Segunda-feira, 24/02/2014 – Confiança plena no Pai (Mc 9,14-29)
24 de fevereiro de 2014Quem promove a vida é a favor do Senhor (Mc 9, 38-40)
26 de fevereiro de 2014“Partindo daí, Jesus e seus discípulos atravessavam a Galiléia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava, porque estava ensinando seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue na mão dos homens, e eles o matarão. Mas, quando estiver morto, depois de três dias ele ressuscitará.”
Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer perguntas.
Quando chegaram à cidade de Cafarnaum e estavam em casa, Jesus perguntou aos discípulos: “Sobre o que vocês estavam discutindo no caminho?” Os discípulos ficaram calados, pois no caminho tinham discutido sobre qual deles era o maior.
Então Jesus se sentou, chamou os Doze e disse: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos.”
Depois Jesus pegou uma criança e colocou-a no meio deles. Abraçou a criança e disse: “Quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas àquele que me enviou.””
Tomemos o início e o final deste trecho do Evangelho e deixemos que o chamado do Pai feito em Jesus ressoe em nossas vidas. A entrega e a acolhida, como que duas faces do mesmo amor generoso. Contemplando a vida de Jesus, percebemos uma acolhida imensa do amor do Pai e do desejo do Seu coração, a vida plena de todas as pessoas. Acolhida a tal ponto da unidade: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30).
Acolhendo o Pai, Jesus acolhe todos os amados do Pai, cada pessoa que lhe é confiada no caminho da sua vida. Acolhe e por ela – por mim, por você – se entrega em cada gesto de perdão, de espera, de busca, de compreensão, de ensinamento, de cura, de envio, até a entrega máxima: “Tendo amado os seus, amou-os até o fim”. Entrega que aqui Ele anuncia aos discípulos, ensinando a sós, desejando que eles compreendam com o coração para segui-lo também por este caminho, o caminho do amor ao qual todos nós somos chamados. E neste tempo de preparação para iniciarmos a Quaresma, mais ainda se dirige a nós estas palavras: “Este é o caminho. Qual a sua opção? Quer me seguir por aí?”
Neste ponto entramos direto na parte central desta passagem: os discípulos não compreenderam. Por que não? Porque seu coração estava em outra. Hoje diríamos: “em outra vibe”. “No caminho tinham discutido sobre qual deles era o maior.” Colocado assim, nesta passagem, na sequência do anúncio de Jesus de sua maior entrega, parece absurdo. E é, se olharmos o sentido da palavra “absurdo”, que é “completamente surdo”, o contrário da obediência (ob-audire), a escuta – que é a acolhida. Quem acolhe entra no caminho da entrega. Será que acolhemos o chamado de Deus no nosso dia a dia, ou será que na vida também somos completamente surdos?
Dificilmente nos veremos numa situação de discutir diretamente: “Eu sou maior que você”, “eu sou melhor que você”, de pronunciar estas palavras. Mas, indiretamente, não nos vemos com frequência em situações com este pano de fundo? Estamos passando por um momento difícil na empresa em que trabalho, no qual todo o sistema administrativo-financeiro precisa ser revisto e são necessários cortes nos gastos. Por um lado, a equipe se uniu mais à causa e cada um na sua área tem criado mecanismos para contribuir com o todo. Por outro, começam as resistências: um avisa sobre o novo processo na cozinha, o outro começa: “Mas esta não é a maneira de resolver”; um inventa algo para o estacionamento, aparece outra murmuração: “Mas assim fica difícil para mim”. Por trás destes comentários bem mais “normais”, cotidianos para nós, podemos encontrar: “Eu faria melhor que você”, “minhas ideias são maiores que as suas.”
Jesus não condena o nosso desejo de “mais”, mas nos indica o caminho do serviço: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos.” Com isso Ele não quer dizer para servir com a segunda intenção de aparecer, de ser reconhecido como “o mais humilde”, “o mais bonzinho”. Ele vai à raiz mais profunda da sede que temos e nos mostra seu mesmo caminho, que abre a fonte de vida, em lugar de gerar ainda mais sede, bebendo do que não sacia.
Jesus, que se identifica com o Pai, se identifica também com cada pessoa com que topamos no caminho da vida: “Quem receber
em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas àquele que me enviou.”. Quem escolhe o caminho do serviço, por amor, escolhe o Seu abraço, escolhe tudo, “a fonte de água que jorra para a vida”.
Peçamos a Maria que nos ajude, em nosso desejo de “sempre mais”, escolher não qualquer coisa, mas o tudo, tendo a sabedoria de abraçar a acolhida, o serviço e a entrega como nos são propostos em cada momento do nosso cotidiano.
Tania Pulier, comunicadora social. Membro da Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner.