. Que não digamos não àqueles que querem conosco formar fraternidade. Que não sejamos nós a restringir o propósito amplo que Deus tem de ser Pai. E que o propósito de fazermos sua Vontade nos una todos sob o teto da mesma casa.
João Gustavo H. M. Fonseca, graduando em Direito na UFMG e membro da Família Verbum Dei de Belo Horizonte