Senhor do sábado (Lucas 6,1-5)
6 de setembro de 2014Natividade de Maria e a nossa (Mateus 1, 1-16, 18-23)
8 de setembro de 2014PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
“Vem, ó Santo Espírito!
Ilumina meu entendimento, para conhecer teus mandatos.
Fortalece meu coração contra as armadilhas do inimigo.
Inflama minha vontade…
Ouvi tua voz e não quero endurecer-me nem resistir, dizendo: ‘depois…, amanhã…’
Agora! Pois pode acontecer que o amanhã me falte.
Oh, Espírito de verdade e de sabedoria, Espírito de entendimento e de conselho,
Espírito de alegria e de paz!
Quero o que quiseres, quero porque o queres
quero como quiseres, quero quando quiseres…”.[1]
TEXTO BÍBLICO: Mateus 18.15-20
O irmão que peca
15— Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre-lhe o seu erro. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois. Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão.16Mas, se não ouvir, leve com você uma ou duas pessoas, para fazer o que mandam as Escrituras Sagradas. Elas dizem: “Qualquer acusação precisa ser confirmada pela palavra de pelo menos duas testemunhas.”17Mas, se a pessoa que pecou não ouvir essas pessoas, então conte tudo à igreja. E, se ela não ouvir a igreja, trate-a como um pagão ou como um cobrador de impostos.
O poder de permitir e de proibir
18— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o que vocês proibirem na terra será proibido no céu, e o que permitirem na terra será permitido no céu. 19E afirmo a vocês que isto também é verdade: todas as vezes que dois de vocês que estão na terra pedirem a mesma coisa em oração, isso será feito pelo meu Pai, que está no céu. 20Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com eles.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Padre Fidel Oñoro CJM
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Com que intenção se deve falar a sós com quem faz algo mau? Se ele não der ouvidos, o que se deve fazer? E se continuar a não fazer caso, a quem se deve informar? O que acontece com o que se proíbe e se permite na terra? O que acontece quando duas pessoas se põem de acordo para pedir algo a Deus? Onde está Jesus quando dois ou três se reúnem em seu nome?
Algumas considerações para uma leitura proveitosa…
Ao fazer a “Lectio” destes textos, recordemos que o que mais interessa a Jesus em suas instruções – de acordo com o evangelista Mateus – é inculcar princípios de vida, dos quais se segue imediatamente toda uma série de atitudes e comportamentos.
No texto de hoje, Mt 17.15-20, Jesus diz-nos como enfrentar situações difíceis na vida comunitária, particularmente quando se sabe que um irmão “chega a pecar”, levando uma vida fora dos critérios de vida de um discípulo de Jesus.
- A pressuposição: a comunidade sente-se responsável por cada um dos irmãos (18.12-14). Em Mateus, há uma pequena diferença em relação ao evangelho de Lucas neste ponto. Em Lucas, o bom pastor é Jesus que busca apressadamente sua ovelha perdida (cf. Lc 15.4-7). Mateus, por sua vez, confere um enfoque comunitário à parábola: toda a comunidade é responsável por cada um de seus irmãos.
- Como se faz a recuperação do irmão que cai em pecado (18.15-17). Depois de anunciar o princípio geral, que fazer quando nos inteiramos de que um irmão está em uma vida de pecado? No texto, a primeira coisa que é lembrada é que se trada de um “irmão” e deve continuar a ser tratado como tal; por esta razão, repete-se a expressão “seu irmão” (18.15). Em seguida, descreve-se o caminho recomendado para que um pastor reconduza a ovelha à sua casa. Não percamos de vista que o que se busca, antes de mais nada, é sua salvação: “Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão” (18.15b). No entanto, a experiência mostra que há casos difíceis, que resistem à conversão: trata-se daqueles que se fazem de surdos (observar a repetição do termo “escutar” ao longo do texto). Propõe-se, então, o caminho da paciência e da firmeza comunitárias.
- A prudência nas decisões da comunidade com relação às pessoas (18.18). O v. 18 dá a entender que com uma pessoa que intencionalmente persiste em sua situação de pecado, pode-se chegar à mais dolorosa e drásticas das decisões: a excomunhão, ou seja, deixará de considerado “irmão” na comunidade. Contudo, chama a atenção que agora Jesus se volta para as pessoas encarregadas de tomar esta decisão: de acordo com esta passagem, a comunidade inteira é que tem o poder de “ligar e desligar”.
- A comunhão na oração como expressão da solidariedade em todos os aspectos da vida (18.19-20). É a presença de Cristo em meio à sua Igreja que dá valor e peso a suas decisões. Isto é o que agora se aprofunda: quando a comunidade está bem unida e compacta em uma mesma fé, acontece nela o que o Antigo Testamento chama de “Shekináh”, ou seja, ela torna-se o espaço habitado pela glória do Senhor, que para nosso caso, é o Senhor Ressuscitado. A unidade da comunidade expressa a comunhão perfeita com Jesus vivo no meio dela.
Chama a atenção que em uma comunidade assim, a solidariedade é tamanha entre os irmãos, que todos são capazes de pedir o mesmo (“todas as vezes que dois de vocês que estão na terra pedirem a mesma coisa em oração” – 18.19), renunciando a seus interesses pessoais, os quais normalmente afloram na hora de fazer pedidos.
Em uma comunidade que chega a este nível profundo de solidariedade, tendo um mesmo “sentir” intenso, podem ressoar com força as palavras de Jesus: “Eu estou ali com eles” (18.20). Esta, sim, é uma verdadeira comunidade!
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
O Papa Bento XVI, em Castelgandolfo, durante o Angelus do Domingo, dia 4 de setembro de 2011, fez a seguinte reflexão da Palavra:
“O texto do Evangelho, tirado do capítulo 18 de Mateus, dedicado à vida da comunidade cristã, diz-nos que o amor fraterno exige também um sentido de responsabilidade recíproca, pelo que, se o meu irmão comete uma falta contra mim, devo usar de caridade para com ele e, antes de tudo, falar-lhe pessoalmente, recordando-lhe que quanto disse ou fez não é bom. Este modo de agir chama-se correção fraterna: ela não é uma reação à ofensa de que se foi vítima, mas é movida pelo amor ao irmão. Santo Agostinho comenta: ‘Aquele que te ofendeu, ao ofender-te, causou em si mesmo uma ferida grave, e não te preocupas tu pela ferida de um teu irmão? … Deves esquecer a ofensa que recebeste, mas não a ferida de um teu irmão’” (Discursos 82, 7)…
“Outro fruto da caridade na comunidade é a oração concorde. Jesus diz: «Se dois de entre vós se unirem, na terra, para pedir qualquer coisa, obtê-la-ão de Meu Pai que está nos céus. Pois onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 19-20). Certamente a oração pessoal é importante, aliás, indispensável, mas o Senhor garante a sua presença à comunidade que — mesmo se for muito pequena — está unida e é unânime, porque reflete a própria realidade de Deus Uno e Trino, comunhão perfeita de amor. Orígenes dizia que «nos devemos exercitar nesta sinfonia» (Comentário ao Evangelho de Mateus 14.1), ou seja, nesta concórdia no âmbito da comunidade cristã. Devemos exercitar-nos quer na correção fraterna, que exige muita humildade e simplicidade de coração, quer na oração, para que se eleve a Deus de uma comunidade deveras unida em Cristo. Peçamos tudo isto por intercessão de Maria Santíssima, Mãe da Igreja”. [2]
Agora perguntemo-nos:
Você teve a oportunidade de ser corrigido a sós? Conseguiu revisar e fazer uma mudança em sua vida? Você chegou a corrigir seu irmão diante dos dois ou mais? Como reagiu esse irmão? Você rezou antes de falar com ele? Você reza profundamente em comunidade ou se dispersa facilmente? Isto afetará a oração comunitária?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Dá-nos a graça do amor fraterno:
que uma corrente sensível, cálida e profunda perpasse nossas relações,
que nos compreendamos e nos perdoemos;
nos estimulemos e nos celebremos como filhos de uma mesma mãe;
que não haja em nosso caminho obstáculos nem bloqueios,
senão que sejamos abertos e leais, sinceros e afetuosos
e assim cresça a confiança em todos os irmãos. Amém.[3]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Senhor, obrigado porque não estamos sozinhos,
e com nossos amigos, crescemos
e caminhamos juntos para ti.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Com meu melhor amigo, dialogarei a respeito do que, em minha opinião, deve melhorar; ademais, pedir-lhe-ei que me diga algum erro que cometi e me dedicarei à tarefa de emendar-me. Em seguida, rezaremos juntos, agradecendo a Jesus por estar em meio à nossa amizade.
“Então, dou-lhes um breve preceito: ame e faça o que quiser. Se você se calar, cale-se com amor; se gritar, grite com amor; se corrigir, corrija com amor; se perdoar, perdoe com amor. Se tiver amor enraizado em você, nenhuma coisa senão o amor serão os seus frutos”.
Santo Agostinho
[1] Oração escrita por São José Maria Escrivá, sacerdote espanhol, Fundador do Opus Dei.
[2] http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/angelus/2011/documents/hf_ben-xvi_ang_20110904_sp.html
[3] Padre Inácio Larrañaga, sacerdote franciscano, capuchinho de origem espanhola. Criou as Oficinas de Oração e Vida.